Dunga e a retórica: treinador abraçou a ideia de valorizar quem se compromete| Foto: Rodolfo Bührer/ Gazeta do Povo

Frases

"Na mi­­nha carreira tomei muita pancada... mas nunca me coloquei como vítima. Eu falo para os jogadores: não somos vítimas. Não estamos aqui pra achar desculpas, estamos aqui pra achar soluções."

"A mesma pressão que eu tinha em 94 eu tenho agora. Tem gente que diz: se perder ele vai ver. Isso é terrorismo. Isso é ameaça."

"Tem aqueles [torcedores] que não querem ser felizes... não po­­demos chorar com eles. Temos de ser felizes com o povo traba­­lhador brasileiro. Temos de dar resposta para o torcedor que acorda às 3 da manhã... e quan­­do a seleção ganha... ele dá um sorriso."

"A capacidade e a qualidade do Ronaldinho Gaúcho são indis­­cutíveis, mas tenho de tomar uma decisão. Aí dizem: ‘Ele está bem no clube’. Mas mais me importa o que acontece na seleção."

"Ninguém falou que o Ganso, que é diferenciado, foi ser reserva da [seleção] sub-20. Ninguém falou que na sub-17, com o Neymar, o Brasil foi eliminado na segunda fase."

Dunga, técnico da seleção brasileira.

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Se o técnico Dunga fosse um em­­presário, é bem provável que ele tivesse sucesso. Porém a longo prazo. É esta a conclusão que especialistas em gestão de carreiras e re­­cursos humanos chegam ao analisar o discurso do comandante da seleção brasileira.

Ao previlegiar o comprometimento à capacidade, o comandante da equipe nacional age como um empregador "que prega pelo crescimento contínuo, porém mais lento" – como avaliam os especialistas em carreiras e mercado de trabalho.

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Flávio Pereira, orientador de exe­­­­cutivos e psicólogo organizacional, sai em defesa da estratégia pró-empenhados. "Pode não ter pi­­rotecnia, mas uma política as­­sim é de sustentabilidade, com o crescimento em doses homeopáticas e resultado garantindo", afirma.

O especialista prossegue: "Um bom articulador precisa pensar em uma política na qual os dois lados ganhem, para que se tenha um bom relacionamento a longo prazo. Por isso não se pode ser muito agressivo", complementa. "É a tática mais certa, sem estrelas, com um grupo unido e de pessoas disciplinadas. Não adianta um indivíduo mais maduro que crie confusão."

A coordenadora de RH da Edi­­tora Quantum, Daniela Santana, endossa essa opinião. Para ela, Dunga está até seguindo uma tendência de mercado. "Quando há uma seleção, as empresas preferem o meio-termo, com aqueles que têm um pouco de talento, mas são comprometidos, como o Dunga fez", afirma, com um arremate: "Mas o ideal é que os dois quesitos andem em conjunto".

Para aqueles que afirmam que o selecionador não teria esse "longo prazo" durante um mês de Copa do Mundo, o treinador pode responder que o trabalho na verdade é de quase quatro anos. Porém, como já virou rotina, sempre há alguém que discorda do treinador.

Nesse caso é Carmen Diel, sócia da Diel e Diniz Consultoria. "Com­­prometimento é importante, mas sem um talento, em um momento decisivo, não ajuda muito. Precisa de pessoas que tragam resultado", justifica. "Eu vejo que o Dunga foi levado pelo lado emocional, valorizando quem estava com ele. O mercado cooperativo não pode ter emoção. O objetivo final é o resultado", destaca a consultora, desconfiada no sucesso empresarial do capitão do tetra.

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Durante a convocação do time que começa hoje a arrancada rumo ao hexa, o treinador gaúcho – sem prévia experiência no cargo – foi simples ao justificar as escolhas. A frase será latente durante o torneio na África do Sul. "Eu não quero ter coerência por ter coerência. A minha coerência é com os fatos. A minha responsabilidade de montar um grupo e aquilo que eu falar os jogadores têm de acreditar. Cada um desde o primeiro dia começou a montar sua casinha, começou a colocar seu tijolinho."