“Vacilão, vacilão, vacilão...”: Felipe Melo precisou de seguranças para deixar o aeroporto do Rio de Janeiro. Torcida ofendeu o volante, que ficou marcado pela derrota do Brasil na Copa| Foto: Bruno Domingos/Reuters

Personagem - Foi uma facada no peito, diz goleiro

De longe, o goleiro Júlio César foi o jogador que mais sentiu o golpe da eliminação do Brasil na Copa. Do sucesso e dos holofotes da tríplice coroa conquistada pela Inter de Milão (Italiano, Copa da Itália e Liga dos Campeões), o camisa 1 da seleção brasileira virou um dos principais nomes do fracasso no Mundial.

A falha no gol de empate da Holanda na partida pelas quartas de final desvirtuou toda a equipe de Dunga. Mas, principalmente, o arqueiro ficou desnorteado. No voo que trouxe a delegação de volta ao país, o abatimento estava estampado no rosto do atleta.

"Vocês não sabem o que é essa dor. É como uma facada no peito", disse ele, um dos poucos da equipe nacional a aproximar-se dos jornalistas que estavam no avião.

Pela primeira vez titular em uma Copa (foi reserva em 2006), o goleiro afirma ter aprendido uma dura lição na África do Sul.

"É muito diferente de outros campeonatos. Não dá para errar de maneira alguma. É um segundo de bobeira e acabou", afirmou, referindo-se ao lance em que se atrapalhou com Felipe Melo na derrota para os holandeses.

Desde o jogo em que os brasileiros caíram diante da Holanda, de virada, Júlio afirmara diversas vezes que "só queria encontrar a família". O conforto veio na chegada no aeroporto do Rio, na madrugada de ontem. O jogador esvaiu-se em lágrimas ao abraçar a mãe, dona Fátima.

CARREGANDO :)

São Paulo - Na ida, pagode, risadas, conversas em voz alta e com um tom alegre. Na volta, nenhum pio e o conforto dos familiares após a eliminação. A diferença de comportamento dos jogadores e da comissão técnica brasileira no retorno da África do Sul fez o avião – em que a re­­portagem da Gazeta do Povo também voltou ao país – parecer um funeral.

Publicidade

Somente Daphine, de 2 anos, e Kléberson Willians, de 6, os filhos do meia paranaense Kléberson, conseguiram dar um ar levemente alegre à viagem. A menina veio pendurada no colo do pai em praticamente todo deslocamento, mostrando que o isolamento quase total da família implantado pelo técnico Dunga estava mesmo sendo sentido.

O capitão Lúcio e o auxiliar técnico Jorginho também estavam com os parentes mais próximos na aeronave. O zagueiro dividia a atenção entre os herdeiros e o pastor Anselmo de Oliveira, o guru da equipe nos últimos quatro anos.

Já o braço-direito do técnico (oficialmente demitido ontem ao lado do chefe), tirava fotos de todos os ex-comandados em clima de despedida. Quando o avião pousou no Rio de Janeiro, os flashes das máquinas fotográficas na primeira classe da aeronave e os abraços entre os que desciam e os que seguiriam para São Paulo demoraram.

Seis atletas (Júlio César, Thiago Silva, Gilberto, Juan e Kléberson) e mais os cariocas da comissão técnica (Jorginho, o médico José Luiz Runco e o administrador Américo Faria) ficaram no aeroporto Tom Jobim.

Melo, expulso na derrota para a Holanda, saiu rapidamente pelo saguão e foi perseguido por pessoas que o chamavam de "vacilão". Com cara de susto, en­­trou em uma camionete dirigida por seu pai que chegou a ser cercada, mas rapidamente arrancou.

Publicidade

Após duas horas de espera por causa das condições climáticas, com o restante da delegação a bordo, foi realizado último trecho da seleção percorrido sob as ordens de Dunga. A Copa acabou de vez para a equipe brasileira às 5h da ma­­nhã de ontem na capital paulista.

Na descida, jogadores como Kaká, Robinho e Luís Fabiano passaram por um procedimento antigamente pouco utilizado com ídolos da seleção. Mesmo após terem tido o privilégio de furar a fila dos que aguardavam para o protocolo de entrega do passaporte e vistoria de bagagens, os integrantes da de­­legação foram obrigados a passar pela declaração de bens da Polícia Federal.

Na saída da sala fechada, aplausos dos fãs para a iniciativa da PF. Em fila indiana, os atletas seguiram para um local reservado de onde deixaram o aeroporto de Cum­­bica sem contato com os cerca de 200 torcedores que aguardavam do lado de fora (por segurança, alegou a Infraero para evitar os pequenos incidentes ocorridos no Rio).

No entanto, dentro da área de desembarque, a briga por um autó­­grafo ou uma foto fazia a derrota em solo africano ficar esquecida. Uma torcedora chegou a gritar "valeu, Kaká!". E foi a única a receber um aceno do camisa 10.

Dunga seguiu a viagem até Porto Alegre. Acabava a saga fracassada do seu time.

Publicidade