A fila se forma na rua. As pessoas ficam encostadas no muro, à espera da vez. Na calçada, uma bateria de carro faz o papel da tomada elétrica. Para otimizar, duas pessoas atendem bem perto uma da outra. Fora isso, há também uma cadeira de plástico, uma máquina de tosa, capa para proteger a roupa do cliente e, claro, a simpatia do cabeleireiro. Esse é o kit básico para se montar um salão de beleza em Johannesburgo.
Cortar cabelo na rua, na África do Sul, é quase tão comum como engraxar sapato no Brasil. Os garotos ficam parados na calçada, esperando e torcendo para não chover. Não precisa curso. É só saber manejar o equipamento. Nessa modalidade de trato capilar, não se escolhe o corte. Não importa como você chega, mas como você está quando levanta da cadeira de plástico: sem nada em cima. É simples e rápido: 10 minutos, 10 rands (R$ 2,50).
"Emprego não é fácil de conseguir aqui, principalmente se você não tem estudo. E preciso ajudar em casa. Trabalho como cabeleireiro há cinco meses, mas não está ruim", afirma Denis Mohhammed, um rapaz de 21 anos.
Seu ponto é próximo ao Estádio Ellis Park, em um bairro de classe baixa, onde é normal esse tipo de atividade. No Soweto, por exemplo, bairro pobre de 3 milhões de habitantes, o corte de cabelo em via pública é quase uma regra. Claro que existem salões para quem prefere gastar mais e ter um pouco mais de cuidado com o visual. Daí, os preços variam como no Brasil, e, dependendo do serviço desejado, o investimento pode variar entre 100 rands (R$ 25) e 1 mil (R$ 250).
Mamibe Blom, por exemplo, não costuma frenquentar esses locais. Não é que não tenha dinheiro, mas, como diz, "não está sobrando". Ele trabalha consertando eletrodomésticos, mora ali perto, e ontem, quando voltava para trabalhar, por volta das 14 horas, parou para zerar a cabeleira.
"Não venho sempre. Não tenho por que pagar caro em uma coisa que é simples. Já estou acostumado. É rápido, não perco mais de dez minutos", afirmou Blom, enquanto a maquininha tirava pequenos fios pretos e enrolados de sua cabeça. Com Denis, era a primeira vez que cortava. "Vou onde não tem fila."
Zerar, "raspar o coco", ou passar a máquina, na África do Sul, tem nomes diferentes. Decore para quando precisar: chips-kop, bucha e shaolin.
Mas quando os cabeleireiros ouvem falar em tesoura, olham com cara feia e sorriem. Apontam para o outro lado da rua. Questões de estilo são tratadas por mulheres e custam bem mais caro. Você pode escolher. O corte, em si, é raro de se ver. Mas há a decoração, com pequenas pedrinhas coloridas, ou tranças com mega hair.
Essa última era no que Molly Murwire estava trabalhando quando chegamos. Mãos ágeis, montava cada trança em menos de um minuto. E preparava o terreno para o cabelo artificial. Tudo, no fim, ficava por 100 rands (R$ 25), barato também.
"Trabalho já faz cinco anos aqui. Normalmente, esse tipo de serviço [aumentar o cabelo da cliente] eu faço três vezes por dia. Para mim é bom. Você não tem gastos, só lucro", disse, mais ou menos assim, Murwire, de 39 anos, já que o sotaque dela não é dos mais fáceis de se entender.
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