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Um meticuloso trabalho de formação de jogadores, na maioria das vezes bancado pela federação local, é o traço comum das sete seleções no caminho entre o Brasil e o sexto título mundial. Projetos bilionários ou não, que unem tecnologia, educação e profissionais de alta capacidade de recrutamento.

A iniciativa mais antiga é a da França. Em 1988, a federação local inaugurou o Centro Técnico Nacional Fernand-Sastres, em Clairefontaine, na Grande Paris. Uma verdadeira universidade do futebol, em que garotos de 13 a 15 anos se candidatam a receber bolsas de um ano, renováveis por mais um. Processo rigoroso conduzido por técnicos, professores, psicólogos e dirigentes.

A peneira deu à seleção campeã mundial de 1998 e europeia de 2000 nomes como Henry, Anelka e Trezeguet. Do time atual, Matuidi morou em Clairefontaine. Também passaram por lá, em preparações das seleções de base, Pogba, Digne e Varane, titulares do time de Didier Deschamps – os dois primeiros foram campeões mundiais sub-20 em 2013.

O modelo francês inspirou a revolução alemã. Após a vexatória eliminação na primeira fase da Euro-2000, a federação germânica deu início à abertura de centros de formação e criou regras obrigando os clubes a investir na base. Um processo com custo superior a R$ 1,5 bilhão, que fez surgir nomes como Özil, Neuer, Podolski e Müller. Os dois primeiros, formados no Schalke 04, estudavam em uma escola anexa ao clube, parte de um dos centros três estrelas do país, graduação máxima no projeto alemão.

Foi olhando para a Alemanha e Claire­fontaine que a Bélgica moldou sua talentosa geração. Diante da resistência dos clubes em aderir ao formato, a federação belga contratou uma empresa, a Double Pass, e associou-se à Universidade de Bruxelas. Diretrizes como uso do 4-3-3, formação de atletas velozes e de bom passe e dedicados aos estudos forjaram nomes como Courtois, Hazard e Kompany.

Seleções de outros continentes se viram à sua maneira. A Argentina ainda colhe frutos do projeto elaborado em 1994 por José Pekerman, que fez o país dominar as competições sub-17 e sub-20 por uma década e levou Messi à Albiceleste. O mesmo Pekerman integrou o trabalho em todas as divisões da seleção colombiana. Processo que facilitou a transição de James Rodríguez, Quintero e Guarín à equipe principal.

O trio foi revelado pelo Envigado, pequeno clube do interior colombiano que vive da formação e venda de jogadores. É o mesmo nicho do Saprissa, gigante do futebol da Costa Rica que mantém uma academia para captação, lapidação e venda de atletas. Uma máquina que formou a geração de Joel Campbell, Ureña e Bryan Ruiz. Todos semifinalistas do Mundial Sub-20 de 2009 e na seleção que derrubou três campeões mundiais no Brasil.

No sábado, os costarriquenhos enfrentam a Holanda. Com mais estrutura, a Laranja aposta também na fábrica de talentos de seus clubes. Louis Van Gaal bancou a reformulação do time vice-campeão de 2010 com jovens formados por Ajax, PSV e Feyenoord.

Brasil

A seleção brasileira nunca chegou à disputa por uma vaga na semifinal com uma campanha tão pobre. A combinação de duas vitórias e dois empates – com classificação nos pênaltis – é o reflexo de um time que regride a cada jogo. Exceto Neymar (presente em cinco dos oito gols), a dupla de zaga, Luiz Gustavo (suspenso) e Júlio César, o resto do time inspira cuidados. Daniel Alves é o ponto mais frágil da defesa, Fred tem um gol feito e um pênalti cavado, o meio-campo virou área de sobrevoo de bola esticada a partir da defesa e a cabeça e o choro dos jogadores virou quase uma questão de estado após a sofrida classificação contra o Chile.

