A Copa do Mundo de Nelson Mandela começa nesta sexta-feira, às 11 horas (de Brasília), no Soccer City, em Johannesburgo. África do Sul e México terão a honra de inaugurar o primeiro Mundial no continente mais pobre do planeta.
É assim que pensam os sul-africanos, especialmente os negros. Para eles, não há dúvida: só há Copa por causa de Madiba, que é como o ex-presidente é conhecido no país. "Sem ele isso não existiria. É o nosso deus", resume, empolgado, o estudante Frederick Lungile Motha.
O "deus" dos Bafanas, perto de completar 92 anos, deve acompanhar in loco ao menos parte do projeto que idealizou em mais de 50 anos de luta contra a segregação racial no país. Negros e brancos confraternizando juntos na arquibancada, em uma das maiores competições esportivas do mundo a presença na tribuna de honra foi confirmada por seu neto, Nkosi Zwelivelile Mandela.
Assim sonhou Mandela. Assim acontecerá hoje, data mais do que especial na vida do ícone pacifista.
O dia 11 de junho é histórico para o ex-presidente. E para a África do Sul. Em 1964, o "revolucionário" foi preso ao lado de outras sete pessoas. Não houve perdão por parte da corte de Rivonia para a suposta tentativa de sabotar o poder constituído, totalmente favorável aos africâneres (brancos).
O desfecho era mais do que previsível. Mandela e seu grupo acabaram condenados à prisão perpétua. Inicialmente o líder negro passou 18 anos na fria Ilha Robben, na região da Cidade do Cabo. Permaneceria ainda mais oito temporadas em Pollsmor, de onde sairia apenas em 1990 após muita negociação e um lobby que envolveu praticamente o mundo inteiro.
Pressão que resultou em outro 11 de junho emblemático. Uma extensa lista de personalidades se reuniu em Londres, no lendário Estádio de Wembley, em 1988, para celebrar o show "Free Mandela", cobrando das autoridades a liberdade imediata do sul-africano.
A presença do Madiba no suntuoso camarote presidencial do Soccer City garante também uma dose extra de motivação no time de Carlos Alberto Parreira na quarta-feira cerca de 200 mil pessoas saíram às ruas de Johannesburgo para saudar os Bafanas. Foi misturando seu carisma com um inegável poder de convencimento que Mandela virou peça importante na conquista do primeiro título mundial de rúgbi dos Springboks, em 1995. Na ocasião, Mandela desceu ao campo do Ellis Park (estádio em que a seleção brasileira estreia na Copa, terça-feira, contra a Coreia do Norte) para cumprimentar cada um dos sul-africanos. E pressionar os rivais neozelandeses.
Os Bafanas Bafanas terão tratamento um pouco diferente. A saúde do Madiba não permite mais exaltações. O encontro motivacional ocorreu há uma semana. De lá saíram as palavras de ordem, mantidas em segredo. A exceção foi aberta ontem, para receber em casa o técnico português Carlos Queiroz e o astro Cristiano Ronaldo. Conversa rápida.
Sem Mandela, a tarefa de motivador sobrou para Parreira. "Nos sentimos orgulhosos por poder fazer parte deste momento. Ajudar, com a força do futebol, a unir este país", afirmou o treinador. "O trabalho foi intenso, pesado. Estamos preparados e com muita vontade de empurrar os Bafanas", emendou o capitão Aaron Mokoena, um negro que viu de perto o seu deus reescrever a história do país.
Ao vivo
África do Sul x México, às 11 horas, na RPC TV, Band, BandSports, SporTV e ESPN Brasil. Acompanhe também todas as informações pela transmissão interativa da Gazeta do Povo em www.gazetadopovo.com.br/copa.
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