Cenas de Harare: torcida festeja a visita brasileira, meninas se rendem a Kaká e ambulantes vendem pratos típicos| Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo – enviado especial
Confira os últimos resultados das seleções que vão disputar a Copa

A maior preocupação do Zim­­bá­­bue com a exposição mundial causada pelo amistoso contra o Brasil, ontem, era a de limpar a ima­­gem do país no exterior. Queimado por ter altos índices de desemprego e violência, a terra do ditador Robert Mugabe, no poder há três décadas, tenta atrair investimentos externos para melhorar o caos econômico e social.

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Pensando nisso, o presidente zimbabuano não perdeu a chance de, instantes antes do apito inicial, chegar de Mercedes, desfilar pela pista e cumprimentar os 22 jogadores. Uma visita da delegação da CBF também estava nos planos do regime, mas a ideia foi vetada por Dunga.

Ovacionado mais até do que Kaká (outro tido como ídolo pela população), o governante nem viu a bola rolar e foi embora.

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O governo já havia usado a partida como podia para mostrar ao resto do mundo que as coisas não são bem como as retratadas. Nem que para isso tivesse de bancar uma viagem para jornalistas às Victorias Falls (Quedas de Victoria), atração turística na fronteira com Moçambique.

Não seria necessário para apresentar as qualidades do Zimbábue. Apesar da limitação financeira, durante o dia, as ruas são transitáveis, praças arborizadas e não se percebe um clima de insegurança. Já à noite, quase sem iluminação pública, a situação muda.

"Aqui existe uma pobreza digna. É o segundo país da África com mais alfabetizados (perde para a Tunísia). Hoje isso aqui é uma ma­­ravilha perto do que já foi", co­­menta Raul Taunay, embaixador brasileiro em Harare.

O volume de pessoas desocupadas em pleno horário comercial, no entanto, não garante nenhum indício de desenvolvimento.

A polícia age com rigor contra quem desrespeita as ordens governamentais. Ao redor do campo, nos deslocamentos da seleção e dos jornalistas estrangeiros, um aparato com soldados da guarda nacional armados até os dentes.

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Segurança para evitar problemas comuns. Por falta de liberdades individuais e repressão aos fazendeiros brancos das áreas rurais, a organização Repórteres Sem Fronteiras e a Anistia Inter­­na­­cional condenaram a passagem brasileira pelo lugar.

Nada que altere a visão que o povo tem de Mugabe. Sua imagem está por todos os lados. Até nos hotéis. Redes internacionais foram expulsas nos últimos anos e o go­­verno controla as que ficaram.

"Ele um herói nacional. Ficou onze anos detido em uma prisão rodesiana (Rodésia era o nome anterior do Zimbábue) e saiu para fazer a independência em 1980", explica o embaixador, sobre a ex-colônia inglesa.

Status que faz a população se preocupar mais com o futebol do que com as mazelas locais. "Agora é hora de futebol. Não misturamos política com futebol", desconversou Aubrey Mnyika, de 23 anos, apenas um dos milhões de fãs incondicionais de Mugabe.