Censura
Fifa veta comentários de árbitros
A Fifa reuniu árbitros e bandeirinhas que estão na Copa para informar que qualquer comentário sobre tecnologia ou sobre incidentes em campo estavam vetados. "A Fifa nos proibiu de falar de decisões tomadas em campo e da tecnologia. É uma decisão de cima", afirmou o brasileiro Carlos Eugênio Simon, que já apitou dois jogos no Mundial e insistiu que o clima entre os árbitros continua "muito bom". Questionado então sobre o que poderia falar, Simon ironizou: "Vamos falar do Mandela". Nem Simon nem os demais árbitros sequer tinham a coragem de confirmar que Larrionda e Rosseti não estavam no evento com eles. O grupo também apresentou posições diferentes sobre o uso de tecnologia. "Na era da internet e da alta tecnologia, não há como a Fifa se isolar", disse o bandeirinha brasileiro Altemir Hausman. Mas há quem seja abertamente contra o uso de tecnologia. "A segurança da arbitragem é sua capacidade, não a tecnologia", disse o árbitro colombiano Oscar Ruiz. O italiano Massimo Busacca é ainda mais explícito. "Só vai complicar mais a situação", afirmou. O sueco Martin Hansson insinua que a profissionalização seria tão importante como a tecnologia para melhorar as decisões. "No meu desenvolvimento, esse foi um grande passo", disse. Hansson foi quem ignorou a mão do francês Thierry Henry no jogo que classificou o time à Copa.
Joseph Blatter precisou de alguns dias para entender tudo o que estava acontecendo com a arbitragem na Copa do Mundo. Se recolheu e analisou detalhadamente os lances polêmicos que marcaram a vitória da Alemanha sobre a Inglaterra (o gol legal de Lampard não foi validado) e da Argentina contra o México (Tevez estava em impedimento no lance do primeiro gol).
Passado o susto, resolveu verbalizar. Em breve comunicado oficial de 27 linhas distribuído ontem, durante a entrevista dos apitadores escalados para trabalhar no Mundial, o presidente da Fifa não só admitiu os equívocos como também pediu perdão a ingleses e mexicanos, já eliminados do torneio.
"Falei com as delegações do México e Inglaterra e disse: Sinto muito. Os equívocos foram evidentes. Eles agradeceram e aceitaram que os erros de arbitragem fazem parte do jogo, embora tenham contribuído para suas eliminações", afirmou o dirigente.
Na prática, a entidade tomou uma medida já esperada: afastou o uruguaio Jorge Larrionda (Alemanha x Inglaterra), o italiano Roberto Rosetti (Argentina x México) e o francês Stephane Lannoy (Costa do Marfim x Brasil), que não viu o gol irregular de Luís Fabiano. Também divulgou uma lista seleta com 19 apitadores ainda em ação, entre eles os três brasileiros.
O sueco Martin Hansson, que não anulou o famoso gol com o auxílio do braço do francês Henry nas Eliminatórias, também ganhou cartão vermelho sem nem sequer ter atuado na África do Sul.
Blatter ainda lançou mão de um velho artifício para tentar conter a onda de cobranças: criou um fato novo. Voltou a falar em usar a tecnologia para solucionar lances polêmicos como a ajeitada com mão de Luís Fabiano no lance do segundo gol do Brasil contra a Costa do Marfim (20/6).
"Na minha mesa há um dossiê sobre este assunto. É evidente que há algo que deve ser mudado. Não faria sentido, perante a evidência destes erros, não reabrir o debate sobre o uso das novas tecnologias na arbitragem", afirmou, dando esperanças para quem torce pelo uso de inovações tecnológicas no futebol.
Além de diminuir a polêmica, as palavras de Blatter ajudam a Fifa e a International Board, notadamente entidades avessas a novidades em relação ao "apito digital", a ganhar tempo. De acordo com o dirigente, o tema será discutido na próxima reunião do colegiado, no fim de julho, em Cardiff, no País de Gales. "Nos estádios há 32 câmeras de televisão, mas o ser humano que controla o jogo tem apenas seus dois olhos", ressaltou ele.
As palavras do cartola, porém, ainda não foram ouvidas pelos subordinados, evidenciando o ruído de comunicação. Ontem, no treinamento aberto à imprensa, em Pretória, os apitadores se dividiram em duas correntes. Uma das partes, integrada entre outros pelo brasileiro Carlos Eugênio Simon, optou pelo silêncio. Uma segunda ala deu de ombros para a modernização do velho apito.
"Antes de a Copa começar nós tivemos uma reunião com o responsável pela arbitragem. Ele nos proibiu de falar sobre questões técnicas e relacionadas à tecnologia", disse. "Outros esportes tentaram usar a televisão e logo desistiram. Viram que não era esse o caminho. Nossa câmera é aqui [apontando para os olhos]", comentou o colombiano Oscar Ruiz.
O chefe a que Simon se refere é o espanhol José María García-Aranda. Ontem, em alguns momentos, chegou a ser agressivo com a imprensa na tentativa de absolver os "homens de preto". "Estamos falando de um universo bem pequeno de erros em meio a muitos acertos. Mas é assim. Desgraçadamente vocês preferem falar dos erros", afirmou. "Parece que somos os únicos que falhamos. É como se um grande atacante nunca perdesse um pênalti", emendou.
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