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Curitiba terá uma participação relativamente modesta na Copa do Mundo de 2014, visto que os principais jogos serão, como era de se esperar, conduzidos nas grandes arenas nacionais.

No entanto, mesmo que em menor escala, os efeitos tanto positivos quanto negativos já se fazem notar e, recorrentemente, vemos noticiados projetos ou possibilidades de projetos que poderiam "surfar" nas ondas da Copa. Entre outros, os relacionados com hospedagem de turistas e torcedores, projetos de táxis puxados por bicicletas como os que já existem em outros paí­ses, serviços de alimentação no entorno do estádio – mantendo-se a distância imposta pela Fifa, claro – e outros, mais sofisticados, como os que visam facilitar a vida dos viajantes através de QR Codes impressos em locais específicos, como o aeroporto, as estações de ônibus, restaurantes e outros lugares públicos como praças, museus e centros de eventos.

A imaginação é o limite para se detectarem novas oportunidades, desde que haja recursos e percepção por parte dos empreendedores  para aproveitá-las.

Quando foi anunciado em 2007 que a próxima Copa seria no Brasil, houve manifestações de orgulho e júbilo. Parecia que teríamos uma oportunidade de aumentar nossa exposição ao mundo e garantir ganhos de imagem para a nação. Entretanto, o desprezo endêmico pelo planejamento, a política centralizadora da Fifa e a falta de envolvimento colaborativo da sociedade trazem riscos de se arranhar a imagem do país no exterior. É inexplicável que tenhamos desperdiçado 5 (cinco!) anos para somente agora tentarmos soluções improvisadas e que irão custar muito mais do que o inicialmente previsto. É evidente que num país em que falta o mais básico em quase todos os serviços públicos, como saúde, educação, transporte e segurança, fica difícil obter o engajamento da população.

Mesmo assim, ainda existem oportunidades para que os esforços para a Copa possam conseguir a participação popular, de forma independente e sem a necessidade de dinheiro público. Concordo com o professor Ramiro Gonçalez quando este afirma que "pequenos esforços poderiam deixar um legado de civilidade para a cidade" e sugere que algumas ideias podem se tornar perenes, tais como:

– Zeladoria de ruas: Estudantes secundaristas poderiam ser estimulados a prestar voluntariamente atendimento em sua vizinhança como guias de ruas, tradutores do inglês e disseminadores de informações (linhas de ônibus, hospitais, restaurantes), uma espécie de "guias turísticos" que poderiam praticar algo que estivessem estudando.

– Mão de obra reserva: Muitos dos países que jogarão  em Curitiba terão partidas em fusos horários com até quatro horas de diferença. Por exemplo, um jogo que seja realizado às 17 h aqui será iniciado às 21 h na Itália. Como conse­quência, muitos restaurantes terão de funcionar 24 horas, sendo que haverá a necessidade de um cadastro reserva de cozinheiros e garçons que possam atuar neste período.

– Roteiros turísticos: Atividades simples como walking tours – caminhadas turísticas pela cidade podem ser incentivadas entre alunos de cursos superiores de turismo e afins.

– Microtransportes: as evidentes deficiências na rede de táxi poderiam ser cobertas por um sistema de locação de bicicletas, pelo qual seriam disponibilizados bicicletários especialmente para o evento.

- Micro-hotelaria: no pico de demanda durante a Copa nossa capacidade hoteleira será pressionada ao máximo. Serviços de hospedagem domiciliar podem ser incentivados, a exemplo dos famosos bed&breakfast da Europa.

- Integração regional: Cidades no interior do Paraná e Santa Catarina poderiam criar programas conjuntos de recepção de turistas. Por exemplo, as redes hoteleiras de cidades que distem até 150 km de Curitiba, como Ponta Grossa, Joinville, São Bento do Sul, Lapa ou Rio Negro, poderiam auxiliar na hospedagem durante a Copa. Roteiros combinados envolvendo Foz do Iguaçu e Florianópolis e outros pontos turísticos poderiam ser desenvolvidos.

Oportunidades existem, e muitas. As mencionadas acima podem servir de ponto de partida para que empreendedores desenvolvam business plans consistentes. Assim se poderá incentivar a participação da sociedade em encontrar soluções.

Vejo, também, outras oportunidades que estão sendo desperdiçadas, principalmente pela visão por demais "micro" por parte do poder público, também com potencial para alavancar novas chances para que empreendedores possam lançar-se na complementação em "demanda derivada" de projetos de impacto.

Como exercício, imaginemos o quanto seria impactante se houvesse uma vontade política de instalar o VLT – Veículo Leve sobre Trilhos –, o bom e moderno bonde! Ao longo dos trajetos que o mesmo teria, por exemplo, ligando São José dos Pinhais a Curitiba, aproveitando um antigo projeto ferroviário – inclusive já desapropriado – para ligar o aeroporto ao centro da capital. Não apenas a construção, que poderia ter sido incluída no PAC da Copa, mas outros tantos derivados desse único projeto. Em cada estação, novas oportunidades para serviços e varejo. Chance de consolidação do transporte urbano, hoje refém de sofismas como "o bonde atrapalha o trânsito", "bonde é coisa do passado", etc. O que as boas cidades do mundo comprovam pelo inverso – que os mesmos convivem não apenas em harmonia, mas são uma das mais inteligentes abordagens à problemática da mobilidade urbana.

Como se vê, a Copa pode ser uma grande força propulsora de oportunidades, desde que se possa alavancá-las com recursos, determinação, vontade empreendedora e vontade política.

Romeu Rössler Telma é doutor em Administração, professor titular da UFPR, coordenador do MBA Marketing da UFPR, e diretor da Metamidia Pesquisas.

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