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Feira livre nas ruas de Johannesburgo: comércio artesanal domina o  mercado informal na cidade | Valterci Santos/Gazeta do Povo– enviado especial
Feira livre nas ruas de Johannesburgo: comércio artesanal domina o mercado informal na cidade| Foto: Valterci Santos/Gazeta do Povo– enviado especial

O artesanato está em todo o lu­­gar na África do Sul. Numa es­­quina, no supermercado, na livraria e, claro, em grandes feiras espalhadas pelo país. Os sul-africanos, di­­zem, são capazes de trans­­formar qual­­quer tipo de material em uma peça de artesanato notável.

A madeira ainda é a principal matéria-prima, mas poucos mi­­nutos na esquina entre a Avenida William Nikol e a Main Street são suficientes para se perceber quão rica é a criatividade des­­ses artistas. Arames, pedras, fios telefônicos, latas, mais latas e mais latas.

No país da Copa, tudo vira arte para ser vendida. E toda obra tem uma história, nem que ela pareça, à primeira vista, ter sido inventada na hora, apenas para o turista com­­prar o objeto.

"Esses homens e mulheres fi­­nos significam a fome que passamos e os maus-tratos que recebemos no apartheid", conta Raphael Mavudzi, 40 anos.

Falava de uma família, feita com galhos secos. Na verdade, esse tipo de boneco é um dos artesanatos mais tradicionais da África do Sul. Eles podem ser encontrados em qualquer lugar, de lojas elegantes a bancas de revista. Nor­­mal­­mente, têm um olhar duro, e, quando mu­­lheres, levam algo na cabeça. Com uns 30 centímetros de altura, po­­dem custar 40 rands (R$ 10) ou 400 (R$ 100).

A família criada por Ma­­vudzi, no entanto, tinha história, vários membros, e quase o tamanho real de uma pessoa. Por isso, o artista estava cobrando 15 mil rands (R$ 3,75 mil). Mas ad­­mitiu baixar o preço quando a reportagem foi saindo. Correu, puxou-nos pelo braço e perguntou: "Quanto você paga?".

A abordagem incisiva no lugar é comum. A propaganda é a alma do negócio. Ainda mais quando as opções são muitas. Hillary Zon­­goro é a prova disso. Escultor em madeira e pedra, faz de tudo um pouco. Do usual, mais fácil de vender, ao autoral – que normalmen­­te encalha.

A estátua de Nelson Mandela, por exem­­plo, faz mais de meio ano que está ali. A explicação não es­­tá no preço nem na qualidade, talvez no tamanho. Até porque também há uma história em torno dela. "É uma homenagem a ele, que já comprou comigo", diz.

Hillary está no local, que se cha­­ma Brynstain Market, há 10 anos. E não se importa com a de­­mora na venda da obra. De pe­­que­­nas em pequenas coisas vendidas, diz que chega a faturar 5 mil rands (R$ 1,25 mil ) em um fim de semana. Mesmo quem não é consumista não consegue se controlar. É difícil sair de mãos vazias desses lugares.

Por isso, vai uma dica: sempre pense duas vezes antes de comprar. Ou se corre o risco de não conseguir levar o produto para ca­­sa. Imagine despachar o Mandela de madeira de avião.

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