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O itinerário rumo à Avenida Batel foi o único  no qual a reportagem não encontrou policiais | Antonio More/Gazeta do Povo
O itinerário rumo à Avenida Batel foi o único no qual a reportagem não encontrou policiais| Foto: Antonio More/Gazeta do Povo

Sensação

Polícia na rua deixa cidadão mais tranquilo

A segurança tão sonhada pela população não diz respeito apenas à proteção contra crimes. Para o psicólogo e psiquiatra forense Rui Sampaio, a presença policial nas ruas gera também um sentimento, que torna a rotina do cidadão mais tranquila. "Saber da existência da presença policial ajuda as pessoas a desenvolverem qualquer tipo de atividade. Elas se sentem valorizadas e protegidas pelo estado", explica.

De acordo com ele, os policiais nas ruas também geram a consequência óbvia da função: a inibição dos criminosos. "Os indivíduos que planejam qualquer tipo de ilícito ficam retraídos. Eles pensam mil vezes antes de fazer algo".

Para a psicóloga especialista em trânsito, Iara Thielen, o efeito da fiscalização no comportamento das pessoas é evidente. "Se há um policial na esquina, mais pessoas respeitam a sinalização de trânsito. Isso a gente vê na prática e nas pesquisas", diz. Segundo a especialista, o mesmo efeito ocorre com os crimes. "Colocar policiais nas ruas é uma forma de coibir até mesmo pequenos furtos. As pessoas tomam mais cuidado e os abusos não são livremente cometidos."

Um visitante chega a Curitiba e vai ao estádio da Arena da Baixada, no bairro Água Verde, no fim da tarde. Em seguida, segue para uma balada na Avenida do Batel. Este provável trajeto – que deve ser feito por milhares de turistas durante a Copa do Mundo de 2014 – foi percorrido pela reportagem da Gazeta do Povo, que avaliou o policiamento em cinco itinerários partindo do estádio do Atlético Paranaense, principal ponto de saída de turistas no evento.

De todos os trajetos, apenas no que leva à Avenida do Batel nenhum policial foi encontrado. A reportagem não contabilizou as companhias fixas da Polícia Militar (PM), nas praças Afonso Botelho e Osvaldo Cruz, embora a presença delas seja considerada fundamental e estratégica para a segurança da população local e flutuante.

O objetivo do teste é detectar se, nestes caminhos, os turistas poderão contar com a presença policial caso necessitem de socorro. A simulação, sugerida pelo pesquisador da Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo (FIA/USP) e Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ramiro Gonçalez, rendeu um resultado positivo. Apesar de viver uma reformulação e reestruturação com novas contratações em razão da falta de efetivo, a PM tem estado presente, pelo menos nos locais que podem receber grande número de turistas na cidade.

A reportagem saiu às ruas entre os dias 17 e 21 de setembro. Os dias e os horários foram sorteados aleatoriamente. Os destinos foram Praça Tiradentes, Rodoferroviária, Avenida do Batel, Aeroporto Afonso Pena e o bairro Santa Felicidade. Esses locais, de acordo com Gonçalez, podem receber turistas o ano todo e devem ser os pontos de maior recepção durante a Copa.

"O policiamento ostensivo é preventivo. É muito importante mostrar que há autoridade pública nesses caminhos: isso inibe o criminoso e deixa o cidadão tranquilo", diz Gonçalez, que assinala que o policiamento aumenta a sensação de segurança para o turista poder usufruir da cidade.

O pesquisador, que desde o anúncio da vinda da Copa do Mundo para o Brasil percorre informalmente os caminhos aqui avaliados, disse ter a impressão de uma melhora na segurança neste ano. "Em 2010 o policiamento parecia pior nesses trajetos, de acordo com miha experiência", disse ele.

Teste de gestão

Na avaliação de Gonçalez, o policiamento precisa ser intensivo antes, durante e depois do acontecimento. "A Copa do Mundo não é apenas um evento no qual tudo se esgota quando se encerra. Ele simula e revela a capacidade de gestão das autoridades: se é possível aquele tipo de policiamento na época do evento, fica claro que isso pode ser feito sempre", diz ele, que avalia o período como uma grande oportunidade de se trazer à tona as deficiências de gestão e as possíveis soluções para elas.

Para o coordenador do Centro de Estudos da Violência da UFPR, o sociólogo Pedro Bodê, o policiamento ostensivo deve ser permanente. "Será necessário aumentar o efetivo e melhorar a logística", diz. A PM foi procurada para comentar o resultado do teste, mas a assessoria de imprensa não retornou o pedido.

Módulo sem guardas

A falta de policiamento na região da Praça Miguel Couto, a pracinha do Batel, poderia ter sido resolvida caso a prefeitura mantivesse o investimento que fez na criação do módulo da guarda municipal no local. Apesar da estrutura montada, não há policiais. "Não tem policiamento aqui e é difícil passar. A região tem muito comerciante e um módulo sem guardas", conta a proprietária da banca na pracinha, Rose Mendonça, 53 anos.

O taxista Márcio Bizinelli diz ver quase sempre policiais circulando pela região, mas que poderia haver ali mais efetivo.

A prefeitura de Curitiba explicou que o módulo foi desativado em razão da preocupação de se expandir o patrulhamento da guarda. Segundo o município, a guarda continua fazendo rondas na região, com apoio da Polícia Militar e Civil. Por enquanto, o módulo permanecerá inativo no local.

Policiais

Os cabos do Batalhão de Polícia de Trânsito, Sérgio Luiz Morais e Marcos de Mello Coradin, foram dois dos policiais encontrados durante o teste nos cinco trajetos feito pela reportagem. Eles contaram que são muito procurados pela população nas ruas. "Somos muitas vezes solicitados para informações, mas casos de furtos e roubos também são constantes", relata Coradin.

Os dois estavam fiscalizando o trânsito na Avenida das Torres, quando a reportagem se dirigia ao aeroporto Afonso Pena. "Ao ver o policial, a população se sente mais segura, sabendo também que pode ser socorrida mais rapidamente", conta Morais.

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