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De equipe fácil de ser batida, o Edenvale já acumula cinco jogos invicto, com quatro vitórias e um empate | Albari Rosa/ Gazeta do Povo – enviado especial
De equipe fácil de ser batida, o Edenvale já acumula cinco jogos invicto, com quatro vitórias e um empate| Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo – enviado especial

O craque

Angolano comanda o Edenvale

Josefino, o craque do time de Edenvale, é angolano. Mas ao contrário do jogador coxa-branca Geraldo, que aprendeu os segredos da bola no país de origem, seu compatriota esconde a sete chaves um dos segredos de sua precocidade. Desde os sete anos ele vem passar férias no Brasil.

No Rio de Janeiro, na casa da tia, costuma jogar futebol na praia.

"Minha mãe compra roupas lá e traz para cá para vender. Enquanto isso eu fico na casa da minha tia e vou com a bola para brincar na praia", conta o garoto.

Ele joga com a 11, mas atua mais no meio, na armação das jogadas. É quem pega a bola e parte para cima, dribla e abre espaços. Ao restante da equipe, contudo, resta a sinceridade: são muito ruins. Ricardo, o goleiro, até faz suas defesas, para justificar o esforço do pai, mas a zaga também não ajuda.

Há seis meses treinando juntos, contudo, o entrosamento é visível. E o treinador utilizou uma tática para times limitados que conta ter aprendido no Brasil: marcação e toques rápidos.

Chegar nesse ponto não foi fácil. Necessitou de tempo. "Aqui treinamos duas vezes por semana e sábado jogamos. Como o campeonato parou pela Copa, aumentamos a carga dos trabalhos, para não perder o ritmo."

  • O curitibano Ricardo no meio da garotada: chef de cozinha que virou treinador

Quem vê Ricardo Pereira, de 44 anos, gritando com a garotada, agasalho e apito na boca, não imagina que a verdadeira profissão dele não tem relação com o fu­­te­­bol. O curitibano de nascimento, carioca de coração e sul-africano por adoção, na verdade é chef de cozinha, tem uma churrascaria, e virou treinador quase por acaso na África do Sul.

"Futebol eu sempre gostei, até mais do que a cozinha. O problema é que eu cozinho bem melhor do que jogo bola", brinca o rígido treinador que, exatamente por ter esse estilo disciplinador, resgatou a equipe sub-10 do Edenvale, um bairro localizado na parte leste de Johannesburgo.

Tudo começou por uma insatisfação pessoal. O filho, também Ricardo, de 9 anos, atuava na equi­­pe já fazia um ano. Mas era duro para o pai ir aos jogos e ver o goleiro – a posição escolhida pe­­lo garoto – ser uma espécie de sa­­co de pancadas.

"Chegou uma hora que não deu mais. Nenhum pai aguentava. O time só perdia e os garotos iam saindo ao poucos. Os pais já não queriam trazer os meninos para os treinos...", conta.

Foi quando o brasileiro resolveu agir. Ofereceu-se para treinar o time, foi aceito e fez uma espécie de revolução na prática esportiva no bairro. Comprou cones, varas e algumas bolas de tamanho proporcional aos da categoria.

Para melhorar a equipe, ligou para a casa de alguns pais – ou­­tros vieram pelo boca a boca. Afi­­nal, estava acontecendo algo diferente por ali. Era só chegar à beira do gramado e ver com os próprios olhos.

"Antes os treinos eram só com bola. Agora os garotos têm treinos físicos e táticos", afirma Alexandre Botelho, que é português de nascimento, um dos interessados na empreitada.

O nome de seu filho é Ales­­sandro, tem 10 anos e é um dos que estão sempre na mira do treinador. Geralmente, Sandro, como é chamado pelo pai, dá um toque um pouco mais forte do que o ne­­cessário na bola.

Quem chega ao treino vê vários carros à volta do gramado e muitos adultos conversando por ali. São os pais, que acabaram se co­­nhecendo e formando uma espécie de grupo. Para eles também virou diversão os trabalhos de sá­­bado pela manhã. Ainda mais de­­pois que a equipe recuperou o gosto pela vitória.

Desde que o campeonato co­­meçou, foram duas derrotas, um empate e quatro vitórias. Tudo isso de forma progressiva – ou seja, o time está invicto faz cinco partidas.

"Acho que eles compraram a for­­ma de trabalhar", brinca Ricar­­do, para depois falar sério. "O que falta aqui na África do Sul é base para a garotada. Quando o Par­­reira veio para cá a primeira vez, ele bateu nisso. Mas ninguém deu muita bola".

Ricardo, contudo, tinha mais simpatia por Joel Santana. O dono do restaurante Brazilian Grill conta que o técnico do Botafogo, no tempo que morou em Johannes­­burgo, não saia da churrascaria. O proprietário guarda tanto a camisa do Bafana Bafana autografada por Joel como, outra, por Parreira. "Mas o Parreira já é mais assim [cer­­tinho], sabe como é."

A vida do brasileiro se acostumou às mudanças. Ele saiu de Curi­­tiba com 4 anos, veio para Jo­hannesburgo com 28 anos, pelo pai, que era piloto da Varig e lhe arranjou um emprego terceirizado da companhia. A partir daí, pulou entre vários empregos, de cozinheiro a gerente de cozinha de hotéis renomados, até conseguir adquirir o Bra­­zi­­lian Grill. Está dando certo, mas ele ainda pensa em um dia voltar ao Brasil.

"O problema é o rand [moeda local]. Se converter para o real, o que tenho fica quatro vezes me­­nor."

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