Depois da conturbada experiência sul-africana, e mal-acostumada com 20 anos organizando a Copa em países ricos, a Fifa agora prepara uma reforma completa do Mundial para evitar novos problemas no Brasil em 2014. A venda de ingressos e pacotes, o esquema da arbitragem, os prazos para os estádios e até os prêmios às seleções serão revistos. Segundo a entidade, o evento deste ano, na África do Sul, serviu de lição para o que ocorrerá daqui a quatro anos em território brasileiro.
Nesta sexta-feira, em sua última entrevista com a imprensa internacional antes da Copa, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, tentou dar uma mensagem positiva. "Estamos prontos. A África do Sul está pronta e poderíamos até começar o Mundial em poucos dias, se fosse necessário", disse o dirigente, em Zurique, na Suíça.
Blatter também admitiu que não há como garantir totalmente a segurança durante a Copa, mas lembrou que esse não é o primeiro torneio a ser sediado pelos sul-africanos. Segundo ele, ainda restam 300 mil ingressos disponíveis para venda. Esse número, porém, deve cair bastante nos 47 dias que faltam para o início do Mundial.
"Nossa projeção é de que teremos 95% dos lugares nos estádios ocupados", disse Blatter. Isso significaria que cerca de 100 mil entradas, total de 2,88 milhões colocadas à venda, irão sobrar. O presidente da Fifa, no entanto, lembrou que essa taxa é a mesma da Copa de 2006, na Alemanha.
Mas, para atingir esse número de 95%, a Fifa teve trabalho. Reduziu preços no último momento e foi obrigada a vender ingressos até nos supermercados sul-africanos. Financeiramente, a entidade também foi obrigada a injetar US$ 100 milhões para salvar a organização local e compensar as perdas com a receita de entradas. No que se refere aos estádios, enfrentou atrasos importantes e até greve de trabalhadores.
"Isso tudo será uma boa lição para o Mundial no Brasil", afirmou Jerome Valcke, secretário-geral da Fifa. "Temos de pensar em novas políticas para 2014."
A preocupação tem um motivo: a Copa representa praticamente toda a renda que a Fifa obtém a cada quatro anos. Com o dinheiro, financia todos seus outros torneios, que são deficitários. O problema é que, depois de realizar cinco edições consecutivas em países ricos, desde 1990, enfrenta agora a realidade de dois países emergentes: África do Sul e Brasil.
Blatter insistiu nesta sexta-feira que a Copa não deve ir "apenas para onde é fácil organizar" e que "todos devem ter o direito de ter um Mundial". Mas não escondeu a necessidade de defender seu produto mais valioso. "A Copa é o maior evento do mundo. Mas é também a única fonte de renda para a Fifa e é o que nos permitiu chegar onde estamos."
Para 2014, portanto, a meta é a de estabelecer centros de venda de ingressos em diversos países e ampliar o número de entradas que cada pessoa poderá adquirir. Isso, segundo a Fifa, garantirá que grupos de amigos possam programar viagens ao Brasil para o Mundial.
A Fifa está consciente do obstáculo que representa uma Copa na África do Sul ou no Brasil para atrair estrangeiros. Mas tanto Valcke como Blatter indicam novas estratégias para evitar que o Mundial de 2014 não se transforme em apenas uma festa local.
Na África do Sul, a estimativa inicial era de que 450 mil estrangeiros desembarcariam no país para a Copa. Nesta sexta-feira, porém, Valcke admitiu que o número não passará de 360 mil. "É um aprendizado para o Brasil, mesmo que o País tenha um maior número de voos", disse Blatter.
Faltando apenas 47 dias da abertura da Copa, Blatter reconheceu nesta sexta-feira que, mesmo dentro da Fifa, membros do Conselho Executivo eram contra levar o torneio para a África do Sul. "Sem a rotação entre continentes, não teríamos Copa lá", explicou o presidente, lembrando que levar o evento para a África foi uma de suas prioridades desde que assumiu o cargo em 1998.
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