Não consegui prestar muita atenção na partida de ontem entre Japão e Paraguai. Gosto muito de Copa do Mundo e dos embates inverossímeis que acontecem nesses jogos. Vibrei, aqui na redação, olhando lances de Nova Zelândia e Eslováquia por cima do meu computador. Mas o jogo de ontem estava chato demais, e foi torturante esticar aquele tédio para prorrogação e pênaltis.
Tanto marasmo faz a mente divagar. E comecei a pensar no povo japonês, na sua capacidade (e velocidade) de criar mitos. É só se destacar um pouco da multidão e o sujeito ganha uma legião de fãs que se vestem iguais a ele, que vira herói de mangá. Isso decerto passou pela cabeça dos jogadores na partida de ontem. Mas nem a promessa de fama fácil e de ver-se subitamente igualado a Speed Racer e Pikachu mexeu com os brios dos jogadores.
O que teria faltado ao Japão? A vontade deles de crescer no mundo da bola é grande: nos anos 80 e 90 eles importaram craques do mundo inteiro, criaram uma liga competitiva, organizaram uma Copa (ou meia Copa, já que a sede foi dividida com a Coreia do Sul) e se tornaram uma força esportiva na Ásia. E tudo o que eles fazem, fazem bem de carros a câmeras fotográficas, de garrafas térmicas a videogames. Por que então falharam em sua tentativa de chegar à primeira divisão do futebol mundial? Por que um país tão rico e criativo e, diferentemente dos americanos, apaixonado por futebol nunca conseguiu formar craques de verdade?
Nós, brasileiros, podemos dizer que os craques se formam jogando bola no campinho do bairro, e isso até é verdade no nosso país. Mas há grandes jogadores em lugares como a Holanda e a Alemanha, onde a realidade é totalmente diferente. Mesmo sem jogar bola na rua, os europeus também formam gerações de bons jogadores. A fórmula de formar grandes jogadores ainda está por ser descoberta.
Assim, temo que a especialidade dos japoneses seja mesmo a tecnologia, e que eles nunca conseguirão jogar de igual para igual com uma Argentina ou uma Itália. Muito menos com o Brasil. O que não os impede, entretanto, de sonhar alto. E nem a nós.
Para mim, o time dos sonhos japoneses poderia vir com Godzilla fechando o gol e uma linha de ataque formada por Jaspion, Ultraseven e Ultraman. Para técnico, voto no experiente National Kid, que já provou sua técnica no passado, jogando contra os Incas Venusianos.
P.S. Dois dias de pausa nos jogos. Não sei vocês, mas eu vou sentir falta. O Ministério da Saúde adverte: Copa do Mundo pode causar dependência.
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