Imagine que você seja obrigado a ser classificado por cor, como se fosse um objeto. Que fosse preso por fazer sexo com alguém de outra origem. E que, além disso, precisasse de autorização para andar na rua.
É um pouco desse sentimento indescritível, difícil de ser expressado por quem não passou por isso, que o Museu do Apartheid tentar fazer cada visitante entender. Mas sempre terá sido muito pior do que apenas uma lembrança ruim.
"Hoje, o apartheid é apenas uma história que vocês têm curiosidade. Eu mesma, às vezes, lembro dele como se não tivesse acontecido comigo. Outras vezes lembro de outra forma. Mas isso já passou", contou Princess Ngejani, 62 anos, ainda antes da Copa do Mundo começar, em uma exposição da taça que será entregue domingo, que estava ocorrendo no Soweto.
O fato de ela conviver sem mágoa com o que sofreu e manter o sorriso sem os dentes da frente a postos não deixou a frase evaporar. E aquelas palavras retornaram à mente do repórter quando, pronto para entrar no museu, foi pego pelo braço, pois não poderia passar pela porta onde estava prestes a entrar. Era a destinada aos não brancos. Os brancos, apontou, só pela do lado esquerdo.
Não é nada, mas o simples fato de se pensar que uma parte do museu nunca poderá ser visto pelo simples fato de você ser de uma determinada raça, faz pensar. A brincadeira imposta pelo museu é apenas uma preparação para se encarar o que vem pela frente.
A segregação, que perdurou de 1948 a 1994, é mostrada com imagens e fotos. A história passeia entre detalhes, personagens e atrocidades. Mortes e torturas. E sons. Discursos e passeatas que vão se confundindo entre os corredores da casa, uma espécie porão onde os visitantes convivem com a penumbra.
"Tem horas que dá uma espécie de claustrofobia, e você quer sair rápido dali", contou a turista carioca Juliana Oliveira. Ela estava com o namorado. E passavam entre uma sala cheia de forcas onde, logo depois ficavam expostas duas celas solitárias, com cerca de 2 x 1 m. Imaginar-se ali dentro por dias ou meses dá mesmo uma sensação estranha. Mas no caso dos casal, logo iriam ao parque de diversões que ficava em frente ao museu e tudo estaria resolvido.
"Vamos visitar também a mina de ouro. Tem também os brinquedos e, depois, vamos comprar algumas lembrancinhas", revelou a moça de 25 anos.
A maior peça do mostruário do Museu do Apartheid é um carro blindado, amarelo, usado pelos policiais para reprimir os negros nos anos 1980, quando explodiram os protestos nos bairros. O símbolo dessa época, contudo, é uma metralhadora AK-47.
Ao sair do pequeno labirinto, se joga uma pedra embaixo da bandeira sul-africana. As pedras estão lá e só mudam de lugar, é simbólico. Assim como as palavras escritas na parede, a última coisa a se ler depois desta viagem sensorial. A sequência crescente de palavras é uma espécie de grand finale: igualdade, responsabilidade, democracia, diversidade, respeito, reconciliação, liberdade.
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