Chissico Clement chama a atenção dos motorista com vasto acerto de bugingangas das seleções favoritas| Foto: Valterci Santos / Agência de Notícias Gazeta do Povo

Gazeta 6 Estrelas: Informação sobre a Copa com sotaque paranaense

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O moçambicano Chissico Clement, de 25 anos, estava cansado de receber "não" nos semáforos de Johannesburgo. Invariavelmente suas tentativas de convencer os motoristas a comprar óculos escuros esbarravam em vidros fechados. Com a conta no vermelho, pensou em uma maneira de embarcar na onda da Copa do Mundo – e ganhar dinheiro.

Em maio, logo no início do mês, investiu seis rands (R$ 1,50) na passagem de ônibus e se mandou para o centro da cidade. Voltou com a sacola cheia de bandeiras (grandes e pequenas), vuvuzelas e "meias" para retrovisor de automóvel, moda no país. Priorizou os produtos com as cores da África do Sul, Brasil, Argentina, Espanha e Inglaterra que, em sua opinião, teriam mais mercado. Não esqueceu, porém, dos menos badalados como Grécia, México, Holanda, Japão, Coreia do Sul e França...

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No dia seguinte, quando voltou ao ponto de trabalho, confluência de uma movimentada avenida com outra importante rua de Joburgo, se assustou com a mudança no hábito dos motoristas. A maioria, educadamente, abria diálogo para saber o que o ambulante tinha para vender na imensa sacola. E, logo em seguida, embicavam o carro em um posto de gasolina próximo para escolher o souvenir com mais calma – e liberar o tumultuado trânsito.

As bandeiras variam de 30 a 100 rands (R$ 7,50 a 25), dependendo do tamanho. A vuvuzela fica no meio termo: 50 rands (R$ 12,50). Já o pacote com duas "meias", uma para cada espelho dianteiro, custa 80 rands (R$ 20). "Agora está bem melhor. Há dias bons, em que chego a faturar 600 rands (R$ 150). Outros nem tanto. Mas, mesmo assim, não tenho do que reclamar", diz ele, estimando em mais de 100% o aumento nos "vencimentos".

Clement deixou Moçambique há três anos. "Não tinha emprego, por isso tentei a sorte por aqui". Sua primeira ocupação em Johannesburgo foi como pintor. Não durou muito. Sem salário, descobriu os movimentados sinais da cidade. E os óculos escuros. "Era o que tinha. Não havia muita opção de escolha", afirma, antes de ser chamado para mais um atendimento. Uma luxuosa caminhonete prata encosta. A loira africâner quer bandeiras da África do Sul. Paga, recebe o troco, e libera o moçambicano para outro atendimento. A rotina é essa.

O ex-pintor de paredes só não sabia que logo as esquinas de Joburgo estariam tomadas por concorrentes. Gente como Clement, sem dinheiro e sem perspectiva. E que vê no primeiro Mundial no continente africano a possibilidade de rechear o bolso. "Não tenho emprego, então o jeito é se virar. Parado é que não posso ficar. A Copa melhorou um pouco (o movimento), mas também não está assim tão bom", explica Suma Stan, de 31 anos, um nativo avesso a entrevistas que disputa clientes com Clement.

Há também quem preferiu outra modalidade de comércio informal. Mhvelli Upah ergueu um tablado de madeira nos arredores do Wanderers Stadium ontem apenas para vender material relacionado à África do Sul e a Portugal – o time de Carlos Queiroz venceu Moçambique no estádio por 3 a 0, em partida amistosa. Oferecia touca, flâmula e camisa falsificada de Cristiano Ronaldo. Não parou um instante. Nem para falar um pouco do novo negócio. "Agora não dá, não dá".

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Após refazer as contas mais de uma vez, a última previsão aponta agora para um crescimento econômico estimado em 10% para o período da Copa, entre 11 de junho e 11 de julho. Já o PIB sul-africano deve fechar 2010 em alta de 3,13%. "Como o resto do mundo, temos uma carência séria de empregos, e vai levar tempo para reabsorver as pessoas de volta à economia", avalia Pravin Gordhan, ministro das Finanças da África do Sul.