A imagem de Raymond Domenech sozinho durante o treino de ontem no campo do Pezula Resort é emblemática: técnico enfrenta problemas de relacionamento com os jogadores| Foto: Patrick Hertzog/ AFP

Torcida

Franceses de Curitiba estão confiantes

Robson Martins

O instituto de pesquisa GfK constatou que 79,2% dos cidadãos da França ouvidos têm pouca ou nenhuma confiança nos jogadores. Além disso, apenas 4% acreditam que a seleção vencerá a Copa. Bem longe da Europa, ao contrário, boa parte dos franceses residentes em Curitiba está animada com a estreia no Mundial.

Um deles é o dono de um bistrô, David Louis, que aposta na surpresa de sua seleção. "Dizem que o Brasil já é campeão e que a França vai ter dificuldades. Mas em Copa do Mundo tem de provar em campo", afirma, justificando o otimismo na campanha do título de 1998 e do vice de 2006.

O engenheiro em telecomunicações Xavier Chiron também acredita que o desempenho nas Eliminatórias não vai impedir um bom Mundial. "Nem sempre quem ganhou a Copa teve uma boa classificação. E o time sofreu algumas mudanças", justifica o francês, que assistirá a partida no Café Babete, anexo à Aliança Francesa.

O local será o ponto oficial de encontro dos conterrâneos durante o torneio, com direito a comida típica. A iniciativa é da Aliança Francesa, da Câmara de Comércio França-Brasil, do Consulado da França e do Café Babete. De acordo com a diretora da Aliança, Laure Gyselinck, até os que não torcerem pelos Azuis serão bem-vindos.

"Esperamos cerca de 40 pessoas. Sabemos que muitos brasileiros torcem contra, por causa de 1998, mas eles também estão convidados", afirmou a francesa, que, como todos os entrevistados, estará dividida entre a terra onde nasceu e a que vive.

Quanto à famosa mãozinha de Henry, Laure confessa que a "esperteza" mexeu com o seu povo. "Os franceses ficaram com um pouco de vergonha. Queríamos nos classificar de maneira mais honrosa. Espero que agora a seleção faça uma boa Copa e ganhe com méritos."

Para Chiron, o toque de mão foi justo. "Queríamos ganhar de outra maneira e alguns acham que não deveríamos estar no Mundial. Mas eu acredito que, pela importância futebolística, a França devia estar na Copa", argumenta, confiante em uma vitória hoje. O palpite é 2 a 1 sobre os uruguaios.

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Veja a ficha técnica do jogo Uruguai X França
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O segundo duelo do dia pelo grupo A, às 15h30 (de Brasília) reúne uma desacreditada França contra um Uruguai confiante na boa fase de sua dupla de ataque para aproveitar o mau momento do adversário. São três títulos mundiais em campo, dois dos sul-americanos, nas longínquas Copas de 1930 e 50, e o francês de 98.

Vice-campeã na Alemanha, há quatro anos, a França começa o torneio sob muita desconfiança. Vem de uma eliminação na primeira fase da Eurocopa de 2008 e uma campanha irregular nas Eliminatórias, só conseguindo a vaga após eliminar a Irlanda na repescagem com a famosa ajuda da mão de Henry antes de dar o passe para o gol de Gallas. Para completar, os resultados na preparação, contra adversários inexpressivos, foram pífios: vitória apertada sobre a Costa Rica, empate com a Tunísia e derrota para a China.

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O time também parece viver uma crise de relacionamento. A ida do atacante Henry para o banco de reservas desagradou parte do elenco, que já pressiona o técnico Raymond Domenech. A escolha do lateral esquerdo Evra como ca­­pitão também causou atrito. O zagueiro Gallas, que se julgava me­­recedor do posto, não gostou da decisão e resolveu não falar com a imprensa durante toda a competição.

Até o local onde a seleção está concentrada desencadeou protestos. É o Pezula Resort, um estabelecimento cinco estrelas em Knysna. A secretária de Esporte da França, Rama Yade, questionou se a escolha da luxuosa hospedagem era adequada em tempos de crise econômica.

Diante de tudo isso, Domenech anuncia que não haverá desculpa para falhas. "O campo de treinamento é quase idílico. Eles estão em condições excepcionais para treinar. Todos sabem da importância da Copa do Mundo e o que se espera deles. Agora a equipe precisa responder em campo, com todas as desculpas longe", discursa o técnico, que também comandava um time desacreditado em 2006, mas o levou à decisão.

O Uruguai quer aproveitar a instabilidade dos Bleus. Em 2002, as duas seleções também se enfrentaram na primeira fase da Copa e empataram por 0 a 0. "Não se pode temer a França e nenhum outro rival do mundo. Reconhe­­ce­­mos que ela é a vice-campeã, uma das três ou quatro melhores equipes, mas o Uruguai tem de fazer frente", disse o capitão da Celeste, o ex-são-paulino Diego Lugano.

O discurso do técnico Oscar Tabárez é mais cauteloso. "Eles (franceses) têm bom jogadores, sobretudo no ataque. Será difícil para nós. Temos pensado em como controlá-los, mas também em como vencê-los", afirma, considerando o jogo da estreia chave para a classificação.

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A principal esperança é a dupla de ataque formada por Pablo Forlán, destaque do Atlético de Madrid na conquista da Liga Europa, e Luis Suarez, artilheiro do Campeonato Holandês pelo Ajax.