Felipe Melo e Kaká se abraçam para mostrar que não há diferenças entre os dois. “Pas­­saram uma imagem de mau-ca­­ratismo meu. Com o Kaká voltando de lesão, jamais iria machucá-lo”, disse o volante| Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo – enviado especial

Repercussão

"Enquanto isso, tem mulheres morrendo por causa da violência"

Robson Martins, especial para a Gazeta do Povo

Ontem o volante Felipe Melo fez um discurso politicamente incorreto, algo incomum no grupo comandado por Dunga, ao falar sobre a Jabulani, a nova bola que será utilizada na Copa do Mundo. "Digamos que a bola normal é como mulher de malandro: você chuta e ela está ali, legal. Essa bola da Copa é estilo patricinha: não quer ser chutada", disparou o atleta da seleção.

A brincadeira do jogador brasileiro não foi muito bem aceita por algumas pessoas. Uma delas é a delegada Sâmia Cristina Coser, da Delegacia da Mulher de Curitiba. "Infelizmente, alguns tratam este assunto fazendo piada. Enquanto isso, tem mulheres morrendo por causa da violência doméstica", criticou.

A delegada repudiou que tal pensamento tenha sido expressado por um representante brasileiro na Copa do Mundo. "Ele devia ser um exemplo e não fazer esse tipo de declaração infeliz", lamentou Sâmia, lembrando que inclusive as "patricinhas" têm procurado a delegacia para reclamar de maus tratos dos companheiros. "Ao fazer brincadeira com uma coisa séria, ele está desrespeitando o assunto e fomentando esse conceito."

Justamente o estereótipo preocupa Bia Barbosa, integrante da Articulação Mulher e Mídia, uma rede de ONGs que discutem a imagem da mulher nos meios de comunicação. "É complicado legitimar esse tipo de preconceito, que já existe, de que algumas mulheres gostam de ser chutadas. Isso torna-se um obstáculo para chegarmos a uma igualdade de gênero na sociedade", afirmou, lembrando que a cada 15 segundos uma mulher é agredida no Brasil.

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Na seleção de Dunga, ele tem autoridade para falar mal da po­­lêmica bola. O volante é quem mais passes distribuiu na equipe atual. Segundo o Da­­tafolha, são 46 por jogo. Con­­for­­me dados da Fifa, na Copa das Confederações do ano passado, executou em média 60 toques por duelo.

O jogador da Juventus conseguiu on­­tem fazer uma declaração inusitada. Ao dizer que a Jabulani é como uma Patri­­ci­­nha, "não gosta de ser chutada" e as bolas anteriores são co­­mo mulheres de malandro, "gostam de ser chutadas", o titular de Dunga des­­feriu o mais forte ataque ao produto da Adidas.

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Antes, o goleiro Júlio César e o atacante Luís Fabiano já ha­­viam reclamado do produto – o último a chamou de "sobrenatural", o goleiro foi direto: "Horrível".

O porta-voz da Adidas, Thomas van Schaik deu ontem a versão da empresa. "Come­­çamos a usá-la [a Jabulani] em dezembro em uma ampla variedade de ligas e todas as respostas que tivemos foram positivas. Além disso, distribuímos modelos para todas as seleções para que possam se acostumar e, pelo que parece, não aproveitaram a oportunidade."

As palavras de Felipe Melo fo­­ram justamente as mais duras, assim como boa parte de sua entrevista. O jogador es­­tava vi­­si­­vel­­mente irritado com notícias de uma suposta discussão entre ele e Kaká no treino de sá­­­­bado.

Jornais italianos chegaram a afirmar que o astro do Real Ma­­drid poderia ficar fora da Copa por conta de uma entrada de Melo. Após uma falta cometida por Ro­­bi­­nho, Kaká reagiu tirando a mão do camisa 5, que estava ao lado e levemente tocou na sua cabeça.

"Estou focado na Copa, mas caberia até um processo. Pas­­sa­­ram uma imagem de mau-ca­­ratismo meu. Com o Kaká voltando de le­­são, jamais faria isso de ariscar machucá-lo", de­­fendeu-se.

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Segundo Melo, a imprensa italiana adora "sacanear as pessoas", mas o fato de a notícia ter saído do treino do Brasil, deixou o atleta ain­­da mais irritado com o prejuízo da sua ima­­gem.

"Isso saiu do Brasil, não me lembro de onde, mas foi daqui. Até meus familiares me questionaram, ‘O que você fez com o Kaká?’. E eu não fiz nada. Foi sacanagem", afirmou, nitidamente irritado.

Na entrevista furiosa de um dos queridinhos de Dunga, so­­brou até para a seleção ar­­gen­­tina. Após uma pergunta de um jornalista do país de Ma­­radona sobre a visão da equipe de Messi entre os jogadores do selecionado canarinho, o vo­­lante provocou.

"Respeitamos a Argentina tan­­to agora quanto respeitávamos nas Eliminatórias quando ganhamos por 3 a 0 [na verdade 3 a 1]. Eles farão uma grande Copa do Mundo, mas certamen­­te ficarão atrás do Brasil", cravou.