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Sidnei (dir.) acompanha o jogo ao lado do cunhado Luís Gonçalves, da sogra Zélia Gomes Gonçalves e dos filhos: família unida para torcer pelo sucesso da seleção de Dunga | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Sidnei (dir.) acompanha o jogo ao lado do cunhado Luís Gonçalves, da sogra Zélia Gomes Gonçalves e dos filhos: família unida para torcer pelo sucesso da seleção de Dunga| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Modernidade

Tecnologia chega atrasada à casa dos Neves

Além de Neves, as novas tecnologias também impressionaram outros membros da família. Gonçalves, por exemplo, já havia inclusive ouvido falar sobre tevê digital. "Eu tinha visto a propaganda na televisão, mas na vida real nunca vi", conta.

Já entre as crianças, o vídeo­game era o tópico tecnológico. Porém, nada relacionado a Playstation ou Wii, como relata Rafael Gonçalves das Neves, de 10 anos. "Temos um Super Nintendo que tem encaixe para quatro consoles", conta, orgulhoso, completando a informação depois. "Só que só temos um controle. Tem de revezar".

O assunto entre as crianças, inclusive, surgiu durante o jogo entre Brasil e Portugal por causa de mais uma inovação desta Copa do Mundo: a câmera presa por cabos de aço, que fica em cima do campo. Ao observar a imagem, onde os jogadores parecem pinos, Rafael comentou: "No nosso vídeo­game é assim".

Mas, durante toda a presença da reportagem no local, o que mais chamou a atenção dos adultos e, principalmente, das crianças foi a máquina digital do repórter fotográfico Jonathan Campos. Praticamente a cada flash, os meninos corriam para ver a imagem, que por "mágica" aparecia instantaneamente no visor.

Nesta Copa do Mundo nunca a tecnologia esteve tão em evidência. É transmissão em alta definição, testes em três dimensões, câmera sobrevoando o campo e câmera superlenta. Mesmo assim, para uma grande parcela da população brasileira, o Mundial é o mesmo de anos atrás: uma televisão 14 polegadas e muita torcida.

É o caso do catador de papel Sidnei Soares das Neves, de 29 anos. Pai de três crianças – duas com algum grau de deficiência mental, problema semelhante ao da esposa –, Neves se sustenta com um salário de R$ 200, além de R$ 120 do Bolsa Família. ­Com isso, o morador da Vila das Torres, em Curitiba, vive em quatro cômodos, totalizando cerca de 20 metros quadrados, na esperança de que um dia chegue a sua vez na fila da Cohab.

Mesmo assim, inovações chamam a atenção do papeleiro. "Eu gosto de tecnologia. Fiz até um curso de informática. Tem de ser atualizado", garantiu Neves, contando que já ouviu falar em televisão de alta definição, a HD. "Eu vi por foto, por ilustração. Chamou a atenção a qualidade."

O avanço tecnológico que o catador de papel almeja, porém, é bem mais simples. E passa pelo fato de ter conseguido um computador. "Eu quero colocar internet aqui. Eu sei mexer e é bom para educar as crianças. Todos os vizinhos têm. Por que o Sidnei não?", indagou, em terceira pessoa.

Não é só a falta de internet que diferencia a família Neves dos vizinhos. Mesmo em um lugar de baixa renda como a Vila das Torres, a miséria destes brasileiros é assustadoramente maior do que a dos companheiros de bairro. Por todo o lado do terreno, entre restos recicláveis, muitos entulhos e sujeira, gerando um cheiro característico.

Entre casas de alvenaria da vila está o barraco de Sidnei, que fica ao lado da casa de compensado e madeira da sogra, Zélia Gomes Dias Gonçalves. Essa residência é maior, com cerca de 64 metros quadrados, divididas também em quatro cômodos.

A senhora de 57 anos abriga mais dois filhos, sendo que Luís Carlos Gonçalves, o mais velho, sofre de dois problemas: uma deficiência mental leve e uma paralisação de uma das pernas, fruto de intervenções médicas somadas ao abuso de álcool. A renda, cerca de mil reais, é fruto das pensões que Zélia e Gonçalves recebem.

Para assistir à partida entre Brasil e Portugal, na última sexta-feira, a maioria da família se reuniu no quarto de Gonçalves, um dos maiores cômodos. Nele, entre quadros religiosos, como de São José, padroeiro dos trabalhadores e da família, estava uma das três tevês das casas, tendo perto de 20 anos de idade, mas com ótima imagem. A reportagem da Gazeta do Povo acompanhou todo o jogo ao lado deles, quando, mesmo com todas as dificuldades, destacou-se a hospitalidade dos moradores. Tanto que, no fim, a única reclamação de todos foi do futebol apresentado naquele dia na África do Sul.

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