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Réplica de um esqueleto, encontrado nas cavernas de Sterkfontein, batizado de Pezinho. Peças são o registro mais remoto da existência humana | Albari Rosa/ Gazeta do Povo – enviado especial
Réplica de um esqueleto, encontrado nas cavernas de Sterkfontein, batizado de Pezinho. Peças são o registro mais remoto da existência humana| Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo – enviado especial

Ainda não existe uma explicação definitiva para a evolução humana, mas o mais próximo que se chegou até agora teve origem a 50 quilômetros de Johannes­­bur­­go. Lá, no chamado Berço da Hu­­ma­­ni­­dade, foram encontrados dois dos fósseis mais importantes para se chegar à discussão, por exemplo, de que o homem pode não ter compartilhado um antepassado com o macaco.

O local é um complexo de 13 sítios arqueológicos, sendo que o mais importante é o das cavernas de Sterkfontein, onde foram en­­contrados o Mr. Ples e o Little Foot. Ples é um crânio descoberto em 1947, o primeiro Astrolophit­­ecus africanus encontrado no mundo. Já o Pezinho, descoberto em 1994, é o mais antigo hominídeo achado até hoje no planeta.

Portanto, quando nossa guia avisa para usarmos a imaginação na entrada da caverna do maior descobrimento arqueológico do mundo, ela só quer que percebamos a real magnitude que se esconde atrás de um enorme buraco, com 60 metros de profundidade.

A caverna foi descoberta em 1896, por mineiros em busca de ouro, mas logo virou exploração de paleontólogos. No passeio de quase uma hora, ficam para trás várias ramificações do lugar. Uma delas está fechada a quatro chaves, com grades: lá, se diz, ainda há parte do Little Foot, o esqueleto petrificado de um ser de 1,4 metro, que andava de pé, entre 4,1 e 3,3 mi­­lhões de anos atrás.

A segurança se explica, pois este fóssil é, até aqui, o mais completo que existe. Mais do que o famoso Lucy, encontrado na Etiópia, em 1974, e que recebeu este nome porque os pesquisadores ouviam incessantemente Lucy In The Sky With Diamonds, dos Beatles.

O Little Foot leva o apelido pois seus primeiros indícios foram quatro ossos do pé esquerdo, que estavam junto de outros materiais recolhidos na caverna – disso se foi à procura do resto. Já por ser quase completo, permite comparações do tamanho de dedos, pernas e braços, entre outros, com outros tipos de fósseis, o que faz surgir várias teorias. A de nosso desligamento total com os chimpanzés, por exemplo, é uma delas.

Com a Copa do Mundo, o local está recebendo a visita diária de quase 500 pessoas por dia. Mais do que o dobro da média normal, que era de mais ou menos 200 pessoas. O acesso é fácil, custa cerca de R$ 25 – R$ 45 se incluir a visita ao Museu de Maroteng, onde são exibidas réplicas dos fósseis citados, entre outras coisas. O único problema mesmo é com o local, às vezes claustrofóbico.

Na maioria da caverna, os es­­paços são grandes, mas há duas ou três passagens em que é necessário andar de cócoras por algum tempo. O local é bonito, mas fica melhor com o aviso da guia – para se usar a criatividade. Afinal, o Little Foot está isolado, o local onde Mr. Ples foi encontrado não diz muita coisa e só nos resta um pedaço de osso de algum antílope fossilizado.

A nossa guia convida a todos para passar o dedo na pedra. Mas o osso já está tão gasto que mais parece vidro. Seja como for, é só dar uma boa abstraída para perceber que, naqueles poucos segundos, todos, de certa forma, se conectaram com algo de milhões de anos atrás. Quando nossos antepassados, com certeza, tinham bem mais facilidade para fazer esse passeio do que nós.

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