Dunga acompanhou parte do treino físico da seleção. Apenas amanhã deve ocorrer um trabalho com bola em Curitiba| Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo

Personagem - Gilberto Silva pede estátua para Ronaldo, Cafu e Roberto Carlos

Duas Copas, 110 convocações e 91 partidas disputadas pela seleção brasileira. O currículo transformou o contestado Gilberto Silva, um mineiro típico, de voz pausada e baixa, em conselheiro. O volante, remanescente da geração vitoriosa de 2002 que naufragou no Mundial da Alemanha, saiu ontem em defesa dos antigos companheiros, criticados pelo excesso de liberdade há quatro anos.

"Não concordo quando dizem que parte daquela seleção não teve comprometimento. Cafu, Roberto Carlos e Ronaldo mereciam estátuas no museu do futebol brasileiro e até no do futebol mundial pelo o que fizeram", afirma ele, que não concederia a mesma reverência ao atual grupo chamado por Dunga. "Fizemos muito pouco para ser comparado".

Por ter vivido os dois momentos – o "maravilhoso e o dolorido" nas suas palavras –, Gilberto Silva ensina o caminho a seguir. "A primeira fase é o nosso maior rival. Não adianta pensar lá na frente, em Espanha, Argentina e Inglaterra. Um passo de cada vez, por etapas", diz, em tom professoral, mostrando uma certa preocupação com a pouca informação sobre a Coreia do Norte, primeira adversária do Brasil na África, dia 15, em Johannesburgo. "A estreia é muito importante, sempre".

A experiência ensinou também o meia a não polemizar. Nem quando o assunto trata diretamente de sua função, do excessos de marcadores convocados para a Copa. "Essa questão de volantes não vou nem entrar em debate, não vale a pena", opina. (CEV e RL)

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Torcida gita "Argentina" em protesto contra o isolamento

Os fãs perderam a paciência ontem à tarde no CT do Caju. Debaixo de uma garoa fria, a torcida pela primeira vez xingou o técnico Dunga desde que a equipe chegou a Curitiba, na sexta-feira. Tudo por causa do isolamento dos jogadores, que até agora não tiveram contato algum com o público.

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Angustiado com o papel de coadjuvante de um quarteto que dentro de campo não funcionou na Copa 2006, Kaká projetou dar a volta por cima no Mundial da África do Sul. Sem a sombra de Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e Adriano, barrados por questões físicas e pela lógica de Dunga, o meia do Real Madrid ficou com o caminho livre para exercer sua liderança técnica – e espiritual – sobre o renovado grupo.

Os jogadores estão fechados com o astro. Até quem poderia se aproveitar da ausência do camisa 10 para ficar com uma vaga no time titular discursa em seu favor. "Kaká vai fazer uma Copa espetacular, estou confiante nisso", diz o lateral-direito Daniel Alves, cotado para migrar para o setor de armação. "Ele é insubstituível", emenda o paranaense Kléberson.

Um dos mais experientes nomes do elenco, Gilberto Silva encerrou a entrevista de ontem em tom profético: "O Kaká está chegando devagarzinho", avisa o pentacampeão.

Frase que vai ao encontro do pensamento usado pelo meia, no Twitter, para abrir o domingo: "Creia que no tempo de Deus o mar irá se abrir. Vivendo pela fé!"

No sábado à noite, fugindo um pouco de suas características, o melhor do mundo em 2007 (segundo a Fifa) participou de uma animada roda de samba no blindado complexo rubro-negro. Hora de descontração revelado em seu Twitter – um dos poucos passatempos, ao lado dos tradicionais pebolim, bingo, sinuca e pingue-pongue, liberado por Dunga. "Momento samba!! JB [Júlio Baptista], Roby [Robinho], Dani [Daniel Alves] e o resto na palma...", escreveu ele, que, evangélico fervoroso, anunciou que disputará a Copa com uma nova inscrição na chuteira: "Jesus in first place" (Jesus em primeiro lugar).

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As "pedras no caminho" são o único empecilho para o principal armador de Dunga. Dores no púbis e uma sequência de contusões na coxa esquerda transformaram o mais importante jogador da seleção em uma incógnita. Ele jogou muito pouco na Espanha em 2010. Foram quase três meses no departamento médico, o que lhe rendeu críticas de parte da torcida. Não empolgou nem brilhou, fechando a temporada ofuscada pelo português Cristiano Ronaldo.

Em fase final de recuperação da nova contratura muscular, Kaká decidiu se apresentar mais cedo à seleção. Um dia antes de o restante do grupo desembarcar em Curitiba (na sexta-feira), já estava no CT do Caju ao lado do fisioterapeuta Luiz Alberto Rosan.

Ontem, por precaução, não participou da corrida em volta de um dos gramados do complexo rubro-negro. A previsão é que se junte hoje, como Luís Fabiano (também contratura na perna esquerda), aos treinos físicos. O meia aposta no ambiente favorável da seleção para fechar o ciclo esboçado há quatro anos.