"Nós somos o mundo!" As palavras de Desmond Tutu, mais ou menos no meio do show de abertura da Copa do Mundo, contagiaram o estádio inteiro, mais até do que quando Black Eyed Peas ou Shakira se apresentaram. Simplesmente porque é a pura verdade.
Sul-africanos misturados a brasileiros, mexicanos, portugueses, moçambicanos, japoneses... Eles desciam as arquibancadas, caminhavam de um lado a outro e, quando não conseguiam se entender, às vezes simplesmente diziam, levantando o copo de cerveja: "football". Era uma espécie de senha.
Assim como Tutu, ganhador do Nobel da Paz de 1984 dançou sem cerimônia no palco do Orlando Stadium, a música, ontem, serviu para aproximar e esquentar as cerca de 36 mil pessoas que foram ao bairro pobre na noite fria de Johannesburgo cerca de 10°C.
"Isso foi a melhor coisa que podia nos acontecer", dizia Ricki Modibe, tranças nos cabelos e um cartaz à mão para mostrar a quem parecesse não ter a mesma nacionalidade dele: "Você faz Johannesburgo ótima", estava escrito.
A festa teve a participação de músicos e personalidades mundiais. Além de Tutu, Franz Beckenbauer, Sócrates, Joseph Blater e Jacob Juma, presidente do país. O momento mais curioso ocorreu quando o ex-capitão dos Bafana Bafana, Lucas Radebe, subiu ao palco. Ouviu-se o que parecia ser uma estrondosa vaia. Era uma homenagem a "Roo", como ele era conhecido na época de jogador. Atualmente, ocorre o mesmo com o zagueiro Booth nos dias de jogo.
Entraram as personalidades, os torcedores, mas ficaram de fora as vuvuzelas, principal marca da Copa sul-africana. A Fifa proibiu o brinquedo barulhento sem aviso prévio, decepcionando quem esperava entrar com a corneta e também quem desejava lucrar vendendo o item do lado de fora. Muitos garotos pobres do Soweto, em busca de um trocado, estavam entre os vendedores frustrados.
A festa não era para todos. Os ingressos para o show variavam de 400 rands (R$ 100 reais) até 1,4 mil rands (R$ 350). Os mais baratos, na pista. Os mais caros, nas arquibancadas. Havia bastante gente do lado de fora. Também cambistas, que vendiam os passes com pouco ágio, às vezes nenhum. Provavelmente isso explica alguns espaços livres no gramado.
"Para quem trabalha como empregada doméstica ou ganha salário mínimo, 400 rands é quase metade do salário", dizia o pernambucano Flávio Rosa, há 4 anos morando em Johannesburgo. Estava com a esposa e dois amigos recém-chegados do Brasil. Na mala, mesmo sendo proibido, levaram charque e farofa. O jantar estava garantido. "Só falei o que trazia para minha mulher quando chegamos, ela é meio molenga", explicou Henrique Pimentel, sobre o "tráfico" de carne.
Com a bandeira brasileira nas costas, a vibração aumentou quando o vocalista do Black Eyed Peas, também empunhou o símbolo verde e amarelo. Bandeira, aliás, era o que não faltava por lá. De quase todos os continentes. A mexicana estava na mão do arquiteto Carlos Diaz de La Peña. Ele vibrava, mesmo sem muita confiança. "Acho que o México chega até as oitavas, como sempre, essa deve ser a realidade. Torço para que isso mude a partir de amanhã [hoje], quando jogamos com a África do Sul", disse.
A Copa está começando. Para a Fifa, começou com a música e a confraternização; para a maioria das pessoas, só mesmo hoje, quando a bola rolar.
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