A história de Aaron Mokoena é daquelas que se fosse para o cinema seria ridicularizada por parecer tão inverossímil. Mas o roteiro existiu e foi escrito com grande amor e habilidade. Jogador mais vezes capitão da África do Sul e com carreira na Europa, Mokoena precisou se vestir de menina aos 11 anos para se proteger da quase guerra civil que atingiu o país. Sua mãe teve a ideia logo após o massacre que aconteceu em sua comunidade em 1992.
"Isso hoje pode parecer engraçado, mas eu só sou o que sou por causa da minha mãe. Ela teve que fazer isso para me proteger daquele perigo e aqui estou eu como jogador da África do Sul na primeira Copa do Mundo em solo africano", destacou.
Mokoena nasceu em 1980 e cresceu no período mais sangrento da história sul-africana. Nos anos 80, os protestos contra o Apartheid tomaram as ruas e tornaram-se violentos, tanto da parte dos negros, que buscavam seus direitos, como do governo branco, que ia às ruas com tanques para reprimir as manifestações. Depois da libertação de Nelson Mandela, em 1990, a situação piorou e o país esteve à beira de uma guerra civil. Os conflitos não eram mais por liberdade, mas pelo controle do poder no país que estava nascendo. Muitos grupos negros brigavam entre si pela hegemonia na nova democracia.A luta era polarizada pelo CNA, partido de Mandela, mais moderado e que está no governo até hoje, e o Inkhata, uma organização negra radical acusada de ter contribuído com o regime do Apartheid. Em 17 de junho de 1992, membros do Inkhata massacraram 46 pessoas na comunidade de Boipatong, onde Mokoena vivia.
"Eu ainda era novo, tinha só 11 anos, mas lembro do dia seguinte quando estava indo para a escola e vi as pessoas voltando chorando. Elas me diziam para não ir à escola, porque lá estavam muitas crianças que tinham perdido seus pais. Foi aí que soube do massacre, ele aconteceu na noite anterior, quando as pessoas estavam dormindo. Foi horrível", conta o capitão
Depois dos assassinatos, começaram rumores de que os criminosos voltariam à comunidade para matar os meninos, segundo relata o zagueiro. "Quando soube disso, minha mãe viu que precisava me proteger de alguma forma, então ela decidiu me vestir como menina".
As tensões no país foram minimizadas a partir da eleição de Nelson Mandela, em 1994. Dois anos depois, aos 16, Mokoena foi jogar um torneio de futebol entre comunidades e acabou descoberto por Jomo Sono, um dos grandes jogadores da história sul-africana, hoje técnico e dono de um clube. Mokoena iniciou sua carreira profissional e rapidamente ganhou destaque. Tornou-se o jogador mais jovem a atuar pela seleção principal, aos 18 anos.
Hoje, aos 30, ele será o capitão da África do Sul na Copa do Mundo em casa. Não fala em apenas participar ou chegar às oitavas de final. Quer o título, como disse com todas as letras nesta quinta-feira. Sim, de novo parece uma história inverossímil, daquelas que só acontecem na vida real.
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