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Árbitros e assistentes treinam para a fase final da Copa do Mundo. Diante das polêmicas, quadro ficou proibido de comentar os erros de colegas e foram evazivos sobre o uso de tecnologia no esporte | Valterci Santos/Gazeta do Povo – enviado especial
Árbitros e assistentes treinam para a fase final da Copa do Mundo. Diante das polêmicas, quadro ficou proibido de comentar os erros de colegas e foram evazivos sobre o uso de tecnologia no esporte| Foto: Valterci Santos/Gazeta do Povo – enviado especial

Censura

Fifa veta comentários de árbitros

A Fifa reuniu árbitros e bandeirinhas que estão na Copa para informar que qualquer comentário sobre tecnologia ou sobre incidentes em campo estavam vetados. "A Fifa nos proibiu de falar de decisões tomadas em campo e da tecnologia. É uma decisão de cima", afirmou o brasileiro Carlos Eugênio Simon, que já apitou dois jogos no Mundial e insistiu que o clima entre os árbitros continua "muito bom". Questionado então sobre o que poderia falar, Simon ironizou: "Vamos falar do Mandela". Nem Simon nem os demais árbitros sequer tinham a coragem de confirmar que Larrionda e Rosseti não estavam no evento com eles. O grupo também apresentou posições diferentes sobre o uso de tecnologia. "Na era da internet e da alta tecnologia, não há como a Fifa se isolar", disse o bandeirinha brasileiro Altemir Hausman. Mas há quem seja abertamente contra o uso de tecnologia. "A segurança da arbitragem é sua capacidade, não a tecnologia", disse o árbitro colombiano Oscar Ruiz. O italiano Massimo Busacca é ainda mais explícito. "Só vai complicar mais a situação", afirmou. O sueco Martin Hansson insinua que a profissionalização seria tão importante como a tecnologia para melhorar as decisões. "No meu desenvolvimento, esse foi um grande passo", disse. Hansson foi quem ignorou a mão do francês Thierry Henry no jogo que classificou o time à Copa.

Joseph Blatter precisou de alguns dias para entender tudo o que es­­tava acontecendo com a arbitragem na Copa do Mundo. Se recolheu e analisou detalhadamente os lances polêmicos que marcaram a vitória da Alemanha sobre a Inglaterra (o gol legal de Lam­­pard não foi validado) e da Ar­­gentina contra o México (Tevez estava em impedimento no lance do primeiro gol).

Passado o susto, resolveu verbalizar. Em breve comunicado oficial de 27 linhas distribuído ontem, durante a entrevista dos apitadores escalados para trabalhar no Mundial, o presidente da Fifa não só admitiu os equívocos co­­mo também pediu perdão a in­­gleses e mexicanos, já eliminados do torneio.

"Falei com as delegações do Mé­­xico e Inglaterra e disse: ‘Sinto muito’. Os equívocos foram evidentes. Eles agradeceram e aceitaram que os erros de arbitragem fa­­zem parte do jogo, embora te­­nham contribuído para suas eliminações", afirmou o dirigente.

Na prática, a entidade tomou uma medida já esperada: afastou o uruguaio Jorge Larrionda (Ale­­manha x Inglaterra), o italiano Ro­­berto Rosetti (Argentina x México) e o francês Stephane Lan­­noy (Costa do Marfim x Brasil), que não viu o gol irregular de Luís Fabiano. Também divulgou uma lista seleta com 19 apitadores ainda em ação, entre eles os três brasileiros.

O sueco Martin Hansson, que não anulou o famoso gol com o au­­xílio do braço do francês Henry nas Eliminatórias, também ga­­nhou cartão vermelho sem nem sequer ter atuado na África do Sul.

Blatter ainda lançou mão de um velho artifício para tentar conter a onda de cobranças: criou um fato novo. Voltou a falar em usar a tecnologia para solucionar lances polêmicos – como a ajeitada com mão de Luís Fabiano no lance do segundo gol do Brasil con­­tra a Costa do Marfim (20/6).

"Na minha mesa há um dossiê sobre este assunto. É evidente que há algo que deve ser mudado. Não faria sentido, perante a evidência destes erros, não reabrir o debate sobre o uso das novas tecnologias na arbitragem", afirmou, dando esperanças para quem torce pelo uso de inovações tecnológicas no futebol.

Além de diminuir a polêmica, as palavras de Blatter ajudam a Fifa e a International Board, notadamente entidades avessas a no­­vidades em relação ao "apito digital", a ganhar tempo. De acordo com o dirigente, o tema será discutido na próxima reunião do co­­legiado, no fim de julho, em Car­­diff, no País de Gales. "Nos estádios há 32 câmeras de televisão, mas o ser humano que controla o jogo tem apenas seus dois olhos", ressaltou ele.

As palavras do cartola, porém, ainda não foram ouvidas pelos su­­­­bordinados, evidenciando o ruído de comunicação. Ontem, no treinamento aberto à imprensa, em Pretória, os apitadores se dividiram em duas correntes. Uma das partes, integrada entre outros pelo brasileiro Carlos Eugênio Si­­mon, optou pelo si­­lêncio. Uma segunda ala deu de ombros para a modernização do velho apito.

"Antes de a Copa começar nós tivemos uma reunião com o responsável pela arbitragem. Ele nos proibiu de falar sobre questões técnicas e relacionadas à tecnologia", disse. "Outros esportes tentaram usar a televisão e logo desistiram. Viram que não era esse o ca­­minho. Nossa câmera é aqui [apon­­tando para os olhos]", co­­men­­tou o colombiano Oscar Ruiz.

O chefe a que Simon se refere é o espanhol José María García-Aran­­da. Ontem, em alguns mo­­mentos, chegou a ser agressivo com a imprensa na tentativa de absolver os "homens de preto". "Estamos falando de um universo bem pequeno de erros em meio a muitos acertos. Mas é assim. Des­­graçadamente vocês preferem falar dos erros", afirmou. "Parece que somos os únicos que falhamos. É como se um grande atacante nunca perdesse um pênalti", emendou.

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