Dunga acerta obstáculo no campo para a equipe treinar drible e movimentação| Foto: Valterci Santos/ Gazeta do Povo – enviado especial

Treino

Gols saem apenas em rachão

Depois de dois treinos coletivos e mais de 60 minutos de jejum, a seleção brasileira, enfim, balançou a rede em Johannesburgo. Mas não valeu muito. Os gols, em profusão, saíram no animado rachão que marcou a véspera do amistoso contra o Zimbábue – hoje, às 10h30 (horário de Brasília). O treino foi marcado pela descontração e pelo triunfo dos verdes (time de Kaká e Luís Fabiano) sobre os azuis (equipe de Robinho e Júlio César). A cada troca de passes que resultava em gol, Kaká e Luís Fabiano se cumprimentavam com "peitadas", copiando a comemoração dos jogadores da NBA, a liga de basquete norte-americana.

Kaká seguiu com a delegação para Harare, mas ainda é presença incerta no penúltimo amistoso do Brasil antes da estreia no Mundial, dia 15, contra a Coreia do Norte – o time de Dunga encara ainda a Tan­­zânia, no dia 7, na fase de preparação.

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Dunga não está mais sozinho na tarefa de motivar os jogadores da seleção brasileira. Desembar­­cou ontem logo cedo em Johan­­nesburgo (madrugada no Brasil) o pastor Anselmo Alves, 51 anos, es­­pécie de guru oficial do time nacional desde a Copa do Japão e da Coreia do Sul, em 2002.

En­­quanto o treinador ficará encarregado de municiar o grupo usando artimanhas psicológicas, o religioso tratará mais do aspecto espiritual de parte dos convocados.

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Ex-lateral-direito com passagem discretíssima pelo Atlético nos anos 80, o evangélico pertence à Primeira Igreja Batista de Curitiba (IBC). Seus sermões e conselhos podem ser ouvidos no portentoso templo da IBC, encravado no coração do Batel, badalado bairro da capital paranaense.

Entrou para o atual mundo da bola por meio de jogadores co­­nhecidos, como o ex-paranista Lúcio Flávio, atualmente no Bo­­tafogo. Mas foi a amizade com outro Lúcio que o aproximou da seleção. O pastor viajou ao Oriente há oito anos para atender a um pedido dos atletas. E estreitou laços com o atual capitão da equipe de Dunga durante a caminhada para a conquista do penta.

Alves ajudou o zagueiro a se reerguer após a falha no gol do inglês Michel Owen, nas quartas de final do torneio – o Brasil, com Rivaldo e Ronaldinho Gaú­­cho, conseguiu virar o placar e seguir a diante. "Para mim a receita é aprender com Deus: Ele nos diz que tudo é passageiro", disse Lúcio, em entrevista recente à Rede Globo.

O defensor divide com Kaká, cuja chuteira trará os dizeres "Jesus em primeiro lugar" (escrito em inglês) durante a Copa, a liderança da ala evangélica da seleção.

Integram também o grupo Luís Fabiano, Luisão, Daniel Alves, Felipe Melo, Gilberto Silva e Jorginho, auxiliar direto de Dunga. O núcleo se reúne seguidamente para orar no fechado Hotel Fairway, concentração do país na África.

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Nas raríssimas folgas concedidas pela CBF, é provável que o culto seja celebrado por Alves fora do ambiente da seleção. "Tranquilo... Deus está no controle de tudo!", escreveu re­­centemente em seu Twitter (rede de microblogs na internet) o camisa 10, um dos presbíteros da Igreja Renascer em Cristo, do apóstolo Estevam Soares – preso em 2007 nos Estados Unidos por tentar entrar no país com dólares não declarados.

Alves tem evitado a imprensa. Surpreendido com o pedido de entrevista, não quis falar com a Gazeta do Povo durante rápido contato em uma cafeteria do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, na segunda-feira – fazia conexão para chegar à África do Sul. "Não tem porquê", resumiu ele, encerrando a conversa.