Passo a passo
Para deixar a rua do seu bairro com cara de Copa do Mundo é preciso atender a algumas exigências.
- Qualquer modificação urbanística, aí engloba pinturas de árvores, pontos de ônibus e calçadas, necessita de aprovação da Secretaria de Urbanismo. O órgão da prefeitura de Curitiba exige um protocolo com um resumo explicativo das modificações pretendidas, que pode ser aprovado ou não.
- Outro cuidado indispensável, antes de gastar dinheiro com tinta, faixas e bandeiras, é entrar em contato com a Diretoria de Trânsito (Diretran-PR), pois qualquer tipo de enfeite que bloqueie o trânsito, seja na calçada, na rua ou ciclovia, precisa de autorização do órgão. Os interessados precisam encaminhar uma solicitação descritiva das alterações. Neste caso, os pedidos podem ser aprovados ou não.
- Por fim, a Diretran alerta que não é permitido pintura ou algo que atrapalhe a sinalização no asfalto (bandeiras do Brasil pintadas no asfalto, por exemplo) ou em placas de sinalização. A Copel também pede que as pessoas evitem utilizar enfeites nos fios de luz. O objetivo principal é evitar acidentes no momento da colocação desses materiais.
A 37 dias do início da Copa do Mundo, quase nada em Curitiba remete ao evento esportivo da Fifa exceção às lojas, que vendem cornetas e adereços ou pegam carona no boom comercial do torneio de futebol. Mas existe um lugar na cidade que foge ao lugar-comum econômico.
A Rua Benedito Correia de Freitas, no bairro Abranches, segue a tradição da "corrente pra frente" em torno da seleção brasileira. As árvores na calçada, o meio fio, os muros e os telhados dos vizinhos, nada escapa do espírito patriótico que toma conta do local. Até o ponto de ônibus, da linha Mateus Leme, ganhou tons em verde e amarelo.
A responsável pela tradição de colorir a paisagem urbana a cada quatro anos é a moradora Silmara Iglesias. Trabalho que deu sorte na conquista do tetra em 1994 e se repete desde então.
De acordo com a Diretoria de Trânsito (Diretran-PR) e Secretaria Municipal de Urbanismo, órgãos responsáveis por liberar tais modificações nas ruas, a região é o único espaço da cidade já "fardado" para a Copa. No resto, a tradição morreu.
A vizinhança aprova a iniciativa. "Ela inventa de tudo. Ninguém reclama das coisas que ela cria. Na semana que vem ela vai pintar o muro aqui da minha casa. Vai ficar bom", diz acreditar o técnico em refrigeração Ialtamir Matoso, morador da "rua canarinho" há 30 anos.
Segundo ele, Silmara sai em busca das doações para comprar a tinta e os materiais de pintura. Também organiza o mutirão dos amigos e as filhas e define onde serão colocados os adereços. "Se fosse uma artista, ela seria uma celebridade", exagera Matoso, lembrando do tempo em que a torcedora número 1 da seleção vendia cachorro-quente pelo bairro pilotando uma jog equipada com uma sirene para chamar a atenção.
Ainda há muito trabalho pela frente até o começo da Copa. Bandeirinhas serão penduradas nos postes, um telão será instalado na casa de Silmara para que a rua possa assistir unida aos jogos do time de Dunga.
A dona de casa Maria de Souza da Silva, que mora em frente à sede da torcida brasileira, conta os dias para o início da disputa na África do Sul. "Você precisa ver nos dias de jogos. Isto aqui vira uma festa só", promete, empolgada.
A mentora da decoração divide o mérito: "Os vizinhos me acham maluca, mas essa é a quinta Copa que eu faço isso. Consegui ajuda dos comerciantes da região para enfeitar a rua", explica Silmara Iglesias, 44 anos.
"Eu amo futebol, assisto a todos os jogos da seleção. Confio no time, mas eu estou me preparando mesmo para a Copa de 2014, que será no Brasil. Terminei de pintar os muros às 19 horas de ontem (terça-feira). Neste ano estou fazendo tudo sozinha, a turminha que me ajudou na Copa passada cresceu", brinca Iglesias, que é coxa-branca, mas trabalha para a empresa de segurança que presta serviço ao Atlético.
Silmara garante que a prefeitura não vê problema na iniciativa. "Até mudam o trajeto do ônibus (Mateus Leme) para a gente fechar a rua em dias de jogos."
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