Envoltos em grandes cobertores, pesados casacos e chapéus que quase cobrem o rosto, alguns dos 2 mil sem-teto se dirigiram a uma grande igreja nos subúrbios de Pretória para ouvir uma mensagem espiritual e assistir à partida dos Bafana Bafana na Copa do Mundo.
Os convidados da igreja holandesa Moreleta Reformed vieram de um alojamento próximo, onde era possível ver a África do Sul enfrentando o Uruguai, comer uma refeição quente e beber bebidas quentes em uma noite muito fria.
Após assistir em silêncio as palavras do pastor visitante, os sem-teto fizeram fila para ter os seus rostos pintados nas cores da bandeira sul-africana e sentar em um dos bancos para assistir ao jogo do grupo A em duas telas grandes. Diversos dos sem-teto vieram de Zimbábue e de Lesoto.
Conforme o relógio fazia contagem regressiva até o início do jogo, a torcida ali reunida começou a comemorar e a tocar vuvuzelas e apitos, enquanto um pequeno garoto corria de uma ponta a outra da igreja carregando uma bandeira da África do Sul.
O hino nacional da África do Sul foi ouvido em respeitoso silêncio e, ao terminar, a torcida explodiu em gritos e comemorações com o início do jogo. Um organizador avisou aos torcedores que eles poderiam celebrar livremente qualquer gol, mas pediu que não subissem no palco.
O pastor responsável Dirkie van der Spuy disse à Reuters que ele decidiu abrir a sua igreja, que pode receber até 7.200 pessoas, para oferecer um local quente para alimentar e ajudar aqueles que, de outra forma, não conseguiriam assistir ao jogo.
"Temos pessoas aqui nos arredores que não têm televisão, mas são malucas por futebol. Muitos ocupam casas na região e nós temos a responsabilidade de chegar até essas pessoas, eles não têm muito", disse. Ele acrescentou: "A Copa do Mundo é um ótimo momento em nossa história como sul-africanos para ajudar pessoas de todas as nações."
Um homem de Zimbábue chamado Delight, usando um grande gorro e um agasalho laranja, disse que foi até a igreja para rezar pela África do Sul. "Eu rezo pelos Bafana Bafana, mas estou aqui para apoiar todos os times africanos", disse à Reuters antes do início do jogo, com os olhos presos na televisão.
O primeiro gol, um chute impressionante de fora da área do uruguaio Diego Forlán, deixou a torcida em silêncio por pouco tempo, e o pênalti marcado no final da partida gerou manifestações de desgosto.
Após o Uruguai marcar o terceiro poucos minutos antes do final do jogo, vários na igreja pegaram os seus poucos pertences e deixaram o local.
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