Para eles, Laranja Mecânica é só o filme de Stanley Kubrick e o ferrolho suíço é um tipo de tranca para portas. Mesmo longe, filosofaram sobre esquema tático, deram pitacos sobre as 32 seleções do Mundial e, sim, sentirão saudades da Copa.
Torcedores de ocasião são maioria entre os que se dedicaram a assistir jogo a jogo ao Mundial. A ponto de dobrarem a audiência de canais de televisão nos horários das partidas do Brasil. Nem a eliminação da equipe de Dunga nas quartas de final tirou o ânimo dessa torcida sazonal, que acompanha a final de hoje, entre Holanda e Espanha, e espera a próxima edição, daqui a quatro anos, no Brasil.
"Não torço para nenhum clube, mas em ano de Copa do Mundo, o interesse por futebol se multiplica. Se não estou assistindo, acompanho as partidas via rádio. É um evento mundial, que reúne as pessoas. Todos vibram com as cores de seu país", diz a sócia-diretora da empresa de envazamento de água mineral Timbu, Maria Alice Silveira Carneiro.
Este ano, a empresária teve mais um motivo para curtir o Mundial. Lançou um lote especial do seu produto, com garrafas verdes e tampas amarelas. "Foi um sucesso. Vendemos tudo antes do esperado", festeja. Sem esconder que já se ressente do fim do período de até três jogos para assistir por dia. "Vamos ter uma espécie de depressão pós-Copa", brinca.
O Mundial na África do Sul foi o primeiro que o técnico administrativo Bruno Fernandes acompanhou. Gostou da experiência. "Os jogos eram assunto em todo lugar. Comprei chinelos em verde e amarelo e uma corneta para torcer. Assisti mesas-redondas e outros programas esportivos para saber o que estava acontecendo", conta. Com o Brasil fora, torce para a Holanda, embora ainda não conheça a escalação do time.
Quem são os 11 titulares da outra candidata ao título, a Espanha, a gestora cultural Letícia Cocciolito sabe bem. Ela está em um intercâmbio em Madri e hoje será Roja (vermelho, alcunha da torcida espanhola) desde criancinha. "Nos outros quatro anos, nem sei o que rola no campo. Mas, neste Mundial, estou torcendo como nunca. No começo, estava contra a Espanha. Só que tenho amigos aqui e não quero vê-los tristes. Até o Brasil cair, minha torcida foi verde e amarela", diz.
Apesar do superintensivo de futebol que fez para dar suas cornetadas, Letícia ainda tropeça em informações básicas, revelando que ainda é torcedora amadora. "Grafite" foi a resposta para a pergunta "quem é o lateral-esquerdo da seleção brasileira?" Se o leitor esqueceu a réplica correta, lá vai: o ex-atleticano Michel Bastos, hoje no Lyon.
O efeito Copa não cria apenas torcedores de 30 dias de duração. Incentiva pequenos esportistas a tentarem seus primeiros chutes. A coordenadora da Leles Sports, empresa que gerencia duas escolinhas de futebol em Curitiba, conta que aumenta consideravelmente a procura pelas aulas da modalidade durante o Mundial.
"Tivemos 30 crianças fazendo aula experimental no período. Dessas, 26 ficaram. Um volume três vezes maior do que o normal", diz. "Finais de campeonato estadual e brasileiro também atraem novos alunos. Mas nada como a Copa", compara.
Deixe sua opinião