Sucesso
Ocupação de estádios só perde para 94
Com a tal revisão na alocação de ingressos, e uma nova carga de tíquetes colocados à venda, a Fifa espera chegar a uma taxa de ocupação dos estádios de 97%, de um total de 3 milhões de entradas. Se confirmado, o porcentual deverá ser um pouco maior do que o da Alemanha e, nesse quesito, a África do Sul só perderia para os Estados Unidos, em 1994.
Isso só foi possível, no entanto, pois a Fifa utilizou uma tática que ela mesma não cansa de repudiar: a de vender ingressos para cadeiras que não têm uma visibilidade perfeita do gramado. A estratégia é mais ou menos a mesma se o Atlético, após vender todos os ingressos para uma partida, colocasse à disposição do torcedor na bilheteria os lugares ao lado das torres.
No caso dos estádios da Copa da África do Sul, os pontos cegos (nesse caso eles estão mais para caolhos), estão localizados mais próximos ao gramado, e quase no mesmo plano que o jogo ocorrerá. Na verdade, as cadeiras seriam perfeitas... se não houvesse as placas de publicidade à beira do campo.
Não há coisa que não possa ser burlada pelo jeitinho brasileiro. Georges Pereira, um paulista que mora em São Paulo é a prova disso há pelo menos 36 anos. A África do Sul será a sua nona Copa do Mundo.
Começou em 1974, na Alemanha. Só falhou na do Japão e Coréia, em 2002. E sempre da mesma forma. Troca os dólares no Brasil, não usa cartões de crédito, compra apenas a passagem de ida e volta e, o resto, vai levando como vai vindo.
Em Johannesburgo como na Alemanha, França, Itália, Estados Unidos, etc. chegou dessa forma. Mala, uma meia soquete velha com os dólares, os gestos extravagantes e as escassas palavras em inglês de seu vocabulário.
Até hoje, nunca ninguém lhe provou de que isso não fosse o suficiente para passar um mês e meio fora de casa, e assistir quantos jogos forem possíveis de uma Copa do Mundo.
"Nunca compro ingressos antes. Venho e depois vejo como faço", afirma Georges que ontem estava na central de vendas de ingressos da Fifa, em Sandton, em Johannesburgo.
No último sábado, a entidade máxima do futebol anunciou que colocaria à venda mais um lote de 53 mil ingressos distribuídos nas sedes da Copa na África do Sul. Os ingressos inesperados surgiram após uma revisão no plano de alocação dos ingressos abrir as novas vagas.
Os tíquetes vendidos correspondem apenas aos jogos que serão realizados nas cidades correspondentes. A maioria dos bilhetes, cerca de 38 mil, foram chamadas de "premier". Custavam entre US$ 200 e US$ 300, com direito a bebidas não alcoólicas.
A notícia fez centenas de pessoas chegarem na noite de domingo e dormirem na frente do prédio. A fila era tanta que, para ser ter uma ideia, quem chegou às 5 da manhã só conseguiu comprar o bilhete às 12 horas.
A essa hora, a partida entre Brasil e Costa do Marfim, por exemplo, que será em Johannesburgo, dia 20, no Soccer City, já estava esgotada. Mas não foi problema para Georges ou, para os chegados, Jorjão.
Com uma camisa do Brasil e um pandeiro à mão ele não teve dificuldades para burlar a primeira fila e adentrar o prédio. Lá, ao entrar na fila do guichê, foi surpreendido com a necessidade de uma senha previamente distribuída. Se fez de desentendido e ficou pela sala, conversando com um e outro.
Quando voltou a conversar com a reportagem, estava mais feliz. Na mão, ingressos para as quartas de final, quando o Brasil, se passar em primeiro, pode pegar a Holanda, em Porto Elizabeth. Para o jogo inaugural da Argentina, contra a Nigéria, e para a estréia do Brasil, contra a Coreia.
"Me deixaram por aqui. Esperei algum brasileiro chegar, dei o dinheiro e pedi os jogos. Como não tinha limite, deu tudo certo. Para quem chegou no dia 3, sem nada, está muito bom", explicou. "Essa Copa está muito embaçada. Já foi muito mais fácil conseguir ingressos. Já comprei até em bilheteria"
A dificuldade realmente existe, mas como diz o começo da matéria, ainda não conseguiu superar o jeitinho brasileiro.
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