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Parreira em desfile por Johannesburgo | Amr Abdallah Dalsh/ Reuters
Parreira em desfile por Johannesburgo| Foto: Amr Abdallah Dalsh/ Reuters
  • Dida da Vuvuzela: sul-africanos saíram às ruas em prol dos Bafana Bafana
  • Grupo ligada ao tratamento da aids faz o último ensaio para a festa de abertura
  • Avenida que liga o aeroporto à cidade de Johannesburgo: Copa em todo lugar

Meio-dia no horário local, Sand­­ton, bairro nobre de Johan­­nes­­burgo. Aproxima­­­­damente 200 mil sul-africanos tomam as ruas da região para saudar os Bafana Bafana, concentrados em um hotel próximo a Nelson Mandela Square, o mais luxuoso ponto comercial da cidade. Emocionado, o técnico brasileiro Carlos Alberto Parreira desce do quarto e desfila em carro aberto ao lado dos jogadores da África do Sul. Delírio geral.

A festa oficial logo se dividiu em outras celebrações pelo país. O Soccer City, imenso estádio reformado para receber a mais importante partida da primeira Copa do Mundo no continente africano, pulsou ontem. Do lado de dentro, o cerimonial da Fifa afinava os último detalhes da cerimônia que antecederá o jogo inaugural do Mundial, entre África do Sul e Mé­­xico, amanhã, às 11 horas (de Bra­­sília) – a excêntrica contagem da entidade, porém, diz que o torneio começa hoje, com a festa de abertura no Soweto (leia abaixo).

Foi do lado de fora, contudo, que os anfitriões conseguiram extravasar suas emoções. Um grupo de percussionistas, cantores e dançarinos da Fundação Field Rand, ligada ao tratamento da aids, levou movimento e cor ao novo complexo esportivo. Meni­­nos e meninas de várias idades, vuvuzelas à mão, pulavam e se esbaldavam de alegria com as coreografias típicas. Negros e brancos irmanados no mesmo ritmo traduziam a cena idealizada por Nelson Mandela desde o fim do apartheid – a política de segregação racial que vigorou no país até o início da década de 90.

A poucos metros dali, sentado em um gramado, Steven Themba Khumalo assistia a tudo emocionado. Estava orgulhoso. "Agora somos só um país, só um povo. O que estou vendo é sensacional. Meus avós nem sonhavam em ver algo semelhante", disse ele. "É uma festa de Madiba, para Madiba. Nelson Mandela é o nosso ‘deus’", emendou Frederick Lungile Motha.

A dupla de moradores do So­­weto, ambos desempregados, fi­­cou de fora do ponto alto da comemoração. Sem dinheiro, não conseguiram tíquetes para nenhuma partida do evento. "E agora faço o quê? Copa para mim será pela televisão. De novo", contou, resignado, Motha. "Mas vai que al­­gum louco aparece oferecendo tíquetes da África do Sul?", prosseguiu Khumalo, sem muita convicção.

A agitação interrompeu por alguns minutos a movimentada Nasrec Road, que passa em frente ao Soccer City. Motoristas, sem pressa, sacavam telefones celulares para registrar a festa – e intensificavam com buzinas o estridente barulho das vuvuzelas. "Nós, negros, gostamos de futebol. Os brancos, de rúgbi. Mas na Copa não terá nada disso. Nos estádios serão todos juntos, 50% a 50%", afirmou o estudante Katlego Sibusiso Tshepe. "Agora podemos ir aos mesmos lugares, dividir as mesmas coisas. Uma nação de verdade", acrescentou Genesis Vuyisite Nlonzi.

Constatação que mexeu com Parreira. Do alto do caminhão, em Sandton, enquanto acenava para os fãs, o veterano treinador compreendeu que agora também faz parte da história sul-africana. "Só havia vivido algo semelhante em 1970 [era preparador físico] e em 1994, quando voltamos ao Brasil campeões do mundo, e no amistoso da seleção brasileira com o Haiti em 2005. Indescritível", resumiu o "chefe" dos Bafana.

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