Preferência número um entre a maioria negra (85% da população) e os mais pobres, o futebol está longe de ser a modalidade que mais dá alegria aos torcedores da África do Sul. Os coletivos rúgbi, críquete e netball (uma espécie de basquete sem tabela), além dos individuais golfe, surfe, atletismo e natação, têm espaço e resultados internacionais bem mais expressivos do que o esporte da Copa. Uma realidade que se reflete na cobertura da mídia e, embora invertida neste período pré-Mundial, deve ser retomada logo após a competição.
Paixão herdada do período de colonização britânica, o rúgbi esteve intimamente ligado à afirmação do apartheid e ao processo de reunificação da nação. Durante o regime de segregação racial, torcer contra os Springboks (apelido da seleção nacional, que significa os sul-africanos em africâner) era uma forma de a população negra vingar-se da discriminação do dia.
Libertado em 1990 e eleito presidente quatro anos depois, Nelson Mandela viu no rúgbi um elemento fundamental no processo de transformação da África do Sul dividida em uma nação. Primeiro, providenciando o retorno dos Springboks às disputas internacionais; depois, organizando o Mundial de 1995 no país. O título, imortalizado no aperto de mão entre o antigo líder revolucionário e o capitão François Pienaar no momento da entrega do troféu, foi o ápice da façanha a história é retratada no filme Invictus, inspirado no livro Conquistando o inimigo, de John Carlin.
"O filme causou uma comoção nacional", relata a psicóloga curitibana Josiane Azevedo, que esteve no início do ano na África do Sul.
Menos simbólico que o rúgbi, o críquete, outra herança britânica, também arrasta multidões na África do Sul. Os Proteas nunca venceram o Mundial da categoria, mas orgulham-se de serem os recordistas de pontuação em jogos de um dia e de terem sediado a competição de 2003 (ao lado de Zimbábue e Quênia) e o primeiro torneio internacional da categoria limitada a 20 overs (sets), em 2007.
"Aqui (na região de Free State, centro do país) o futebol é só o terceiro esporte. O rúgbi e o críquete estão na frente", diz o jogador de futebol Éder Richartz, brasileiro que está na África há um ano.
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