Entrevista com Carlos Alberto Parreira, técnico da seleção da África do Sul
Carlos Alberto Parreira mantém o mesmo jeito sereno que o acompanhou em suas passagens pela seleção brasileira. Parece incapaz de se exaltar. Mesmo sabedor de que aproximadamente 46 milhões de sul-africanos esperam ansiosos para saber o que o time pode fazer no Mundial dentro de casa. Avançar parece quase uma obrigação estabelecida. "Precisamos impor nossa maneira de jogar", diz, repetindo o velho discurso usado com sucesso em 1994, mas que não surtiu efeito na Alemanha, há quatro anos. Ontem, véspera da estreia contra o México, o treinador concedeu uma rápida entrevista no Soccer City.
Como é lidar com a pressão de um país inteiro, ansioso em relação ao desempenho dos Bafanas Bafanas na Copa?
Todo treinador quer ganhar sempre, mas tem de ver as possibilidades. Somos obrigados a dar o nosso melhor em campo. O resultado será positivo se conseguirmos aplicar a nossa filosofia com dedicação. Aí venceremos.
E se não conseguir aplicar a filosofia e ficar de fora das oitavas de final?
Já falei para vocês antes: não sou o único responsável pelo trabalho, nem pela derrota nem pela vitória. Há todo um processo. O país está do nosso lado, orgulhoso do que foi feito até agora. Existe um raio de esperança pelo o que o time conseguiu mostrar. A confiança também existe, mas uma derrota não pode nos abalar.
Mas dificulta e muito a classificação em um grupo tão equilibrado, tendo de disputar a vaga com França, México e Uruguai, não?
É impossível prever os resultados. Podemos nos classificar com duas vitórias, uma vitória e um empate... Mas uma coisa eu digo: se vier a primeira vitória logo nesse jogo, aí ninguém nos segura.
É o maior desafio da sua carreira? Maior até do que tirar a seleção brasileira do jejum de 24 anos sem título?
É um grande desafio, sem dúvida, mas não o maior. A dona da casa, de um modo geral, convive com uma pressão imensa, precisa passar de fase. Só que desta vez não há nenhum El Salvador para facilitar. Ao contrário, ao não ser cabeça de chave, a França caiu de presente no nosso grupo.
Johannesburgo - A Copa do Mundo de Nelson Mandela começa hoje, às 11 horas (de Brasília), no Soccer City, em Johannesburgo. África do Sul e México terão a honra de inaugurar o primeiro Mundial no continente mais pobre do planeta.
É assim que pensam os sul-africanos, especialmente os negros. Para eles, não há dúvida: só há Copa por causa de Madiba, como o ex-presidente é conhecido no país. "Sem ele, isso não existiria. É o nosso deus", resume, empolgado, o estudante Frederick Lungile Motha.
O "deus" dos Bafanas, perto de completar 92 anos, ira acompanhar in loco ao menos parte do projeto que idealizou em mais de 50 anos de luta contra a segregação racial no país. Negros e brancos confraternizando juntos na arquibancada, em uma das maiores competições esportivas do mundo.
No entanto, uma bisneta de Nelson Mandela, de 13 anos, morreu na madrugada desta sexta-feira, 11 (noite de quinta-feira em Brasília), em um acidente de automóvel, próximo ao centro de Johannesburgo, após o concerto de abertura da Copa do Mundo da África do Sul.
A tragédia levou o ex-presidente sul-africano, que faz 92 anos em julho, a anunciar, através da Fundação Nelson Mandela, que não irá à partida inaugural da Copa do Mundo.
A Fundação informou ainda que a família de Mandela pediu privacidade sobre a tragédia, e confirmou que o ex-presidente tem nove bisnetos.
Zenani Mandela completou 13 anos na última quarta-feira (9). Ela é neta de Zindzi Mandela, filha do líder sul-africano. A adolescente viajava juntamente com a ex-mulher de Nelson Mandela, Winnie Madikizela, quando houve o acidente ao voltar para casa do concerto inaugural, realizado no Orlando Stadium. Somente a garota morreu na colisão e não houve feridos. Algumas horas depois, a polícia prendeu o condutor do veículo que causou o acidente. Ele é investigado por homicídio. Zenani era um dos nove bisnetos de Mandela, filha de Zolenka Seakamela e neta de Zindzi Mandela.
Abertura na data histórica
Assim sonhou Mandela, assim acontecerá hoje, data mais do que especial na vida do ícone pacifista.
O dia 11 de junho é histórico para o ex-presidente. E para a África do Sul. No mesmo dia, em 1964, o "revolucionário" e outras sete pessoas foram declarados culpados de acusações de sabotagem ao poder constituído, totalmente favorável aos africâneres (brancos).
O desfecho era mais do que previsível. Não houve perdão por parte da corte de Rivonia para o grupo de Mandela, que, no dia seguinte, foi condenado à prisão perpétua. Inicialmente, o líder negro passou 18 anos na fria Ilha Robben, na região da Cidade do Cabo. Permaneceria ainda mais oito temporadas em Pollsmor, de onde saiu apenas em 1990 após muita negociação e um lobby que envolveu praticamente o mundo inteiro.
Pressão que resultou em outro 11 de junho emblemático. Uma extensa lista de personalidades se reuniu em Londres, no lendário Estádio de Wembley, em 1988, para celebrar o show "Free Mandela", cobrando das autoridades a liberdade imediata do sul-africano.
A presença de Madiba no suntuoso camarote presidencial do Soccer City garante também uma dose extra de motivação no time de Carlos Alberto Parreira na quarta-feira cerca de 200 mil pessoas saíram às ruas de Johannesburgo para saudar os Bafanas.
Foi misturando seu carisma com um inegável poder de convencimento que Mandela virou peça importante na conquista do primeiro título mundial de rúgbi dos Springboks, em 1995. Na ocasião, Mandela desceu ao campo do Ellis Park (estádio em que a seleção brasileira estreia na Copa, terça-feira, contra a Coreia do Norte) para cumprimentar cada um dos sul-africanos. E pressionar os rivais neozelandeses.
Os Bafanas Bafanas terão tratamento um pouco diferente. A saúde do Madiba não permite mais exaltações. O encontro motivacional ocorreu há uma semana. De lá saíram as palavras de ordem, mantidas em segredo. A exceção foi aberta ontem, para receber em casa o técnico português Carlos Queiroz e o astro Cristiano Ronaldo. Conversa rápida.
Sem Mandela, a tarefa de motivador sobrou para Parreira. "Nos sentimos orgulhosos por poder fazer parte deste momento. Ajudar, com a força do futebol, a unir este país", afirmou o treinador. "O trabalho foi intenso, pesado. Estamos preparados e com muita vontade de empurrar os Bafanas", emendou o capitão Aaron Mokoena, um negro que viu de perto o seu deus reescrever a história do país.
Ao vivo
África do Sul x México, às 11 horas, na RPC TV, Band, BandSports, SporTV e ESPN Brasil.
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