![Caminhos seguros O itinerário rumo à Avenida Batel foi o único no qual a reportagem não encontrou policiais | Antonio More/Gazeta do Povo](https://media.gazetadopovo.com.br/2011/10/4143fce84bdd801b8122ef7aa5e737e1-gpLarge.jpg)
Sensação
Polícia na rua deixa cidadão mais tranquilo
A segurança tão sonhada pela população não diz respeito apenas à proteção contra crimes. Para o psicólogo e psiquiatra forense Rui Sampaio, a presença policial nas ruas gera também um sentimento, que torna a rotina do cidadão mais tranquila. "Saber da existência da presença policial ajuda as pessoas a desenvolverem qualquer tipo de atividade. Elas se sentem valorizadas e protegidas pelo estado", explica.
De acordo com ele, os policiais nas ruas também geram a consequência óbvia da função: a inibição dos criminosos. "Os indivíduos que planejam qualquer tipo de ilícito ficam retraídos. Eles pensam mil vezes antes de fazer algo".
Para a psicóloga especialista em trânsito, Iara Thielen, o efeito da fiscalização no comportamento das pessoas é evidente. "Se há um policial na esquina, mais pessoas respeitam a sinalização de trânsito. Isso a gente vê na prática e nas pesquisas", diz. Segundo a especialista, o mesmo efeito ocorre com os crimes. "Colocar policiais nas ruas é uma forma de coibir até mesmo pequenos furtos. As pessoas tomam mais cuidado e os abusos não são livremente cometidos."
Um visitante chega a Curitiba e vai ao estádio da Arena da Baixada, no bairro Água Verde, no fim da tarde. Em seguida, segue para uma balada na Avenida do Batel. Este provável trajeto que deve ser feito por milhares de turistas durante a Copa do Mundo de 2014 foi percorrido pela reportagem da Gazeta do Povo, que avaliou o policiamento em cinco itinerários partindo do estádio do Atlético Paranaense, principal ponto de saída de turistas no evento.
De todos os trajetos, apenas no que leva à Avenida do Batel nenhum policial foi encontrado. A reportagem não contabilizou as companhias fixas da Polícia Militar (PM), nas praças Afonso Botelho e Osvaldo Cruz, embora a presença delas seja considerada fundamental e estratégica para a segurança da população local e flutuante.
O objetivo do teste é detectar se, nestes caminhos, os turistas poderão contar com a presença policial caso necessitem de socorro. A simulação, sugerida pelo pesquisador da Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo (FIA/USP) e Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ramiro Gonçalez, rendeu um resultado positivo. Apesar de viver uma reformulação e reestruturação com novas contratações em razão da falta de efetivo, a PM tem estado presente, pelo menos nos locais que podem receber grande número de turistas na cidade.
A reportagem saiu às ruas entre os dias 17 e 21 de setembro. Os dias e os horários foram sorteados aleatoriamente. Os destinos foram Praça Tiradentes, Rodoferroviária, Avenida do Batel, Aeroporto Afonso Pena e o bairro Santa Felicidade. Esses locais, de acordo com Gonçalez, podem receber turistas o ano todo e devem ser os pontos de maior recepção durante a Copa.
"O policiamento ostensivo é preventivo. É muito importante mostrar que há autoridade pública nesses caminhos: isso inibe o criminoso e deixa o cidadão tranquilo", diz Gonçalez, que assinala que o policiamento aumenta a sensação de segurança para o turista poder usufruir da cidade.
O pesquisador, que desde o anúncio da vinda da Copa do Mundo para o Brasil percorre informalmente os caminhos aqui avaliados, disse ter a impressão de uma melhora na segurança neste ano. "Em 2010 o policiamento parecia pior nesses trajetos, de acordo com miha experiência", disse ele.
Teste de gestão
Na avaliação de Gonçalez, o policiamento precisa ser intensivo antes, durante e depois do acontecimento. "A Copa do Mundo não é apenas um evento no qual tudo se esgota quando se encerra. Ele simula e revela a capacidade de gestão das autoridades: se é possível aquele tipo de policiamento na época do evento, fica claro que isso pode ser feito sempre", diz ele, que avalia o período como uma grande oportunidade de se trazer à tona as deficiências de gestão e as possíveis soluções para elas.
Para o coordenador do Centro de Estudos da Violência da UFPR, o sociólogo Pedro Bodê, o policiamento ostensivo deve ser permanente. "Será necessário aumentar o efetivo e melhorar a logística", diz. A PM foi procurada para comentar o resultado do teste, mas a assessoria de imprensa não retornou o pedido.
Módulo sem guardas
A falta de policiamento na região da Praça Miguel Couto, a pracinha do Batel, poderia ter sido resolvida caso a prefeitura mantivesse o investimento que fez na criação do módulo da guarda municipal no local. Apesar da estrutura montada, não há policiais. "Não tem policiamento aqui e é difícil passar. A região tem muito comerciante e um módulo sem guardas", conta a proprietária da banca na pracinha, Rose Mendonça, 53 anos.
O taxista Márcio Bizinelli diz ver quase sempre policiais circulando pela região, mas que poderia haver ali mais efetivo.
A prefeitura de Curitiba explicou que o módulo foi desativado em razão da preocupação de se expandir o patrulhamento da guarda. Segundo o município, a guarda continua fazendo rondas na região, com apoio da Polícia Militar e Civil. Por enquanto, o módulo permanecerá inativo no local.
Policiais
Os cabos do Batalhão de Polícia de Trânsito, Sérgio Luiz Morais e Marcos de Mello Coradin, foram dois dos policiais encontrados durante o teste nos cinco trajetos feito pela reportagem. Eles contaram que são muito procurados pela população nas ruas. "Somos muitas vezes solicitados para informações, mas casos de furtos e roubos também são constantes", relata Coradin.
Os dois estavam fiscalizando o trânsito na Avenida das Torres, quando a reportagem se dirigia ao aeroporto Afonso Pena. "Ao ver o policial, a população se sente mais segura, sabendo também que pode ser socorrida mais rapidamente", conta Morais.
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