Na época da Copa de 1978, uma marca de refrigerantes fez uma promoção em que as tampinhas levavam impressa, na parte de dentro uma foto e o nome de um dos jogadores que iam à Copa. Não pensem que eu estou escondendo a marca do refrigerante para não fazer propaganda – a verdade é que eu não me lembro, mesmo. Não demorou muito para eu completar a coleção dos jogadores brasileiros, o time dos "campeões morais" do Cláudio Coutinho. Dos que eu me lembro, estavam lá o zagueirão Oscar, o Jorge Mendonça, o Nelinho e o Rodrigues Neto (este último, o meu preferido, porque era a única tampinha que não estava amassada). Depois montei outros times, a maioria misturando jogadores das outras seleções.

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Filho único, recém-chegado à cidade (estava morando em Londrina na época), quase sempre brincava sozinho, distribuindo os craques de metal no tapete da sala. As traves vinham do futebol de botão e a bola era uma outra tampinha. E cada jogo seguia uma lógica que eu conhecia, e mais ninguém. A primeira regra: o time que eu havia programado para perder sempre dava o pontapé inicial. Era uma espécie de cortesia com o perdedor que eu, na onipotência de quem manipulava os dois times, sempre concedia. Fair play puro.

Sempre me lembro disso quando vejo qualquer jogo pela tevê. É quase inconsciente. E confesso que fiquei animado quando percebi que os holandeses saíram jogando na partida contra o Brasil. Mas não deu certo: ao contrário do que ocorria nas minhas brincadeiras de criança, do outro lado havia um adversário.

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Quase todos os dias escuto alguém dizer que, na sexta-feira passada, o Brasil não perdeu para a Ho­­landa, mas para ele mesmo. Na boa, acho isso muita presunção. Mesmo com todos os machucados e suspensões, o time brasileiro era muito bom. Se jogasse contra a Holanda cinco partidas seguidas, provavelmente ganharia quatro vezes. O problema é que perdeu justamente aquela que estava valendo a vaga na semifinal.

Esse, para mim, é um dos atrativos da Copa do Mundo. É a possibilidade de ver algo surpreendente acontecer, movido pela inteligência e habilidade de algum craque. Melhor ainda se ele estiver do nosso lado. Se não estiver, paciência.

O que nos resta agora é esperar pela final. Que, pelo visto, vai ser disputadíssima, porque Copa do Mundo (felizmente) não é futebol de tampinha.