Ainda sem o grande craque ou seleção imbatível, o Mundial da África do Sul até agora entra para a história como a Copa da vuvuzela. À primeira vista, uma inofensiva corneta plástica com cara de brinquedo infantil, mas na prática uma barulhenta tormenta deste Mundial.
Até os defensores "da legitimidade e alegre manifestação cultural dos anfitriões", quando expostos a seu ataque, precisam de poucos minutos para perder a simpatia pelas cornetas e por seus respectivos "operadores".
Se na televisão o barulho lembra um enfurecido enxame de abelhas, para quem torce nas ruas, lares e bares, a vuvuzela aborrece e sempre deixa "um zumbido" no ouvido.
Segundo o médico otorrinolaringologista Rogério Hammerschimidt, o zumbido é o primeiro sintoma de um trauma acústico que pode desaparecer em minutos ou virar permanente, dependendo da predisposição da "vítima".
O médico passa aos torcedores a mesma receita que prescreve a Djs e baladeiros, seus clientes mais frequentes. "Deve-se evitar a exposição a ruídos intensos e intermitentes", alerta.
Para ele, o pior de todos os golpes é aquele dado à traição, bem perto do ouvido do torcedor. "Aquela cornetada perto do ouvido, de surpresa, é a mais perigosa. Pode evoluir até para perda de audição se a pessoa tiver pré-disposição", adverte.
Diante da gravidade das possíveis sequelas, a reportagem da Gazeta do Povo foi até o Laboratório de Acústica Ambiental do Departamento de Engenharia Mecânica da UFPR testar o potencial ofensivo das vuvuzelas.
Distante dois metros de um medidor do nível de pressão sonora de última geração, o repórter alcançou críticos 109 decibéis, o equivalente a uma batedeira. (ver gráfico ao lado).
Para o professor Paulo Zannin, coordenador do laboratório, além do nível sonoro superior aos 80 decibéis, limite que o ouvido humano suporta sem sentir dor, outro problema é a alta frequência que o instrumento produz.
"Geralmente quando há perda auditiva induzida por ruído ela é causada pelo som de alta frequência", explica (nota do redator: minha vuvuzelada campeã alcançou os 4.000 Hz, pelo menos cinco vezes mais do que o recomendável pelos médicos).
Além dos limites da urbanidade, o som da corneta reiterada pode dar causa a um boletim de ocorrência por perturbação de sossego na Policia Civil. Ou ainda uma denúncia por crime ambiental de poluição sonora. Algo que ainda não aconteceu segundo Evandro Pinheiro, fiscal da Secretaria Estadual do Meio Ambiente. Pinheiro, que adora futebol, espera que a moda passe rápido. "O barulho é chato e desconcentra o torcedor. Tomara que não venha para os nossos estádios".