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Mulheres africanas exibem o antigo costume sul-africano de ornamentar o sorriso com ouro: pode ser um desenho, como uma estrela dourada na foto superior, um pedaço ou um dente inteiro feito do metal valioso, como nos exemplos abaixo | Albari Rosa/ Gazeta do Povo
Mulheres africanas exibem o antigo costume sul-africano de ornamentar o sorriso com ouro: pode ser um desenho, como uma estrela dourada na foto superior, um pedaço ou um dente inteiro feito do metal valioso, como nos exemplos abaixo| Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo

A África do Sul foi o maior país produtor de ouro do mundo por várias décadas. Esse posto foi perdido para a China em 2007. O ano marcou uma mudança na economia do país: foi quando os sul-africanos começaram a diversificar suas atividades comerciais.

Mas os resquícios culturais da época "áurea" da sede da Copa do Mundo de 2010 ainda permanecem na boca do povo. O sorriso da maioria negra brilha mais do que o dos brancos por um simples motivo: dentes de ouro.

A explicação para esse costume se perdeu com o tempo. Hoje, quando se encontra alguém com o detalhe dourado no sorriso, não adianta muito perguntar o motivo. Ele para, pensa, e responde quase sempre a mesma coisa: "Just for fun". Em português: apenas por diversão. É moda, resumindo.

"Foi por diversão. A maioria dos meus amigos tinha. Quando consegui dinheiro para colocar, coloquei o meu também", contou Cedric Moloha. Com 20 anos, trabalhando de caixa em um posto de gasolina, ele conta que demorou cerca de meio ano para guardar o dinheiro necessário para realizar a operação. Em média, o preço varia entre 1.200 e 2 mil rands –equivalente a cerca de R$ 300 a R$ 500. Moloha tem de ajudar a família todo mês. E viu o tempo passar devagar. Mas esperou por um único motivo plausível para as pessoas de sua idade. "As garotas acham bonito. Fica mais fácil", conta.

Mas, atualmente, essa é uma versão divergente em Johannes­­burgo. Afinal, com o fim do apar­­theid, e com a ascensão de parte dos negros, o dente de ouro deixou de ser item básico para "fazer moral". Antes, servia como forma de status. Hoje, isso só continua funcionando em bairros mais pobres, como o Soweto. Às vezes, nem lá.

"Acho que fazem por diversão. Não sei dizer, pois nunca tive vontade. Tirar o dente para colocar um de ouro...", diz Esroh, um negro com a mesma ascendência de Cedric, que trabalhava a menos de 50 metros dele, em uma revenda de carros.

Normalmente, os dentes de ouro substituem um dos quatro superiores da frente. O mais comum é que sejam os vizinhos aos caninos. Mas, com a mudança dos tempos na maior cidade da África do Sul, criaram-se novas modalidades para quem não se dispõe a arrancar o dente para colocar uma coroa – prótese, nem pensar.

A extração pode ser substituída por estrelas, letras ou o que se imaginar em metal, que vai grudado próximo à gengiva. É mais bonito. Assim eles dizem.

O dente de ouro também já foi moda no Brasil. Em 1957, por exemplo, Nelson Rodrigues es­­creveu uma peça que se chamava Boca de Ouro, sobre um bicheiro que mandava arrancar todos os dentes e colocar uma dentadura de ouro, para "se alugar". Esse tempo passou.

Na África do Sul, entretanto, não é apenas o ouro que faz parte da moda dentária dos negros. Na cidade do Cabo, até hoje, várias pessoas têm o costume de arrancar os quatro dentes frontais de cima e fazer deles um colar.

Se hoje é moda, tudo começou com o objetivo de irritar holandeses e ingleses, que determinavam o valor dos escravos pela qualidade dos dentes. Mas isso é assunto para quando estivermos na Cidade do Cabo. Se tudo der certo, na semifinal.

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