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Uthum Ravjee (esq.) com a esposa e filhos no mercado indiano de Durban: tradição familiar desde 1930 | Valterci Santos/Gazeta do Povo – enviado especial
Uthum Ravjee (esq.) com a esposa e filhos no mercado indiano de Durban: tradição familiar desde 1930| Foto: Valterci Santos/Gazeta do Povo – enviado especial

A primeira impressão assusta. Ro­­deado por viadutos e por mendigos pedindo ajuda, encravado no centro velho de Durban, o Victoria Street Market não é nada convidativo. Mas é para lá que os turistas são imediatamente levados tão logo desembarcam na terceira maior cidade da África do Sul, com cerca de 3,5 milhões de habitantes.

É que da porta para dentro tudo se transforma. O caminho das Ín­­dias se abre ao visitante (Durban concentra a maior população in­­diana fora da Ásia). São 170 lojas disputando a atenção – e os dólares – dos forasteiros. Briga ferrenha em que vale tudo. Há quem fique na porta oferecendo um pu­­nhado de alho em pó para experimentar. Outros são mais sutis. Preferem acender um incenso e aromatizar o box. Ganhar o cliente pelo cheiro. Ou, ainda, contar em detalhes os 100 anos de história do local, completados em março, roubando por minutos a atenção do ouvinte.

Tática usada com sabedoria pe­­la família Ravjee, uma das pioneiras no mercado de especiarias. "Meu pai começou o negócio em 1930, depois de ser trazido junto com outros 5 mil indianos para trabalhar nas usinas de açúcar. Eu entrei no ramo em 1957", relembra Uthum Ravjee.

Naquela época o mercado não passava de uma feira com poucas barracas. Nem se pensava em er­­guer um prédio inspirado na ar­­quitetura do Palácio de Maha­­ra­­jah, na Índia, ousadia tomada após o fogo que queimou a antiga sede, em 1972.

Uthum até se assusta quando olha para dentro da lojinha e vê as prateleiras repletas. Tem de tudo um pouco. De miniaturas de rinoceronte a sapatilhas, conforme o gosto do cliente. "Está vendo esse ovo? É de elefante [imitação para decoração]. Vendo para você por 200 rands (R$ 50)", abre Krishna Patel, o funcionário do estabelecimento, usando uma jaqueta em alusão ao Brasil, outra estratégia de marketing para atrair o público, ainda mais em época de Copa do Mundo. Alguma negociação depois e o preço já caiu pela metade, tendência copiada do mercado chinês. E que revela a margem de lucro escandalosa – o valor do lenço indiano varia até 150% de um box para o outro.

O mercadão é dividido por uma rua pequena. Do lado de baixo fica concentrado a ala gastronômica, chamada de Fish Market (Mer­­cado do Peixe). Entre carnes vermelhas, peixes e frutos do mar, chamam a atenção as diversas cabeças de carneiro penduradas. O alimento, muito popular entre as famílias mais pobres sul-africanas devido ao baixo preço (30 rands ou R$ 7,50), é vendido in natura, de­­fumado ou assado. Vai da preferência do cliente.

Só um toque a mais de originalidade dentro de um barril de excen­­tricidades em que o visitante pode experimentar uma comida tailandesa, comprar joias, trocar dólares e, se achar necessário, ir ao dentista. Tudo no mesmo lu­­gar. É só pechinchar.

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