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Carlos Eugênio Simon expulsa jogador em encenação que simula um jogo real: árbitro apita Gana x Alemanha, amanhã | Valterci Santos/Gazeta do Povo – enviado especial
Carlos Eugênio Simon expulsa jogador em encenação que simula um jogo real: árbitro apita Gana x Alemanha, amanhã| Foto: Valterci Santos/Gazeta do Povo – enviado especial

Polêmica

Fifa proíbe "cornetar" colegas

Não é vacilo da reportagem, logo no dia seguinte à vitória do Brasil, quando Luís Fabiano marcou um belo gol, depois de tocar duas vezes com a mão na bola, não haver nenhuma declaração dos árbitros falando sobre isso. Comentar sobre os erros dos companheiros é proibido pela Fifa. Se ocorrer, não há punição específica. Mas como todos os árbitros estão concentrados no mesmo lugar, fica chato.

"Não vou falar, pois eu não gostaria que falassem de mim. Entre nós, após o fim da rodada, fizemos uma reunião para comentar como foi", diz Altemir Hausmann que arranjou uma desculpa para o caso de Brasil e Costa do Marfim. "Vi, mas prestei mais atenção nos bandeiras, que foram muito bem."

Tanto o gaúcho Hausmann como o paranaense Roberto Braatz são de cidades pequenas, respectivamente em Estrela e Marechal Cândido Rondon, e causam um fenômeno curioso onde moram. "Minha família e todos os amigos torcem em conjunto. Pois para nós é mais ou menos um jogo do Brasil", diz o paranaense. "A minha família se reuniu na casa do meu cunhado, praticamente como se fosse jogo da seleção", finaliza o gaúcho.

  • Os auxiliares Altemir Hausmann e Roberto Braatz correm durante o treino da Fifa na África do Sul

O treino da arbitragem da Copa, mais parece encenação teatral. De certa forma, uma verdade. Ao menos é o que tenta uma dezena de jogadores adolescentes, simulando uma partida de futebol dentro de apenas uma grande área. O problema é que a peça mais parece uma comédia.

Imagine: Carlos Eugênio Simon corre do meio de campo em direção a uma cobrança de falta. A bola é lançada na área e, sem explicação nenhuma, quatro atacantes caem em cima do goleiro. Ou então, a cada marcação do brasileiro, dois ou três atletas correm em cima reclamando exageradamente. Outros dois colocam as mãos na cabeça e gritam.

Tudo isso, aos olhos de três bandeirinhas, que, quando necessário, levantam o instrumento ao mesmo tempo e do mesmo lado. Embora existam apenas jornalistas por ali, de oito potentes alto-falantes sai um som ensurdecedor de vuvuzelas, como se estivéssemos no Soccer City lotado.

Ontem, nos dois campos da Escola Secundária de Odendaal, em Pretória, 52 dois árbitros, dos 87 que estão África do Sul, treinavam para atuar no Mundial. A maioria deles já havia estreado, como o caso do trio brasileiro, formado pelos gaúchos Carlos Eugênio Simon e Altemir Haus­­mann e o paranaense Roberto Braatz. Eles eram observados por dois instrutores que incentivavam o acerto, mas chamavam rigorosamente atenção em cada erro.

"É um pouco mais do que a realidade. Mas é bom porque você fica esperto", diz Braatz, que elogia os atores. "Os moleques entenderam bem, criam situação de jogo, não para todo mundo para simular ao mesmo tempo."

Mas se é engraçado para quem está do lado de fora, lá dentro o negócio é levado a sério. Nos dois campos, a arbitragem é dividida de acordo com a prioridade. Do lado esquerdo, quem não tem data marcada para apitar. Do direito, geralmente quem está na antevéspera de atuar em uma partida.

Daí, o treinamento é associado a equipamentos eletrônicos. No caso do impedimento, dois jogadores adversários correm em direções contrárias. Quando se forma a linha do impedimento, a bola é lançada e o bandeira tem de decidir em milésimos de segundos. Depois, tudo é visto na televisão.

"Esse treinamento é exclusivamente da Fifa. São situações que acontecem no jogo e o árbitro tem de tomar as decisões rápidas. Com cartões. É extremamente válido. E lógico que no Brasil não existe, pois não somos profissionais e ninguém tem tempo de passar uma manhã inteira nisso", diz Simon, que já está na sua terceira Copa do Mundo.

No treino, Simon mostrou dois vermelhos e marcou dois pênaltis, com a mesma pompa e peito inflado que utilizou no jogo entre EUA e Inglaterra. Por duas vezes, o punido foi o número 3 da equipe que atacava.

Aliás, Kgomo Masimoel, de 16 anos, encarnou tão bem o papel que, a cada falta marcada na área contra sua equipe, mesmo que não fosse ele o infrator, gritava e colocava a mão na cabeça, como se o mundo tivesse acabado.

"Eles nos explicaram como tem de fazer. Não vejo problema. Acho que estou melhorando a cada dia", disse, se referindo, claro, ao teatro. Ele, e todos os árbitros, realizam o mesmo treinamento todo dia.

O próximo teste do trio verde e amarelo será amanhã, quando comandam a "decisão" entre Gana e Alemanha. Será o sétimo jogo apitado por Simon. Se voltar a atuar na África do Sul, ele se iguala ao recordista Joel Quiniou, francês que apitou oito partidas em 1986, 1990 e 1994.

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