O país do futebol-arte, dos dribles e dos gols em profusão virou o país dos volantes. Essa é uma das leituras que se pode fazer da convocação de Dunga para a Copa, anunciada na terça-feira, no Rio de Janeiro. Na contramão das outras seleções campeãs do mundo, o Brasil levará apenas quatro atacantes à África do Sul. Os titulares Robinho e Luís Fabiano mais Nilmar e Grafite. Diego Tardelli, do Atlético-MG, fica de sobreaviso em caso de contusão.
Tomando por base a pré-lista com 30 nomes exigida pela Fifa, a campeã em ofensividade é a França (9 avantes), seguida pela Argentina (7), Itália (7), Alemanha (6) e Uruguai (6). A Inglaterra, por sua vez, se espelhou no estilo cauteloso de Dunga, inscrevendo cinco atacantes no Mundial.
A ausência de artilheiros abriu espaço para a proliferação de volantes na seleção, posição de Dunga na época de jogador. Dos oito nomes chamados para o meio de campo, somente Kaká nunca atuou como marcador. Gilberto Silva, Kleberson, Felipe Melo e Josué ainda fazem da proteção à zaga o seu ofício. Já Ramires, Julio Baptista e Elano, em algum momento da carreira, passaram pela cabeça de área.
Com Ronaldo em péssima forma física, Fred contundido e Adriano cercado por problemas disciplinares para ficar nos três centroavantes chamados por Carlos Alberto Parreira para a Copa da Alemanha, em 2006 , a camisa 9 do Brasil sobrou limpa para Luís Fabiano.
Será originalmente do Fabuloso (apelido herdado dos tempos de São Paulo) a missão de fazer os gols que podem levar o Brasil ao sexto título mundial. Posto que nas Copas anteriores coube a matadores com um currículo bem mais vistoso do que o do atacante do Sevilla (Espanha) 38 jogos e 25 gols com o uniforme verde e amarelo. Careca era a referência da linha de frente em 86 e 90. Função que passou por Romário (94) e, mais recentemente, por Ronaldo (98, 02 e 06), dois dos "melhores do planeta" eleitos pela Fifa.
"É uma momento muito bom, estou me sentindo muito bem. Nessa reta final do Campeonato Espanhol tenho feito gols, jogado bem e isso é importante. Vou chegar na Copa do Mundo em condições de ajudar o Brasil", afirmou Luís Fabiano, logo após o seu retrato ter aparecido no telão do Hotel Windsor, carimbando o passaporte para a África.
A mudança conceitual implantada por Dunga e Jorginho (auxiliar e braço direito do técnico) chamou a atenção do universo da bola. Por aqui, como era de se esperar, sobraram críticas ao defensivismo. "O cara só levou volantes! Isso pode complicar um pouco. E se o Brasil precisar virar um jogo, como será? Ele vai olhar para o banco e não ver ninguém", disse o ex-jogador Sócrates, um dos protagonistas da geração que encantou o mundo pelo "futebol de espetáculo" no Mundial da Espanha, em 82.
Ronaldo não quis ser tão explícito. Mas não deixou de alfinetar, via Twitter, as escolhas do ex-companheiro. "[Vou] pensar um pouco para não escrever besteira", publicou, na sequência do anúncio oficial. "Óbvio que todos têm sua preferência. Nos resta torcer e acreditar no Dunga. E minha solidariedade para todos que ficaram de fora", emendou, depois de se acostumar com a notícia.