Sucessão - Teixeira demite de bate-pronto
Jorginho foi o primeiro ontem a defender a permanência de Dunga. Depois, o próprio treinador admitiu a hipótese de ficar na seleção ao chegar a Porto Alegre. As declarações dos dois no Brasil anteciparam a demissão de todos os integrantes da comissão técnica. No início da tarde, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, mandou embora Dunga e sua equipe, que comandaram a seleção brasileira na fracassada campanha na Copa.
Além do treinador gaúcho, o auxiliar técnico Jorginho, o supervisor Américo Faria e o médico José Luiz Runco perderam seus cargos. Outros funcionários da confederação também sairão do corpo técnico da equipe nacional. A rápida operação montada por Teixeira para demitir Dunga começou logo após o dirigente tomar conhecimento do discurso de Jorginho pró-Dunga no saguão do aeroporto internacional do Rio. Ele disse que Dunga deveria reconsiderar a sua decisão e continuar no cargo.
Em seguida, o dirigente soube que o treinador não descartara a possibilidade de se manter no comando da equipe nacional ao desembarcar em Porto Alegre. Para evitar que o assunto se arrastasse até sua chegada ao Brasil, Teixeira preferiu demitir toda a comissão técnica. De Johannesburgo, ele telefonou para Dunga e lhe agradeceu pelos anos de trabalho. E comunicou ao treinador que ele estava fora dos seus planos para comandar a seleção no Mundial de 2014. A conversa foi curta, e o técnico não contestou o dirigente.
Dunga foi uma das mais altas apostas de Teixeira. Após a derrota do time nacional para a França (1 a 0) na Copa da Alemanha 2006, o capitão do tetra, que nunca tinha comandado uma equipe, foi contratado pelo dirigente com a missão de "disciplinar os jogadores e resgatar o prestígio da seleção.
O treinador se desgastou muito na CBF ao travar com a Globo uma disputa inédita contra o tradicional acesso da emissora à seleção.
A escolha do novo comandante sairá até o fim do mês.
Porto Alegre - O técnico Dunga considerou a eliminação do Brasil da Copa do Mundo uma "fatalidade", sustentou que a seleção assumiu a atitude adequada à principal competição do futebol e espera que ela persista nessa postura. "É um trabalho que deve ser mantido para buscar os futuros resultados", afirmou, ao chegar a Porto Alegre, onde mora, ontem.
Aplaudido ao chegar ao estacionamento do Aeroporto Internacional Salgado Filho, o treinador referiu-se ao carinho dos torcedores como uma manifestação de quem viu o trabalho que foi feito e assegurou que não voltaria atrás nas decisões que tomou.
"É aquilo que nós tínhamos projetado desde o início, de resgatar esse amor em redor da seleção brasileira, de a seleção ser muito parecida com o povo, trabalhadora, foi aquilo que fizemos", disse. "O povo viu que os jogadores estavam comprometidos, focados; ninguém viu polêmica, bagunça, (ficaram) 42 dias juntos sem nenhum atrito, cada um buscando seu espaço, tentando representar o Brasil da melhor maneira".
Mesmo reiterando que o trabalho foi aquele que havia sido planejado, Dunga admitiu a decepção ao falar de seus sentimentos diante da eliminação precoce da Copa do Mundo. "A sensação é que um pedaço de nós ficou na África do Sul", revelou.
O técnico lembrou que nos quase quatro anos sob seu comando a seleção só perdeu seis jogos, foi campeã da Copa América e da Copa das Confederações, conseguiu a classificação para o Mundial sem sobressaltos e estava fazendo uma boa campanha na África do Sul, para lamentar que, "na hora em que a equipe começou a se acertar, tivemos essa fatalidade", referindo-se ao fato de o Brasil tomar dois gols em jogadas de bola parada, consideradas um dos pontos fortes da equipe, quando perdeu para a Holanda.
Ao final da entrevista, Dunga garantiu que não ficou com nenhuma mágoa ao final do torneio. "O trabalho foi feito, cada um cumpriu o seu dever, a gente gostaria de ter ido muito mais à frente, mas o futebol é isso, tem que saber perder, saber ganhar", ressaltou, recorrendo à linguagem esportiva. "Algumas vezes os outros ficaram chorando e nós sorrindo, alegres, desta vez foi o nosso momento".
Quando desembarcou em Porto Alegre, Dunga ainda não havia afastado a possibilidade de continuar no comando da seleção. "Agora vamos descansar e daqui a uma semana ou duas, quando o presidente [da CBF, Ricardo Teixeira] voltar da África, a gente vai conversar", avisou aos repórteres que o esperavam no aeroporto.
Assim como na sexta-feira, logo depois da derrota, o treinador lembrou que seu projeto na seleção era de quatro anos, mas que em momento algum afirmou que o trabalho estava encerrado. "Falei desde o início que vai depender daquilo que o presidente quiser", repetiu. Pouco depois, a CBF anunciou em seu site oficial que a comissão técnica estava dispensada.
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