O Cabo pode ser da Boa Esperança ou das Tormentas, depende do ponto de vista. Para os brasileiros que, sem alternativa após a eliminação do time de Dunga, visitaram a Cidade do Cabo para assistir à partida entre Holanda x Uruguai, uma das semifinais da Copa 2010, ontem, o lugar é de tortura os europeus, com dois gols de Sneijder, roubaram a vaga que, na teoria, pertencia ao Brasil. Como as agências de viagens não devolvem o dinheiro, o jeito foi sacudir a tristeza, entrar no avião e visitar o Cabo... Das Tormentas. Literalmente.
"Vim para cá com a intenção de ver a seleção brasileira chegar a mais uma final de Mundial. Não deu. O jeito então é curtir as belezas naturais da cidade", comentou o paulista Alexandre Gomes, lá de cima do morro, melhor local para admirar a formação rochosa ao extremo sul do continente africano, ponto de união das correntes de Agulha (águas quentes do Oceano Índico) e Benguela (água geladas do Oceano Atlântico). "Isso aqui é sensacional. Seria melhor se o Brasil continuasse na Copa. Como não conseguiu... Fazer o quê?", emendou Ricardo Modica, também de São Paulo.
A paisagem, encravada no Parque Nacional da Mesa, área de 7.750 hectares em meio a montanhas e praias paradisíacas, porém, tem conotação totalmente diferente para os holandeses. Ali, para eles, é o Cabo da Boa Esperança. Sem dúvidas. A região em que a seleção laranja conseguiu carimbar a sua passagem para a terceira final de Mundial, acabando de vez com a supremacia sul-americana que marcou o Mundial da África do Sul na transição da primeira fase para as oitavas de final.
Melhor. A terra em que ganharam a chance de acrescentar um capítulo vitorioso à história de dois insucessos seguidos em decisões 1974 na Alemanha e 1978 na Argentina. Por isso deixam com gosto os 75 rands (cerca de R$ 19) na bilheteria, caminho obrigatório antes de desembarcar em Johannesburgo, palco do último jogo do torneio da Fifa, contra alemães ou espanhóis a segunda semifinal é hoje, às 15h30 (de Brasília), em Durban. "Precisamos dar um passo a mais e garantir o título. Seria muito importante ao nosso país e ao nosso povo", afirmou Bert van Marwijk, o técnico responsável por fazer com que o Carrossel Holandês, versão 2010, alcançasse a esperança.
Triunfo, neste caso, do rei Dom João II, de Portugal. Foi ele quem rebatizou o lugar, "esquina" no trajeto para as Índias e para especiarias como pimenta e cravo. Primeiro homem a desbravar a terra desconhecida, o navegador português Bartolomeu Dias preferiu chamá-la de "Tormentas" por causa das fortes chuvas que atrasaram a viagem até o Oriente em semanas.
Os brasileiros e uruguaios , contudo, estão com Dias. Não há nada de "Esperança" no Cabo. No máximo uma paisagem exuberante que serve para relaxar os olhos. Consolo de quem ficou perdido, sem achar o seu "caminho das Índias". "Claro que ficamos decepcionados. A viagem teria outro sentido com a seleção brasileira. Mesmo assim não me canso de vir aqui e admirar toda essa beleza", ressaltou Rodrigo Pereira, que ontem completou sua terceira visita ao local. Esperança ou Tormenta? Depende do ponto de vista.
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