A cena é carregada de simbologia. Antes de entrar no gramado, Diego Maradona sai de lado e deixa a roda de jogadores. Procura Lionel Messi. Acelera um pouco o passo até encostar-se ao melhor jogador do mundo (eleito pela Fifa no ano passado). Troca algumas palavras, coisa rápida, e dá um leve empurrão no atacante. Forma de incentivar.
É o encontro do velho com o novo na Argentina. Do ex com o atual. "Maradona é nosso deus. Messi, quase", disse Suren Rugunanau, um dos tantos sul-africanos que enfiou a mão no bolso para ver ao menos uma vez os portenhos jogarem ao vivo no câmbio negro, o ingresso para qualquer um dos três jogos da primeira fase não saía por menos de 1.500 rands (cerca de R$ 375).
A missão de Messi não é nada fácil. Ter de substituir "deus" não é para qualquer um. Por isso a pressão imensa que carrega sobre os ombros. Os argentinos depositam no baixinho de 1,70 m as esperanças de quebrar o jejum de 24 anos sem título mundial. "Eu ficaria encantado se Lionel tivesse o mesmo impacto que tive em 86 [Mundial do México]. Desejo de todo coração que tenha um protagonismo bárbaro e que seja o melhor de todos os tempos", cravou Maradona, como quem diz "vai lá e me imita".
Ontem, no triunfo do país sobre a Nigéria por 1 a 0, gol de Heinze, na rodada de abertura do grupo B, o atacante lutou como nunca. Foi o melhor em campo entre os sul-americanos. Mas não marcou. Parou em Enyeama. Ou seja, não foi Maradona para os conterrâneos. "[Messi] jogou o que sempre joga pela Argentina. Mais ou menos", disse Rafael La Torre, morador de Córdoba. "Por que ele não é o mesmo do Barcelona? Porque não tem Iniesta, Xavi...", emendou ele, um daqueles críticos ferrenhos que não aceita ver o ex-camisa 10 como técnico da seleção. "Com Maradona podemos tudo. Ser campeão ou cair logo na primeira fase".
Os sul-africanos, porém, não estão nem aí para a conturbada relação de Lionel e seu povo. Um simples retrato no telão é suficiente para o Ellis Park pulsar. Turbinado pelo barulho inconfundível das vuvuzelas, os gritos atingem decibéis inimagináveis. Todos querem o atual dono da 10.
O garoto Musa Ngubeni, de 21 anos, faz parte da legião de fãs de Messi no país de Mandela. Apaixonado pelo Campeonato Espanhol, é capaz de contar todas as peripécias do ídolo na Catalunha. "Ele é o Barcelona", exagerou. Quando soube da possibilidade de ver o craque de perto, o estudante não pensou duas vezes. Raspou as economias e se mandou para a fila de tíquetes. Pagou mil rands (R$ 250) no bilhete. "Doeu um pouco, mas valeu à pena. Só que fiquei sem dinheiro para assistir a um jogo da Espanha", contou. "Não precisa. Já vimos Messi", interrompeu Dalton Marhufa, 21, vizinho e amigo de infância de Musa. Parceiro na idolatria.
Trajados dos pés à cabeça de Argentina, o grupo liderado por Rugunanau segue na onda pró-Lionel. "Acho que ele não vai ser o novo Maradona. Vai ser o Messi mesmo. O que para nós, sul-africanos, já é muita coisa", discursou Dilip Patel.
Maradona também saiu em defesa do "Pulga", como é conhecido o melhor do mundo na Argentina. Entre uma e outra mordida na maçã que levou para a coletiva de imprensa, elogiou o desempenho do atacante com o uniforme azul e branco. "O futebol não seria lindo se não existisse Lionel Messi", ressaltou. "Precisamos do apoio e do carinho do nosso povo. Não adianta sair criticando tudo. Se queremos dar um passo maior, necessitamos de carinho. Dos argentinos que estão aqui e também dos que ficaram lá."
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