Arquibancada
Voto de confiança para Messi
Lionel Messi sofre do mesmo problema que acompanhou Ronaldinho Gaúcho por anos na seleção brasileira. "Por que ele não faz com a camisa da Argentina o que faz com a do Barcelona?", questiona, cheio de autoridade, Raul Daffunchio, já emendando a resposta: "Está há muito tempo na Europa, não sabe mais como se joga na América do Sul. E futebol sul-americano é diferente", diz.
Daffunchio vai além. Não respeita nem sequer o título de "melhor do mundo" concedido pela Fifa ao craque do Barcelona. "Se eu fosse o Maradona, começaria com o Messi no time titular. Mas já na segunda partida, se não jogar bem, colocaria na reserva."
Maurício Aravena, um hermano radicado na África do Sul, completa a sugestão do parceiro de arquibancada. "Gosto do Tevez, ele sim tem raça", ressalta, devidamente caracterizado com a camisa do Boca Juniors. "Joga com amor. Veste de verdade a camisa argentina", acrescenta Daniel Daffunchio, irmão de Raul.
O grupo ganhou a contribuição de dois nativos na algazarra em frente à concentração do time de Maradona. A dupla Mohdu Sono e Caleb Mabaso, ambos de 20 anos, incorporou até os cânticos dos latinos com certo sotaque. "Nós temos o melhor jogador do mundo", afirma Sono, destoando dos argentinos originais. "Mas sou em primeiro lugar Bafana, Bafana. Quero que o meu país fique com a taça. Mas, como acho difícil, sou Argentina também", completa ele.
Diego Maradona superou Dunga. Não só na bola como também na obsessão pela privacidade da seleção argentina, que fique bem claro. A espera em frente à concentração do time é longa. Uma hora e meia depois do horário combinado e três barreiras policiais superadas, enfim, os jornalistas ganham a alforria do ex-craque. Podem entrar no Centro de Alta Performance da Universidade de Pretória para acompanhar, pela primeira vez, o treino dos bicampeões mundiais. Mas pouco se viu. Nem que Diego Milito, herói do recente título europeu da Inter de Milão, havia machucado o tornozelo sem gravidade. Maradona decretou que apenas os instantes finais do trabalho fosse liberado. Somente o momento de recreação dos atletas e nada mais.O treinador, assim como Dunga, anda às avessas com a imprensa do país. Por isso decidiu isolar a equipe, escolhendo a dedo o local do confinamento, a tranquila Pretória, uma das três capitais sul-africanas, a cerca de 60 quilômetros de distância da tumultuada Johannesburgo.
O lugar é imenso. Tem nove campos de futebol (cinco cedidos exclusivamente para os argentinos), academia de ginástica, refeitório e sala de reuniões. O alojamento fica dentro do complexo, a menos de dois minutos de caminhada do estádio principal. Conta com 45 quartos, todos equipados com tevê a cabo, internet sem fio e ar-condicionado. A estrutura, de fazer inveja ao acanhado centro de treinamento escolhido pela seleção brasileira, era cobiçada também por Itália, Inglaterra e Estados Unidos. Deu Maradona.
"Quando os argentinos assinaram contrato conosco, nós imediatamente cancelamos reservas anteriores e fechamos o local para eles. Ganharíamos mais dinheiro se continuássemos operando normalmente, mas não podíamos recusar essa oportunidade", explica Toby Sutcliffe, diretor-executivo do centro, chamado também de "resort esportivo" 20% dos atletas que integraram a delegação sul-africana na Olimpíada de Pequim-08, entre ginastas, judocas, nadadores e etc., saíram da Universidade.
Dom Diego, porém, foi além. Mandou que se erguesse barreiras para dificultar o trabalho dos jornalistas. Ao redor do gramado mais utilizado pela seleção argentina, um imenso painel verde não permite que se veja qualquer movimentação dos jogadores. Do lado de fora, seguranças foram orientados para não facilitar a vida dos curiosos agindo em muitos casos com truculência. Tudo porque o contestado treinador de primeira viagem (acumulava pequeníssimas passagens por clubes antes de ser chamado pela AFA) ainda bate a cabeça para fazer o time engrenar. Especialmente no ataque, setor com diversas opções.
A tendência, contudo, é que mantenha Higuaín e Messi na linha de frente, preterindo o ex-corintiano Carlitos Tevez. "Estou preocupado com a seleção e nada mais. Esse lugar aqui é bom porque podemos ficar juntos, nos unir", diz ele, cercado por uma infinidade de repórteres. Afinal, ninguém sabe quando Maradona estará de bom humor novamente.