O cordão de isolamento da Polícia Militar não evitou que cerca de 3 mil fãs da seleção brasileira tivessem contato com os ídolos. Kaká foi o mais assediado pelo público| Foto: Jonathan Campos/ Gazeta do Povo

Segurança

PM coloca 200 na ação

O Aeroporto Afonso Pena nunca recebeu um público tão grande. Tampouco tamanha segurança po­­licial. Para garantir a ordem no embarque da seleção brasileira à África do Sul (com escala em Bra­­sília), a PM deslocou 200 homens e 41 viaturas.

Embora a própria polícia tratasse a ação como "precaução", foram qua­­se dez policiais para garantir a integridade de cada jogador do time de Dunga. Ontem, quase 5 mil fãs foram se despedir da equipe. Três mil pessoas estavam no Aeroporto.

O cordão de isolamento tinha cerca de 50 metros e levava até o portão de embarque. Após o raio-x, uma nova barreira foi montada, desta vez para evitar que passageiros de outros voos chegassem ao elenco. Literalmente, os jogadores andaram cercados por policiais da saída do ônibus até a porta do avião.

"Acho que do ônibus até a aeronave cada jogador não demorou mais do que dois minutos", analisou o gerente de segurança do Afonso Pena, Marcio Villatore.

O percurso do CT do Caju ao aeroporto também foi tranquilo. A seleção saiu com 10 minutos de antecedência da propriedade atleticana. Foi acompanhada de sete batedores e mais seis viaturas da PM, o que garantiu livre acesso por onde cruzava. Mas o trabalho foi pequeno. O ônibus passou por lugares poucos movimentados e, do Sítio Cercado, pegou o contorno Leste e a BR-376, voltando para São José dos Pinhais, saindo quase dentro do Afonso Pena. No total, 15 minutos, com buzinadas enloquecidas de várias motos que perseguiam, como em uma veloz procissão, o ônibus da seleção.

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Em meio à gritaria de "sou brasileiro com muito orgulho e com muito amor", Kaká interrompe a caminhada para dar atenção a duas jovens torcedoras espremidas em meio a uma multidão histérica no saguão de embarque do Aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais.

O jogador até cogita fazer a vontade das fãs, colocando a assinatura em uma página do caderno reservado apenas para isso. A boa-intenção do principal nome da seleção brasileira, no entanto, é rechaçada de imediato por um policial, preocupado com a segurança do craque – e com um possível movimento que poderia romper o cordão de isolamento de aproximadamente 50 metros (espécie de corredor polonês) montado pela Polícia Militar.

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"Não faz mal. Se não conseguimos pegar o autógrafo agora, pegamos em 2014, quando vamos estar um pouquinho mais velhas", resignou-se Nicolle Pissinin de Oliveira, 11 anos, referindo-se ao Mundial a ser disputado no Brasil. "O importante foi ver todos os jogadores. E pensando bem, fomos até privilegiadas, porque cumprimentamos o Kaká e o Robinho quando eles nos estenderam a mão", emenda Amanda Silveira Marcondes, também de 11 anos.

A cena é o ponto alto de uma relação que começou de forma conturbada. Ao desembarcar em Curitiba pelo portão dos fundos do aeroporto, na sexta-feira, e tran­­car os portões do CT do Caju, a seleção ganhou a antipatia do público como resposta. Gritos de "Argentina" e xingamentos a Dunga deram o tom das cobranças. Isolados dentro do QG montado pela CBF, os jogadores procuravam justificar a opção do treinador pelo isolamento.

"Não existe blindagem", decretou o volante Gilberto Silva, um dos primeiros a falar com a imprensa durante o início da preparação para a Copa da África do Sul. Do lado de fora, torcedores invadiam terrenos baldios enlameados por causa da chuva e se esgueiravam rente a muros e árvores na busca de um aceno dos ídolos – improvisação que não contava com a complacência dos seguranças, sempre prontos para fazer os "espiões" correrem.

"É o Robinho, é o Robinho... Eu vi o Robinho", dizia um. "Que Robinho nada. É o Grafite", retrucava outro. Era Michel Bastos, o lateral-esquerdo que arrumou um lugar entre os 23 convocados nos minutos finais do fechamento da lista.

Os dias iam se passando e Rodrigo Paiva, diretor de comunicação da CBF, procurando argumentos para justificar o distanciamento. "Algum contato com a torcida vai existir, mas tudo tem de ser planejado. Aqui já houve problema no aeroporto", afirmou ele na segunda-feira pela manhã, lembrando da invasão de coxas-brancas em 2006. Horas depois, um sinal de Dunga com as mãos eliminou a barreira. A cancela do CT estava erguida.

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O protesto virou incentivo de imediato. Ao posar para fotos beijando crianças surdas (algumas também mudas) de uma escola especial que visitou a concentração, os jogadores mostraram que não pertencem à classe dos meninos ricos e descompromissados.

A reconciliação foi concluída com o grupo inteiro no portão do complexo esportivo, de mãos dadas com a galera. "No começo a postura era de restrição total, mas depois viram que o povo curitibano é tranquilo, tanto que abriram os portões do CT e não houve problema nenhum", ressaltou o coronel Jorge Costa Filho, chefe do policiamento da capital.

Aí foi só cantar, pular e gritar no aeroporto. Ou tentar um pouco mais, como fez a estudante Taís Ferreira, 17 anos. Quando Júlio César estendeu a mão para cumprimentar os torcedores, a menina puxou o goleiro em sua direção, tendo de ser afastada pelos policiais. "Eu amo o Júlio César e o Kaká. Eles são tudo para mim", disse a fã, no embalo do "sou brasileiro com muito orgulho e com muito amor".