Personagem
Herói do título, Götze vira o menino maravilha para a Rússia-2018
Mario Götze foi um dos jogadores que menos ficou em campo na final da Copa do Mundo. No entanto, em 39 minutos, ele definiu a vitória e o título da Alemanha diante da Argentina, ontem, no Maracanã. Aos 8 do segundo tempo da prorrogação, o jogador mostrou frieza ao receber cruzamento de Schürrle: dominou e, de primeira, estufou as redes do goleiro Romero.
É o gol mais importante da carreira do jovem meia de 22 anos. Escolhido como o melhor em campo, ele mostrou que pode ser protagonista e deixar outras estrelas em segundo plano, o que o técnico Joachim Löw já projetava. "Eu falei para o Götze antes de o tempo extra começar para ele mostrar para o mundo que é melhor do que o Messi, para ele decidir a Copa", revelou o treinador.
"Não foi um ano simples para mim. Continuei treinando forte com a seleção, mesmo fora do time titular. Estou feliz que o time venceu comigo marcando, foi um momento indescritível", declarou o herói da decisão.
Götze teve uma última temporada inconstante. Em uma transferência polêmica, deixou o Borussia Dortmund no meio do ano passado para defender o rival Bayern de Munique. Os torcedores do antigo clube o passaram a chamar de "Judas". Na principal equipe da Alemanha, comandada por Pep Guardiola, o atleta não se firmou como titular.
O gol na final da Copa faz tudo ficar para trás. Ainda novo, o papel dele dentro da seleção vai crescer ao longo do próximo ciclo visando ao Mundial da Rússia, em 2018. "Ele tem essa capacidade de decisão, pode jogar em várias posições. É um menino maravilha", destacou Low.
"Um sonho virou realidade para mim. Estou muito feliz e tenho orgulho da seleção e do que aconteceu no Brasil", comemorou Götze.
Uma nova Alemanha é a campeã da Copa do Mundo de 2014. O quarto título mundial veio com uma vitória por 1 a 0 sobre a Argentina, na prorrogação, ontem, no Maracanã. É o primeiro título desde a reunificação do país, oficializada em outubro de 1990. Resultado de um projeto de renovação iniciado há uma década e meia, em que o planejamento e a disciplina, tipicamente alemã, ganharam elementos do futebol espanhol e holandês.
INFOGRÁFICO: Confira a radiografia da partida
O gol do título simboliza essa transformação. Uma troca de passes iniciada na defesa, que vira jogada individual de Andre Schürrle pela esquerda até a assistência para Mario Götze matar no peito e finalizar de sem pulo, a sete minutos do fim do tempo extra.
A Alemanha foi a seleção que mais trocou passes (701 por jogo) e mais teve a bola no pé durante a Copa (58%). Schürrle, de 23 anos, e Götze, de 22, são descobertas da rede de 366 centros de treinamento do país. Foram os primeiros jogadores nascidos na Alemanha reunificada a vestir a camisa da seleção nacional, em novembro de 2012. Ambos começaram a final no banco.
"Tudo o que conseguimos como equipe está aí. Combina muito bem o Götze marcar o gol. Ele simplesmente entrou e fez o gol", exclamou Thomas Müller, vice-artilheiro e segundo melhor jogador do torneio.
A entrada de Schürrle e Götze mudou o jogo da Alemanha. Com o primeiro, Joachim Löw ganhou força ofensiva pelo lado do campo e refinou ainda mais o passe no meio, com o recuo de Kroos para jogar próximo a Schweinsteiger e a centralização de Özil. Com o segundo, trocou o homem de área Klose pelo falso 9. A ocupação de espaço da Holanda e a mobilidade do Barcelona de Guardiola, as duas grandes referências do novo estilo alemão.
"Nos últimos anos estamos desenvolvendo nosso próprio estilo, independentemente das tendências", disse Löw, auxiliar entre 2004 e 2006 e, desde então, técnico principal. Foi com ele que a Alemanha caiu na final da Euro-2008 e na semifinal da Copa-2010 e da Euro-2012. "Tivemos grandes torneios no passado e agora demos o último passo. É inacreditável", ressaltou Schweinsteiger, presente em todos os torneios. "Foi um prêmio para a nossa geração."
Para a geração e para a persistência de, a partir da queda na primeira fase da Euro-2000, buscar um novo caminho em um futebol autossuficiente com seus três títulos mundiais e um continental erguido quatro anos antes. "Depois do título mundial de 90 cada um seguiu por sua conta. O sucesso não vem por acaso. Gastamos muito em formação, estrutura e capacitação de treinadores", falou o diretor esportivo Oliver Bierhoff, centroavante no fracasso de 2000 e um dos responsáveis por coordenar o investimento que já supera US$ 1 bilhão.
Uma aula para quem, pelos pés da Alemanha, sofreu a maior humilhação da sua história. "O Brasil é o país do futebol, há muito talento por aqui. É preciso descobri-los e dar formação", ensina Bierhoff, com a autoridade de campeão mundial com um futebol e um país totalmente novos.
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