A primeira impressão assusta. Rodeado por viadutos e por mendigos pedindo ajuda, encravado no centro velho de Durban, o Victoria Street Market não é nada convidativo. Mas é para lá que os turistas são imediatamente levados tão logo desembarcam na terceira maior cidade da África do Sul, com cerca de 3,5 milhões de habitantes.
É que da porta para dentro tudo se transforma. O caminho das Índias se abre ao visitante (Durban concentra a maior população indiana fora da Ásia). São 170 lojas disputando a atenção e os dólares dos forasteiros. Briga ferrenha em que vale tudo. Há quem fique na porta oferecendo um punhado de alho em pó para experimentar. Outros são mais sutis. Preferem acender um incenso e aromatizar o box. Ganhar o cliente pelo cheiro. Ou, ainda, contar em detalhes os 100 anos de história do local, completados em março, roubando por minutos a atenção do ouvinte.
Tática usada com sabedoria pela família Ravjee, uma das pioneiras no mercado de especiarias. "Meu pai começou o negócio em 1930, depois de ser trazido junto com outros 5 mil indianos para trabalhar nas usinas de açúcar. Eu entrei no ramo em 1957", relembra Uthum Ravjee.
Naquela época o mercado não passava de uma feira com poucas barracas. Nem se pensava em erguer um prédio inspirado na arquitetura do Palácio de Maharajah, na Índia, ousadia tomada após o fogo que queimou a antiga sede, em 1972.
Uthum até se assusta quando olha para dentro da lojinha e vê as prateleiras repletas. Tem de tudo um pouco. De miniaturas de rinoceronte a sapatilhas, conforme o gosto do cliente. "Está vendo esse ovo? É de elefante [imitação para decoração]. Vendo para você por 200 rands (R$ 50)", abre Krishna Patel, o funcionário do estabelecimento, usando uma jaqueta em alusão ao Brasil, outra estratégia de marketing para atrair o público, ainda mais em época de Copa do Mundo. Alguma negociação depois e o preço já caiu pela metade, tendência copiada do mercado chinês. E que revela a margem de lucro escandalosa o valor do lenço indiano varia até 150% de um box para o outro.
O mercadão é dividido por uma rua pequena. Do lado de baixo fica concentrado a ala gastronômica, chamada de Fish Market (Mercado do Peixe). Entre carnes vermelhas, peixes e frutos do mar, chamam a atenção as diversas cabeças de carneiro penduradas. O alimento, muito popular entre as famílias mais pobres sul-africanas devido ao baixo preço (30 rands ou R$ 7,50), é vendido in natura, defumado ou assado. Vai da preferência do cliente.
Só um toque a mais de originalidade dentro de um barril de excentricidades em que o visitante pode experimentar uma comida tailandesa, comprar joias, trocar dólares e, se achar necessário, ir ao dentista. Tudo no mesmo lugar. É só pechinchar.
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