Para as cinco mil pessoas que lotaram a Plaza Independencia, no centro de Montevidéu, foi difícil segurar o choro depois que terminou o jogo entre Uruguai e Holanda. A Celeste Olímpica, que voltou a estar entre as quatro melhores seleções de um Mundial depois de 40 anos, caiu no meio do sonho de ser campeã do mundo pela terceira vez. Mas, pelo menos para a multidão que acompanhou o jogo num telão na entrada do bairro de Ciudad Vieja, a gratidão pela boa campanha foi um sentimento mais forte que a tristeza.
Montevidéu amanheceu cinza. Dia sem sol, vento forte, frio e chuva fina deixaram o clima não muito propício para festa. Mas a cor que faltou no céu sobrou nas camisas, rostos e bandeiras que os uruguaios desfilavam orgulhosos desde cedo na cidade. A imprensa local também embarcava no otimismo.
O diário El País, um dos mais lidos no Uruguai, estampou na sua primeira página nada além de uma frase em letras brancas sobre um fundo todo celeste: hoy destiñe el cielo, ou, em português, "desbote o céu", como se já imaginasse a previsão do tempo e a comoção popular. Na capa do caderno de esportes, um trocadilho/chavão sempre muito usado no Brasil: "O Uruguai vai tentar deixar a laranja sem suco para ser finalista".
No centro da cidade, os camelôs aproveitavam a euforia. Vendiam de tudo: desde lenços com a imagem do atacante Loco Abreu até fotos e pôsteres dos outros astros da Celeste. Quem não tinha tinta em casa para se pintar de Uruguai podia fazer isso na rua: "pintamos tu cara charrúa", dizia a placa de um ambulante que não enfeitava apenas o rosto de uruguaios na Plaza Independencia.
Estrangeiros de todas as partes do mundo, hospedados em hotéis e albergues no centro da capital uruguaia, compartilhavam o momento histórico. Muitos eram brasileiros e até desfilavam com a camisa amarela da seleção, sem ser incomodados ou sofrer qualquer tipo de piadinha pela eliminação de Dunga e seus pupilos nas quartas de final. Um deles era o advogado Kleber da Silva, de Belém do Pará. "Eu estava de férias em Porto Alegre e, quando o Uruguai se classificou para a semifinal, resolvi vir participar da festa deles", conta.
"Voltaremos, voltaremos / voltaremos outra vez / voltaremos a ser campeões / como na primeira vez". Este era o principal grito de guerra da torcida uruguaia durante o jogo de ontem e que menciona, saudosista, o título conquistado em casa na Copa de 30. Só mesmo recorrendo à nostalgia para que o Uruguai se orgulhe de conquistas no futebol. Já são 60 anos sem um título mundial, 22 anos sem uma Libertadores e 15 sem uma Copa América. A expectativa pela quebra do jejum uniu avôs que eram crianças no Maracanazzo e netos que nunca viram a seleção levantar um troféu.
Assim como o time não desistiu do jogo mesmo quando estava atrás no placar, a torcida também não abandonou. Quando Van Bronckhorst fez o primeiro gol da Holanda, a multidão na Plaza Independencia puxou o coro: "sou uruguaio / este sentimento / nao posso parar!". Depois, vibraram com o golaço de Forlán, celebraram cada defesa de Muslera e pareciam não ter o sonho desanimado.
Quando os holandeses fizeram 3 x 1, um torcedor, possivelmente um dos mais exaltados de todos, gritou: "Ainda não acabou! Vamos ser campeões do mundo!"Já nos acréscimos do segundo tempo, Maxi Pereira diminuiu a desvantagem e fez com que o povo uruguaio acreditasse como se faltassem 20, e não 2 minutos de jogo.
As lágrimas dos uruguaios foram gravadas por câmeras de várias partes do mundo. Emissoras de tevê dos Estados Unidos, do Japão, do Brasil e de outros países acompanhavam o jogo na Plaza Independencia, talvez esperando poder noticiar que aquele país que foi uma lenda do futebol na primeira metade do século 20 voltaria a decidir um título mundial. Mas não foi por isso que faltou festa nas imagens do Uruguai para o resto do planeta. Milhares de torcedores saíram pelas ruas do centro de Montevidéu fazendo carreatas e buzinaços para comemorar a boa campanha. Os que ficaram na praça aplaudiram até a coletiva de imprensa do técnico Oscar Tabárez, que ainda foi transmitida no telão.
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