Juan pede punição aos árbitros
Juan não tem o perfil de porta-voz. Introspectivo, prefere o silêncio. É uma espécie de líder zen da seleção brasileira. Enquanto a turma comandada por Robinho dá risada e faz dancinhas para comemorar o bom desempenho na "roda de bobinho", ritual que marca o início de todos os treinamentos da seleção brasileira, ele prefere a distância, como se pedisse para que aquilo tudo terminasse logo. Foge também do pessoal do fundão na corrida. Vai lá frente, guiando o grupo ao lado do preparador físico Fábio Mahseredjian.
O zagueiro, porém, inverteu a lógica ontem. Aproveitou o sofrimento do amigo Elano, praticamente fora da Copa do Mundo por causa de uma pancada no tornozelo direito, para deixar a timidez de lado. Cobrou mais rigor dos árbitros em relação à violência, responsável por três baixas no time nacional Felipe Melo e Júlio Baptista completam a lista de enfermos.
"Lamento profundamente que alguém queira machucar um colega de profissão. Engraçado que com o Brasil todo mundo é mais rigoroso. Qualquer falta e já levamos cartão", afirmou o camisa 4. "Outra coisa: o prejudicado tem de ser quem bate, nunca o Elano por exemplo", emendou.
Juan fala com conhecimento de causa. Em quatro partidas não precisou levar ninguém ao chão. A única falta que cometeu foi com as mãos, ao interceptar um lançamento para Cristiano Ronaldo. Recebeu o amarelo como punição. "É o meu estilo de jogo."
O desempenho ao lado de Lúcio virou tema de todas as entrevistas da seleção brasileira. Já quem classifique a dupla como a melhor zaga do mundo. Rótulo que, evidentemente, não faz a cabeça de Juan. Pelo contrário. O jogador chega a reclamar do assédio em determinado momento, no início da carreira no Flamengo, pediu para não falar com os jornalistas. "Nem eu nem o Lúcio pensamos em ser o melhor do mundo. Não estamos aqui para isso. O êxito é dividido com os companheiros. Em muitos casos são eles que começam a marcação lá na frente, facilitando o nosso trabalho", comentou, antes de receber a autorização para deixar a sala repleta de repórteres do Randpark Golf Club. Ali não é a sua praia.
A CBF optou pela cautela. Fez de tudo para evitar o termo "cortado". Mas o fato é que Elano tem poucas chances de voltar a campo nesta Copa. Culpa da pancada que levou do marfinense Tioté no tornozelo direito. O traumatismo chegou a enganar os médicos. Na segunda-feira, logo após a vitória do Brasil sobre o Chile, José Luiz Runco confirmou a liberação do meia para o confronto de amanhã, às 11 horas (de Brasília), contra a Holanda, em Port Elizabeth quartas de final do Mundial.
Para justificar a permanência do apoiador, apenas a norma da competição, pois o regulamento da Fifa não permite que se chame um substituto nesta situação.
Elano, porém, não suportou o impacto com o gramado. Por isso deixou o treino de terça-feira cabisbaixo. Reclamou de ainda sentir "um incômodo no local machucado". O exame, realizado ontem em Johannesburgo, apontou um edema ósseo. O tempo de recuperação é indeterminado. "Pode levar horas, dias ou semanas. Mas eu não seria tão categórico para falar em corte. Vamos ver se na próxima semana ele consegue voltar", explicou Runco, diretor médico da seleção. "Agora é contar com a ajuda da natureza e do Papai do Céu", emendou, invertendo o otimismo do comentário anterior.
Foi Elano quem pediu para falar com a imprensa ontem. Queria dar sua versão, evitando assim novas polêmicas. "Vou colaborar com a seleção independentemente da função. Pela minha história de vida não posso desistir. Tenho muita fé em Deus de que vou voltar", ressaltou ele, que, na melhor das hipóteses, participaria da decisão, no dia 11 de julho.
O resultado da ressonância magnética confirmando a gravidade da lesão de Elano obrigou Dunga a rever os planos. Terá necessariamente de mexer na base, abrindo espaço para o curinga Daniel Alves. O time também muda de característica. Elano é de guardar mais a posição, ajudando Gilberto Silva e Felipe Melo na marcação. Já o lateral do Barcelona costuma girar no campo. "Desobediência tática" que em alguns momentos impediu o avanço de Maicon contra os chilenos.
As estatísticas também revelam diferenças entre eles. Elano é mais efetivo. Tem uma pontaria mais afinada acertou 2 dos 3 chutes a gol. Vence o confronto também no quesito assistências (1 a 0). Daniel Alves se destaca em outras áreas. O baiano é melhor nos passes (74% a 62%) e nos lançamentos (65% a 44%). Em relação aos cruzamentos há um empate técnico (5 a 4 a favor de Elano).
"Prezo muito a união que temos aqui. O pessoal vem conversar comigo diariamente, perguntar da recuperação. Às vezes, mesmo mal conseguimos vencer. Sou mais um para colaborar", disse o camisa 7, a primeira baixa na "Família Dunga". "É trabalhar e ter paciência. E pedir para o povo brasileiro continuar rezando por mim". E por Daniel Alves.
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