Polêmica da bola
Dirigente que criticou brasileiros leva o troco
A Fifa e o comitê organizador da Copa do Mundo não gostaram das críticas dos jogadores brasileiros à bola oficial da competição: a Jabulani.
Após Júlio César dizer que a bola parece com as de supermercado, Robinho afirmar que se sente um Roberto Carlos na hora do chute (pela leveza da bola) e Luís Fabiano chamar a redonda de sobrenatural, a entidade que gere o futebol reagiu.
O secretário-geral, Jérome Valcke, disse que os atletas do Brasil estão arrumando desculpa para uma eventual eliminação do Mundial. A tréplica veio com o chefe da turma brasileira: Dunga.
"Se ele [Valcke] jogar e testar a bola, vai ter uma opinião diferente. Ele não entrou em campo, não deu um chute, só sabe falar. Se ele jogar, vier em um treino com todos vendo, aí pode falar", criticou o técnico, alegando que atletas de outras seleções também detonaram a Jabulani.
A bola do Mundial é fabricada pela Adidas e hoje, na concentração brasileira, o principal garoto propaganda da marca, o meia Kaká, concederá sua primeira entrevista desde a chegada à África do Sul.
Famoso em todo o mundo por ter sido o foco principal de resistência ao apartheid, a política de segregação racial que durou 42 anos, o Soweto foi ontem notícia por outro motivo. A seleção brasileira escolheu a região mais populosa e pobre de Johannesburgo para cumprir a exigência da Fifa e realizar seu único treino aberto aos torcedores antes da estreia na Copa.O ônibus que levou os pentacampeões foi cercado já do lado de fora do Estádio Dobsonville, que é público, mas recebe normalmente os jogos do Moroka Swallows, da Primeira Divisão sul-africana. Fotos, acenos e muita alegria de quem não está acostumado a ver por perto craques do futebol internacional. As vuvuzelas (cornetas locais) fizeram barulho durante quase duas horas. Sem parar.
O esporte do Mundial é preferência absoluta na maior favela da África do Sul. Com isso, os cerca de 10 mil bilhetes distribuídos pela Fifa esgotaram-se rapidamente ontem pela manhã em escolas, repartições públicas e comunitárias.
Mesmo assim, nem metade das cadeiras estavam cheias. O horário comercial e a exigência de comprovante de residência no Soweto para entrar, deixaram muitos para fora. Nada de revolta. O dia era de alegria. "É o melhor time do mundo no Soweto. Nunca pensei que isso fosse acontecer. Já estou feliz só por vê-los passar", vibrava Thabo Madisame, de 17 anos.
Lá dentro, o já tradicional som das buzinas ecoava. As cerca de 3 mil pessoas que entraram não precisavam nem de alambrado entre elas e o campo. Somente uma fita e uma barreira de seguranças em pé servia de obstáculo. Ninguém tentou invadir.
"Nós entendemos que o time está se preparando e precisa de tranquilidade. Sabemos até onde podemos ir", admitiu Nontsikekelo Xabana, acompanhada pela mãe na arquibancada.
Os cantos e danças também não faltaram, apesar de, no gramado, as atividades darem prioridade à parte física. No fim, houve um trabalho especial em campo reduzido. "Tenho certeza de que para os jogadores também foi especial. O Soweto é o local mais conhecido do país no exterior", comentou Laurewce Raboshaga, morador da região e voluntário da Fifa.
Dois grandes momentos ocorreram dentro do gramado. Antes de o treino começar, o técnico Dunga recebeu dois garotinhos do Soweto, posou para fotos ao lado deles e entregou-lhes kits da CBF e bandeiras do Brasil. Viraram personalidades entre os amigos.
Perto do fim do treinamento, Kaká bateu bola com um gandula, também morador local, e o cumprimentou com um aperto de mão. "Gostamos muito de sentir esse calor humano. Hoje a seleção não é fechada, mas é mais focada no trabalho. Peço desculpas mais uma vez ao torcedor, precisamos dessa privacidade", disse Dunga, recordando as críticas ao clima de algazarra na preparação para a Copa da Alemanha, em 2006.
Policiamento reforçado para o time de Dunga
Policiais por todos os lados, pouca informação e até um helicóptero fazendo a escolta da seleção brasileira no Soweto. Dentro da comunidade mais pobre e uma das mais violentas da África do Sul, o time de Dunga foi tratado como um alvo em potencial.
A delegação ficou apenas duas horas na favela, mas já foi o suficiente para mobilizar um exército. Na porta do estádio, ou a pessoa entrava, ou saía. Não era permitido aos jornalistas ficar na arquibancada entrevistando torcedores.Quando o ônibus aproximou-se da massa próxima ao portão, alguns homens a pé também foram correndo e fechando o cerco.
"Não posso dizer quantos policiais estão trabalhando e nem como foi planejada a operação, Não posso te dar informação alguma", justificou-se um oficial da Fifa, com crachá e bótons da entidade, mas que também não quis se identificar.
Em treinos normais, na escola particular (de predomínio dos brancos) onde o time trabalha, a Hoerskool Randburg, os brasileiros são tratados como pouco visados. No grupo, com campo de golfe, os fãs raramente interagem com o time de Dunga .
Aspecto físico é a principal "neura" antes do MundialA dosagem da carga de trabalho é o principal desafio da comissão técnica brasileira para que o time chegue 100% na Copa. Nem todos os jogadores têm a exigência de fazer as seções de exercícios de maneira completa e de participar de todas as atividades.
As situações do goleiro Júlio César, do zagueiro Juan e do meia Kaká são as que mais preocupam. O camisa 10 participou de apenas 45 minutos do amistoso contra o Zimbábue, na quarta-feira; o defensor nem jogou e o arqueiro deixou a partida após 25 minutos com dores lombares.
Ontem, Júlio César ficou fazendo tratamento específico com o fisioterapeuta Luiz Rosan. Já Kaká e Juan treinaram.
"A comissão técnica é experiente, conversamos e tentamos dar a dosagem certa", disse o técnico Dunga. "Essa pancada que o Júlio sofreu não é nada demais. Estará bem em uns três dias", opinou.
Kaká sofreu lesão na coxa esquerda antes do fim da temporada europeia e Juan que já ficou fora da Copa das Confederações por contusão, no ano passado sentiu desconforto na perna esquerda e preferiu não arriscar frente aos zimbabuanos.
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