Como em outras áreas da vida em sociedade, a intolerância vem tomando conta do futebol. Não se tem notícia de tantas manifestações preconceituosas no estádios como em 2005. Uma disseminação que preocupa e já provoca alguma ligeira reação.
A preocupação com o tema faz parte da cartilha da organização da Copa do Mundo do próximo ano tanto quanto o terrorismo. Funcionários estão sendo treinados para identificar e tratar com rigor manifestações discriminatórias. O slogan do evento na Alemanha "O mundo é recebido por amigos" já mostra o tom.
Na tentativa de afetar o desempenho dos jogadores adversários, alguns torcedores usam de artifícios racistas: dançam e fazem sons imitando macacos e gritam insultos à cor da pele dos atletas.
Uma das cenas mais deprimentes ocorreu no dia 27 de novembro. Nascido na Costa do Marfim, o atacante Marc Zoro ficou revoltado com cânticos ofensivos durante a partida de seu time, o Messina, contra a Inter de Milão, pelo Campeonato Italiano.
Revoltado, o atleta africano pegou a bola do jogo e ameaçou abandonar o duelo. Foi demovido da idéia por atletas da Inter (entre eles o brasileiro Adriano), que ainda pediram desculpas pelo comportamento do público.
Zoro, de 21 anos, continuou em campo. Mas chorou. Disse que sempre ouve insultos de intolerância racial e que não suportou ter de ouvir os abusos dentro do estádio de seu próprio time. "Eu só quero respeito", falou, consternado.
O combate à prática de discriminação tem sido inversamente proporcional à intensidade e freqüência com que esses atos vêm se disseminando, especialmente pela Europa. Depois do caso em Messina, a Federação Italiana promoveu um protesto na rodada seguinte. Todos os jogos começaram cinco minutos atrasados e os times entraram em campo com uma faixa dizendo não ao racismo. Parece pouco.
Na Espanha, os brasileiros Ronaldo e Roberto Carlos, do Real Madrid, e Fredson, do Espanyol, também viveram momentos de indignação. Dia 30 de janeiro, o lateral recebeu ofensas de seguidores do La Coruña. O castigo foi uma multa de irrisórios US$ 786. Já o Fenômeno acabou hostilizado no dia 20 de março por integrantes da torcida Ultra Sur de ideologia neonazista. Além de bater-boca com os torcedores, o atacante atirou uma garrafa plástica na arquibancada ao ser substituído de campo. Depois, pediu desulpas pela explosão de raiva.
O Espanyol, de Frédson, teve pelo menos dois episódios de racismo. Um contra o Atletico de Madri e outro contra o Málaga. Nesse último, a partida chegou a ser paralisada pelo árbitro devido às ofensas contra o goleiro camaronês Kameni.
Para o volante Emerson, é preciso um esforço coletivo para que o racismo seja banido do futebol. "Esta situação está ficando insustentável. É preciso união de todas as classes que fazem parte do futebol para que isso acabe", falou.
"A solução que vejo a curto prazo é punir severamente os clubes que tiverem torcedores agredindo os adversários só porque são negros. Sei que os clubes não são culpados, mas a perda de mando de campo, por exemplo, será um castigo para aqueles que vão aos estádios apenas para xingar", continuou
O brasileiro ficou indignado com o tratamento dado ao companheiro de Juventus, o francês Patrick Vieira. "Foi triste ver um profissional correto como ele sendo hostilizado daquela maneira pela torcida da Fiorentina. Brancos ou negros, somos todos irmãos", completou.
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