Colômbia

Vice-campeã das Eliminatórias, a Colômbia faz a melhor campanha da sua história com o único time que não tomou susto algum no Mundial. Na primeira fase, três vitórias tranquilas. Nas oitavas, um 2 a 0 com autoridade sobre o Uruguai. James Rodríguez, com cinco gols e duas assistências, é artilheiro e craque da Copa, mas nem de longe faz da Colômbia time de um homem só. Juan Cuadrado cuida da transição defesa-ataque, Teo Gutiérrez e Jackson Martínez fecham o quadrado ofensivo e a dupla Sánchez-Aguillar dá segurança a uma defesa bem armada pelo argentino José Pekerman.

França

Há duas máximas na história francesa em Copas: 1) Quando não cai na primeira fase, o time é no mínimo semifinalista; 2) A semifinal só é alcançada se há um craque em campo. Para confirmar a primeira máxima, os Bleus deixarão para trás a segunda. A contusão de Ribéry apagou o último brilho individual da equipe. Restou uma força coletiva organizada e de grande velocidade, puxada por Matuidi, Valbuena e Pogba e multiplicada pela dupla de atacantes Benzema e Giroud. Com essa fórmula, Didier Deschamps se candidata a se juntar a Zagallo e Beckenbauer no grupo de campeões mundiais como técnico e jogador.

Alemanha

A eliminação na primeira fase da Euro-2000 deu início a um processo de reconstrução do futebol alemão que ainda busca seu ápice. A federação local elaborou um projeto de fomento à formação de jogadores. Obteve resultados extraordinários, com o surgimento de vários craques que brilharam em seus clubes, mas ainda não conquistaram um grande título. A geração que bateu na trave em duas Euros e duas Copas parece, enfim, ter atingido a maturidade, como comprova a conquista de um dos grupos mais difíceis da primeira fase e a vitória sobre a Argélia mesmo jogando mal.

Holanda

A Holanda deu as costas para seu terceiro vice-campeonato mundial. Trocou o técnico e mais de metade do time derrotado pela Espanha, em 2010, para vir ao Brasil apostando predominantemente em valores locais. A guinada para dentro de si mesmo fez bem à Oranje. Liderado por Robben, Van Persie e Snejder, o time de Louis Van Gaal atropelou a campeã Espanha e teve fôlego e sangue frio para bater Chile, Austrália e México (os dois últimos de virada). Construiu, assim, uma das três campanhas 100% do torneio.

Costa Rica

A maior zebra da Copa de 2014 busca quebrar um jejum de 84 anos para as seleções da Concacaf. Desde o primeiro Mundial a região não põe um time nas semifinais. Naquela edição, desfalcada da maioria das potências europeias, os EUA foram batidos pela Argentina, que seria vice-campeã. Aproximar-se deste feito não tem sido fácil para os Ticos. A Costa Rica saiu em primeiro de um grupo com três campeões mundiais e foi aos pênaltis com a Grécia. Da força coletiva montada por Jorge Luís Pinto, destaque para Bryan Ruiz, Joel Campbell e Keylor Navas, todos com carreira na Europa que dará novo salto após a Copa.

Argentina

Vinte e oito anos depois, a Argentina volta a viver um Mundial em que um time com problemas é carregado por um gênio. Em 1986, Maradona conduziu o país ao bicampeonato. Este ano, é Lionel Messi quem trilha esse caminho. O craque do Barcelona fez quatro dos seis gols da Albiceleste na Copa. Mesmo quando não marcou, foi decisivo, como no passe para Di María decidir contra os suíços. A grande dúvida segue sendo a defesa. O setor levou três gols, mas ainda causa calafrios pensar na sua performance contra um ataque mais poderoso, como o belga.

Bélgica

A mais badalada seleção não campeã da Copa chega às quartas de final ainda sem mostrar todo o seu potencial. O 2 a 0 sobre os Estados Unidos, é verdade, foram condizentes com o status da nova geração belga, mas a primeira fase deixou diversas dúvidas. Não na defesa, verdadeiramente capaz de segurar Messi – tanto pela linha em si como pelo goleiro Courtois. Mas pelo ataque. Lukaku teve a única apresentação relevante do setor na meia hora de prorrogação contra os americanos. Hazard, De Bruyne e Mirallas seguem tendo como grande cartão de visitas internacional o futebol jogado em seus clubes, não neste Mundial.

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