Artigo publicado nesta quarta-feira (11) em um dos mais conceituados periódicos científicos do mundo, o British Medical Journal, critica a influência que a indústria do álcool está exercendo sobre o Brasil durante a Copa do Mundo.
Uma das críticas é a brecha aberta pela Lei Geral da Copa, que liberou em caráter excepcional a venda de bebida alcoólica nos estádios.
O artigo cita a preocupação de profissionais de saúde de que, após o torneio, o álcool volte a ser vendido nos estádios de forma permanente.
Segundo José Antônio Baeta, procurador de Justiça em MG, houve queda da violência desde que a bebida foi vetada nos estádios brasileiros. No Mineirão, por exemplo, o número de ocorrências policiais diminuiu 75%.
"A saúde pública pode ser uma das maiores perdedoras na Copa do Mundo", diz o artigo do BMJ, citando um estudo recente que mostrou que houve um aumento de 37,5% nos atendimentos de emergência ("muitos associados ao uso de álcool") nos dias dos jogos da Inglaterra na Copa de 2010, na África do Sul.
O médico Clifford Mann, presidente do Colégio de Medicina de Emergência da Inglaterra e um dos colaboradores do artigo no BMJ, afirma que o relaxamento das leis antiálcool durante a Copa estabelece um precedente indesejável. "As consequências do abuso de álcool são vistos diariamente nos serviços de emergência." "Deveria ser vetada a venda da ideia de que eventos esportivos são melhores apreciados com álcool", afirma.
Por nota, o Ministério dos Esportes disse que "a comercialização [de bebidas alcoólicas] dentro dos estádios não representa riscos".
Sobre a regulamentação da venda de bebida dentro dos estádios após o torneio, disse que "ainda não há definição sobre o tema".
Incentivos Fiscais O artigo do BMJ também critica os incentivos fiscais dados pelo Brasil aos parceiros comerciais da Fifa e o fato de o governo ter adiado, sob pressão da indústria, os planos de aumentar os impostos sobre a cerveja e outras bebidas.
O artigo também descreve como o governo britânico foi forçado pela indústria de bebidas a mudar suas leis e permitir que os bares fiquem abertos por mais tempo durante os jogos da Copa. "O que está claro é que o esporte -especialmente o futebol- é vital para a saúde da indústria de bebidas", conclui o artigo.
Outro lado
Procurado, o departamento de imprensa da Fifa afirmou, por meio de uma nota, diz que as parcerias e os patrocínios recebidos pela entidade são vitais para a realização da Copa do Mundo, além do desenvolvimento de projetos (incluindo a área da saúde) em diversos países.
A Budweiser e a AB InBev, diz a nota, "têm um compromisso de longa data na promoção do consumo responsável de bebida no mundo, e fará o mesmo na Copa do Mundo da Fifa deste ano, garantindo que os fãs tenham uma ótima experiência enquanto desfrutam a cerveja de maneira responsável", diz a nota da Fifa em inglês.
Também procurada, a Ambev afirmou que o artigo do BMJ traz informações incorretas sobre a empresa e que não foi procurada pelo periódico antes da publicação do texto. Uma das informações incorretas, diz nota da empresa, é afirmar que a Ambev fez uso de algum incentivo fiscal ligado ao Mundial.
A empresa também refuta a afirmação de que o adiamento do aumento de impostos para o setor serve como medida do lobby da indústria de bebidas. "Afirmar que o recente adiamento do reajuste de impostos anunciado pelo governo brasileiro seria uma prova da força da indústria de bebidas é uma avaliação rasa e descolada do contexto do país. Esse seria o sétimo aumento de impostos sobre o setor nos últimos dois anos", diz a nota.
Ainda na nota, a Ambev faz a diferenciação entre o simples consumo de bebida e um consumo dito responsável.
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