Luís Fabiano aparenta não sentir o peso do jejum de gols pela seleção e prometeu rever seus melhores momentos para se inspirar| Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo – enviado especial

Início da Copa esvazia treino

O dia da abertura da Copa, ontem, foi no mínimo esquisito para a seleção brasileira. A sala vazia nas entrevistas coletivas na hora do almoço já indicava que a atenção ao time de Dunga não seria a mesma. Inclusive os jogadores pareciam mais interessados em África do Sul 1 x 1 México e Uruguai 0 x 0 França do que em qualquer outra coisa.

No mesmo horário da primeira partida do Mundial (16 h da África), o ônibus da equipe percorreu os cerca de 3 km entre o hotel The Fairway e a escola Hoerskool Randburg com ruas desertas. Em frente ao local de treino, ninguém para recepcionar a delegação. Lá dentro, nem metade dos jornalistas de sempre.

Ao som das constantes vuvuzelas de quem acompanhava a partida na vizinhança, era possível ouvir a euforia de quando os donos da casa abriram o placar e a decepção ao sofrerem o empate.

"A questão não é de querer ou não ver o jogo. Temos um cronograma de trabalho a seguir", ponderou o zagueiro Juan.

No campo, um treino longo, com mais de duas horas de duração. Porém, nada de coletivo. E sim muita movimentação com até três equipes (com menos jogadores) ocupando todo o gramado.

CARREGANDO :)

"O Lúcio é um cavalo", diz o zagueiro Juan

Se existe um jogador na seleção brasileira escaldado pelas contusões, esse é o zagueiro Juan. O defensor já perdeu a reta decisiva da Copa das Con­­federações de 2009, por exemplo, em virtude de uma lesão muscular na coxa esquerda. Na última temporada europeia, diversas vezes o jogador da Roma ficou de fora.

Na África, a qualquer pequena dor, o camisa 4 prefere não arriscar sua presença no segundo Mundial seguido. Foi assim antes do amistoso com o Zimbábue. Juan viajou sentindo um desconforto no músculo posterior da coxa esquerda e nem pensou em entrar em campo.

Às vésperas da estreia, o conselho da comissão técnica do Brasil é para todos treinarem forte, mas com inteligência. Por ora, o time da Copa 2010 está conseguindo passar ileso ao período de preparação, sem contusões graves. Desde 1994, alguém sempre é cortado antes da estreia.

Como Juan não vê riscos de uma tragédia acontecer com ele, agora, os questionamentos são sobre o parceiro na sólida zaga. Lúcio, capitão da Inter de Milão, jogou até 22 de maio (final da Liga dos Campeões) e ainda não havia se recuperado totalmente de um período afastado por lesão. Para o colega de função na defesa, nada preocupante. "O Lúcio é um cavalo. Vai estar bem para a estreia", aponta.

Para a maioria dos jogadores da seleção brasileira, atender a im­­prensa é um enorme sacrifício. Os rostos geralmente sisudos não permitem respostas descontraídas ou alegres. Luís Fabiano foge a essa regra.

Publicidade

O camisa 9 do Brasil já entra na sala de coletivas com um sorriso de orelha à orelha. Sempre animado e bem humorado, cumprimenta (mesmo que à distância) cada um que lhe endereça uma pergunta.

Para o deleite dos profissionais da mídia, a cada resposta do centroavante, uma declaração útil e geralmente com sacadas fora do normal. A bola, os adversários, a seleção, a falta de gols... Tudo é motivo para fazer o Fabuloso rir e alfinetar.

Na primeira vez em que foi selecionado para falar, no dia 30 de maio, o jogador já havia dito que a Jabulani é "sobrenatural, parece guiada por alguém", arrancando a gargalhada geral.

Ontem, ele não deixou por menos. No entanto, dessa vez, o alvo da originalidade de Luís Fa­­biano foi a seleção da Argen­­tina. Após o experiente meia Verón dizer que "samba é com os amarelos" e "que não se ganha a Copa só com alegria", o atleta do Se­­vilha, da Espanha, mandou o seu recado.

"Se eles não são felizes, problema deles. O Brasil é o país da alegria, do samba, do carnaval e de festas. É normal termos essa alegria no trabalho. Isso é algo que uns têm e outros, que são amargurados na vida, não têm", afirmou o parceiro ofensivo de Robinho.

Publicidade

A graça do atacante não parou por aí. E os argentinos mais uma vez foram as vítimas da descontração. Diego Maradona, o técnico dos hermanos, classificou sua equipe como um Rolls Royce pilotado por Lionel Messi. O artilheiro brasileiro acha a equipe de Dunga bem mais potente do que sua mais tradicional rival.

"Nossa equipe é um jato que esta aí ‘sshhhuuuuuuu’ [reproduzindo o som de um avião e o fazendo "decolar" com o movimento da mão]. Estamos voando baixo", disse, com um bom humor provocativo, praticamente inexistente no futebol atual depois que Romário se aposentou de vez.

Nem mesmo para falar do jejum de gols pelo qual passa com a camisa amarela, o centroavante muda o tom. Assistir vídeos com suas bolas na rede é o passatempo na concentração para esquecer o mau desempenho recente.

Em cinco partidas (Inglaterra, Omã, Venezuela, Zimbábue e Tanzânia), o goleador passou em branco. A última vez em que ba­­teu um goleiro rival pela seleção foi diante da Argentina, nos 3 a 1 de Rosário, em setembro do ano passado, pelas Eliminatórias.

A missão de Luís Fabiano é acabar com a seca na estreia, diante da Coreia do Norte, para firmar-se ainda mais como o artilheiro do período Dunga na equipe pentacampe㠖 por ora, tem 19 gols em 26 partidas. "Podem ter certeza que na estreia o meu ritmo será outro em relação a esses amistosos", garante, alertando que os testes serviram para dar o embalo necessário na competição.

Publicidade